O uso das redes sociais muitas vezes pode ser uma forma eficiente de apresentar uma notícia em primeira mão. E com a invasão russa na Ucrânia não tem sido diferente: a população ucraniana tem utilizado plataformas como Twitter, Facebook e TikTok para apresentar ao mundo o que vem acontecendo em seu país.
Diante de tanta notícia enganosa e desinformação com o propósito de desacreditar ou prejudicar as nações envolvidas, a pesquisadora Shelby Grossman tem monitorado várias notícias sobre o conflito e faz um alerta: “Estamos presenciando a disseminação não intencional de notícias falsas junto a operações de influência desconhecidas em torno do conflito presente na Ucrânia”.
Ela coordena um grupo de pesquisa que tem monitorando de perto as narrativas que estão emergindo do conflito Rússia vs Ucrânia. A pesquisadora levanta em seu estudo alguns padrões sobre a desinformação que têm sido utilizados nesta crise e aponta quais informações falsas estão sendo usadas para prejudicar a Ucrânia. Ela indica ainda como eles podem ser identificados e quais medidas tomar para não cair na armadilha de conteúdos enganosos.
1. Contas hackeadas
Contas hackeadas no Facebook por um grupo bielorusso têm sido utilizadas para dizer que soldados ucranianos estavam se rendendo. A pesquisadora explica que o que leva hackers a invadir uma conta é justamente a possibilidade de ter uma audiência orgânica e o seu fácil compartilhamento, já que numa conta nova seria preciso construir essa audiência.
Como identificar?
Algumas vezes o nome da conta é alterado, mas o nome do usuário não (@nome). “Busque analisar por dez segundos o conteúdo daquele perfil e você poderá encontrar algo de estranho acontecendo.” aconselha Grossman. Contudo, há hackers que podem operar muito bem os conteúdos no perfil hackeado.
2. Alegações inventadas e falsos sinais
Notícias como a de que o governo ucraniano teria causado explosão na região do Donbas e matado seus próprios cidadãos é algo que tem sido analisado e apontado como falsas alegações neste conflito. Felizmente, muitas dessas alegações e sinais que são levantadas para parecer que foram criadas para prejudicar o outro lado estão sendo examinadas de perto por experts que lidam com a desinformação e tais alegações são chamadas de falsas antes da oportunidade de serem disseminadas, revela Grossman.
Como identificar?
Cheque a fonte da alegação. Frequentemente, mentiras são espalhadas sem qualquer fonte confiável. Busque na Internet o que as pessoas têm falado sobre o assunto. Busque fontes confiáveis para chegar a uma conclusão.
3. Notícias velhas que são circuladas fora de contexto
A circulação de vídeos e imagens fora de contexto podem colaborar para a desinformação. A doutora Shelby viu um vídeo no TikTok de um paraquedista que grava a si mesmo pulando do avião. Embora alguns comentários alegam ser de um soldado russo invadindo a Ucrânia, o vídeo retrata um acontecimento ocorrido em 2015.
Como identificar?
Se você receber algo suspeito ou polêmico, busque fazer uma pesquisa reversa de imagem, que funciona bem tanto para imagens quanto para vídeos. Basta fazer um screenshot da imagem ou vídeo e subir na barra de pesquisas do Google Images e os resultados indicarão a fonte do conteúdo.
4. Divulgação de imagens manipuladas
Imagens de pessoas públicas têm sido roubadas e manipuladas apenas mudando a orientação original, coloração ou imagem de fundo.
Como identificar?
Pesquisa reversa de imagens tem sido uma boa alternativa para identificar imagens manipuladas. Grossman fala que iniciativas e pessoas pró-Kremlin têm usado a Inteligência Artificial para criar imagens manipuladas e que muitas vezes é difícil identificar a sua inautenticidade, mas um detalhe ou outro como diferentes brincos em uma orelha ou até uma camisa que não parece estar completamente ajustada ao corpo pode ser indícios de manipulação.
5. Compartilhamento de conteúdos não verificados
Compartilhar ou postar conteúdos sem a devida verificação é muito comum. Até jornalistas cometem o erro de postar sem verificar as fontes.
Como identificar?
Mantenha uma postura cética e desconfie da fonte que não tenha qualquer suporte oficial, mesmo que seja alguém da sua confiança como um parente. Procure por reportagens publicadas em noticiários de boa reputação.
6. Fraudes
Cuidado com as fraudes! Uma conta no Twitter representando o governo ucraniano tem solicitado doações em criptomoedas. Alguns perfis verificados nesta plataforma (com marca azul) têm sido hackeados e transformados para parecerem oficiais. Entretanto, o valor das doações estava sendo depositado na conta de um golpista.
Como identificar?
Antes de doar – principalmente criptomoedas – pesquise na Internet a existência desses fundos.
7. Narrativas Pró-Kremlin
Algumas narrativas em favor do Kremlin foram identificadas, como a história de que o Ocidente estaria causando histeria ao propagar um ataque iminente russo a outros países e que este pânico estaria beneficiando politicamente o presidente Biden (EUA).
Como identificar?
Para saber se o conteúdo é pró-Kremlin, basta acompanhar o que tem sido veiculado nas mídias estatais russas. Algumas plataformas como Facebook e Twitter têm identificado o que é conteúdo oficial. Contudo, nem todas as plataformas é possível saber a fonte, como o TikTok.
Quem é Shelby Grossman
Doutora pela Universidade de Harvard (2016) e pós-doutora em Democracia, Desenvolvimento e Estado de Direito pela Universidade de Stanford (2017), Shelby Grossman é pesquisadora no projeto Observatório da Internet de Standford e co-editora no Jornal sobre Confiança e Segurança Online. Seus estudos estão focados na investigação sobre desinformação política, economia política do desenvolvimento e África.
Grossman é autora do livro A ênfase política nos mercados informais: como o Estado molda governanças privadas (2021) (tradução livre) e co-autora do livro O Pavio Longo: A desinformação e as eleições de 2020 (2021) (tradução livre), que busca entender os processos de desinformação nos Estados Unidos que levaram à invasão do Capitólio e ao seu recente processo eleitoral.
#conteúdo produzido pelo pesquisador Ricardo Ruiz