Com a chegada das redes sociais, pesquisadores buscaram na sociedade termos para explicar as diferentes dinâmicas que acontecem no digital. Os termos câmaras de eco, filtro bolhas e polarização servem para descrever esse contexto onde o consumo de mídia foi altamente afetado e onde várias formas de polarização política apareceram, gerando desconfiança na mídia e trazendo riscos para a democracia. Pesquisadores do Instituto Reuters da Universidade de Oxford mapearam estudos nos últimos anos sobre esses fenômenos para entender a relação entre eles.
Primeiro é preciso entender o que eles significam. A câmara de eco é um termo cunhado a partir de uma analogia aos sons que reverberam em um invólucro oco, como os sinos, e servem para descrever um espaço de mídia vinculado e fechado que tem o potencial de ampliar as mensagens entregues ali e isolá-las da mensagens que as contradizem. Muitas vezes esse termo é confundido com os filtros bolha, que se referem à personalização de resultados de motores de busca, como o Google, e feeds de redes sociais, que estão criando um universo único de informação para cada um de nós baseado em nossos gostos. O termo foi cunhado pelo ativista e empresário Eli Pariser, que percebeu a influência dessas ferramentas em nossa sociedade.
A diferença entre os termos está na forma como as pessoas entram nessas bolhas. Enquanto os filtros bolha influenciam as escolhas das pessoas passivamente, as câmaras de eco ocorrem quando as pessoas decidem consumir e interagir com informações alinhadas aos próprios interesses. A polarização, portanto, pode ser um resultado desses dois fatores, diminuindo a compreensão mútua e, em última análise, levando a uma situação em que as pessoas estão mais distantes das que não têm um terreno comum. O estudo identificou três tipos de polarização que foram discutidas por pesquisadores: ideológica, afetiva e de audiência de notícias.
A polarização ideológica tem sido estudada por um longo tempo e concentra-se em dividir a opinião pública em visões opostas em uma série de questões políticas. Segundo os pesquisadores, apesar de não ser uma tendência confirmada, há fortes indícios que têm se reduzido em alguns países. Já a polarização afetiva refere-se a quanto partidários opostos se odeiam e tem crescido mundialmente. Porém, pouco se sabe sobre esse fenômeno fora dos Estados Unidos, onde grande parte dos estudos sobre o tópico é realizado.
A polarização da audiência de notícias está ligada à estrutura de atenção pública agregada à mídia noticiosa. Refere-se a países que são lares de veículos com grande audiência fortemente ligada à esquerda ou à direita, em oposição a veículos com audiências principalmente mistas ou centristas. Essa polarização tende a criar mídias partidárias que podem fortalecer a visão de indivíduos altamente partidarizados.
E como esses três termos se relacionam? Apesar de estudos indicarem que o acaso automatizado e exposição acidental das redes sociais e motores expõem pessoas a uma diversidade de notícias, a seleção individual, juntamente com interesses partidários, tem papel fundamental no consumo de mídia. Países como o Reino Unido, que têm um serviço público de mídia forte como a BBC, tendem a sofrer menos os efeitos da polarização, enquanto países que não possuem mídias mistas tendem a ter uma maior polarização.
Apesar de a polarização ser grande em ambientes virtuais, isso não é verdade para todos países. O estudo reforça a necessidade de acadêmicos explorarem esses temas para além dos Estados Unidos. Leia o estudo completo no site do Instituto Reuters.