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Busca do Google com IA: testamos a funcionalidade

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No último dia 14, durante um evento com as novidades da temporada, o Google anunciou a expansão dos “Resumos Gerados por IA” (AI Overview, em inglês) nos resultados de busca nos Estados Unidos. Desde então, os usuários do país começaram a ter disponíveis nos seus navegadores a funcionalidade que gera respostas resumidas e criadas pelo Gemini, Inteligência Artificial generativa da empresa, para diversos tipos de pesquisa, desde as mais informativas até a procura de serviços.

As respostas criadas com IA são exibidas no topo da página de resultados da busca do Google, acima dos já conhecidos links azuis com as recomendações de sites. Com a funcionalidade, a empresa promete respostas rápidas sem que o usuário precise juntar informações fragmentadas em diversos locais. “Descobrimos que com os Resumos de IA, as pessoas usam mais a Busca e ficam mais satisfeitas com os resultados”, escreveu Liz Reid, chefe do Google Search, no blog da bigtech.

Porém, do lado de quem usa e pesquisa, a novidade vem causando furor por razões bem menos positivas. Alguns pesquisadores e jornalistas, por exemplo, já receiam que os resultados com IA mudem a forma como pesquisamos na Internet, com possíveis impactos negativos no tráfego de sites de notícias, que já sofrem com as dinâmicas impostas pelas plataformas de redes sociais.

Nas últimas semanas, usuários norte-americanos publicaram em suas redes sociais exemplos de respostas erradas dadas pela IA do Google para perguntas bastante simples. Em um dos casos que ganhou mais repercussão, ao ser questionada como deixar o queijo mais colado na pizza, a ferramenta sugeriu que fosse adicionado cola ao molho do alimento. Sugestões que impactam a saúde e o bem estar das pessoas também foram dadas pela funcionalidade.

Nesta semana, testamos uma versão limitada dos resumos de pesquisa gerados com IA, disponível no Brasil apenas para usuários selecionados pelo Search Labs, programa da empresa que disponibiliza funcionalidades experimentais para que as pessoas as testem. Abaixo, contamos mais detalhes sobre essa funcionalidade, além das polêmicas em volta dela, como as respostas erradas e os impactos no tráfego de sites jornalísticos. 

Testando os resultados de busca com IA do Google

Uma versão reduzida dos resultados gerados com IA, no Brasil, ainda está limitada aos usuários inscritos no programa Search Labs, que disponibiliza funcionalidades experimentais para que os usuários selecionados os testem. De acordo com a empresa, os recursos da tecnologia experimental “Resumos gerados com IA” do Labs, quando ativadas, podem aparecer na página de resultados da pesquisa no app do Google, em alguns navegadores para dispositivos móveis e para computadores.

Por meio da versão do Search Labs, foi possível testar os resultados dos resumos feitos com IA. De início, nem todo tipo de busca acionou o mecanismo. Nos testes, pesquisas como “O que é PL2630” e “O que é desinformação” geraram resultados no formato tradicional com os links azuis.

Os resumos de IA foram acionados com as palavras-chave “Qual o efeito da desinformação climática” e “Como as mudanças climáticas podem afetar a biodiversidade”. Em ambos os casos, o resumo gerado com IA trouxe pontos resumidos em texto sobre as informações solicitadas, sem erros ou informações estranhas que pudessem indicar alguma alucinação de IA. O resumo também contou com um carrossel de links reduzidos.

Além do formato textual, foi possível ouvir o resumo gerado. O texto também vem sinalizado, avisando ao leitor que aquele conteúdo foi feito com IA e que a funcionalidade é “experimental”.

Cola na Pizza: as recomendações erradas (e estranhas) da busca com IA

Com a funcionalidade disponibilizada de maneira mais ampla, usuários norte-americanos começaram a postar nas redes sociais respostas inusitadas (e inverídicas) dadas pelos resumos da IA do Google. A funcionalidade chegou a sugerir a um usuário que colocasse cola na pizza depois de uma pesquisa sobre como deixar o queijo grudado na comida. “Misture 1/8 de xícara de cola com o molho. Cola não-tóxica irá funcionar”, trouxe o resumo feito com IA.

Veículos do país apontaram que a resposta estranha pode ter tido base num comentário feito há onze anos por um adolescente no Reddit, que traz informações semelhantes. A repórter do The Verge, Mia Sato, evidenciou que respostas tiradas do fórum da Internet, publicadas originalmente com objetivos humorísticos, estão sendo utilizadas como referências sérias pela IA do Google.

Sato pontuou que não há transparência na forma como o sistema escolhe o que vai selecionar e dar destaque no resumo. “As respostas com IA deveriam incluir material aleatório de comentários do Reddit?”, questionou a jornalista.

Em outro caso, quando questionada por quanto tempo é possível olhar para o sol, a funcionalidade afirmou que era possível encarar a estrela por 5 a 15 minutos, 30 minutos se a pessoa tiver um tom de pele “mais escuro”. Olhar diretamente para o sol, sem o uso de equipamentos adequados, pode causar danos à retina. Informações erradas mais simples, como a afirmação de que um cachorro jogou na liga norte-americana de basquete, também foram identificadas.

“Está claro que essas ferramentas não estão prontas para fornecer informações com precisão e em grande escala”, afirmou a jornalista Kylie Robinson. “Provavelmente veremos alguém colocando cola na pizza em breve, porque essa é a natureza da internet.”

Em resposta, o Google está correndo para desativar manualmente as visões gerais de IA para pesquisas específicas à medida que vários memes estão sendo postados, noticiou o The Verge. A porta-voz da empresa, Meghann Farnsworth, também disse que os erros vieram de “consultas geralmente muito incomuns e não representam as experiências da maioria das pessoas” e que a bigtech está usando os “exemplos isolados” para aperfeiçoar o produto.

Buscas com IA preocupam editores de notícias

Outro ponto levantado com a novidade do Google é o impacto que ela traz para a forma como buscamos e consumimos informações na Internet. Vale lembrar que os sites de busca são utilizados por 92% dos brasileiros, sendo a segunda principal forma de procurar informações no país, perdendo apenas para as redes sociais (94%), de acordo com a pesquisa “Desigualdades Informativas”, produzida pelo Aláfia Lab e publicada em 2023.

Diogo Cortiz, professor da PUC São Paulo, afirmou que, apesar da experiência de busca ser conveniente, ela mudará o paradigma da web como a conhecemos, incluindo questões relacionadas a otimização, links patrocinados e tráfego de sites. De acordo com o pesquisador, a principal preocupação é que os resultados feitos com IA possam aumentar ainda mais a concentração de informações pelas plataformas.

“Se a galera recebe a resposta que precisa direto do buscador, qual o motivo de acessar os sites que criaram o conteúdo original para a resposta? Na maioria das vezes, a resposta resumida já resolve o que a pessoa precisa”, afirmou Cortiz, em seu perfil no X. “Vamos ter que pensar, repensar e propor novas formas de interação e compensação financeira para quem tem seus conteúdos usados por terceiros  de uma maneira comercial.”

Representantes dos veículos jornalísticos estão com receio dessa prática, focada na experiência do usuário, diminuir ainda mais o tráfego para os sites, que já vem caindo nos últimos anos. “O pouco tráfego que recebemos hoje diminuirá ainda mais, e com um mecanismo de busca dominante que está consolidando seu poder de mercado, mais uma vez temos que aderir aos seus termos. Desta vez com um produto que compete diretamente com o nosso conteúdo, usando o nosso conteúdo para alimentá-lo”, disse Danielle Coffey, executiva-chefe da News/Media Alliance.

O Google, por sua vez, afirma que os links incluídos nos resumos de IA recebem mais cliques do que se a página tivesse aparecido como uma listagem tradicional. “À medida que expandimos essa experiência, continuaremos a nos concentrar em enviar tráfego valioso para editores e criadores. Como sempre, os anúncios continuarão a aparecer em espaços dedicados ao longo da página, com rótulos claros para distinguir entre resultados orgânicos e patrocinados”, afirmou Liz Reid, chefe do Google Search.

Anúncios nos resultados com IA

Uma semana após anunciar a expansão dos resumos de IA, o Google afirmou que começará a testar a inclusão de links patrocinados dentro dos resultados gerados com a tecnologia. No exemplo compartilhado pela empresa, uma nova seção abaixo do resumo, chamado de “Patrocinado”, aparece com um carrossel mostrando links de produtos relacionados à busca.

O Google afirma que exibirá anúncios nas visões gerais de IA quando “eles forem relevantes tanto para a consulta quanto para as informações na visão geral de IA”. Os anunciantes que já veiculam determinadas campanhas por meio do Google se tornarão automaticamente qualificados para aparecer nas visões gerais de IA.

De acordo com a bigtech, a expansão dos resumos com IA chegará em breve a mais países além dos Estados Unidos, sem mais detalhes sobre datas e regiões que receberão com prioridade a nova funcionalidade. 

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