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@thiagoilustrado

Ataques contra jornalistas aumentam e alvo preferencial são as mulheres

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Os grupos minorizados são alvos muito mais frequentes de estratégias desinformativas, muitas vezes utilizadas conjuntamente com discursos de ódio. Recentemente, uma pesquisa conduzida pelos Repórteres Sem Fronteiras e pelo Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) demonstrou que mulheres jornalistas foram 13 vezes mais mencionadas do que seus colegas homens em tweets que continham hashtags contra a imprensa.

Já a pesquisa  “Como operações de influência entre plataformas são usadas para atacar jornalistas e enfraquecer democracias?” (2022) mostrou que dos cinco jornalistas mais associados aos ataques online, quatro são mulheres, incluindo a jornalista mais atacada. Os ataques às mulheres giravam em torno de 15% das menções a elas, mas caiam quase pela metade (8%) quando se tratava dos colegas do sexo masculino. Além disso, segundo este relatório, os ataques a jornalistas vêm de usuários que estão em diferentes espectros políticos, o que mostra o quão alastrados estão na sociedade.

O estudo identificou ainda diferenças em relação ao vocabulário e à argumentação usada nessas postagens. “Os ataques direcionados a mulheres levam em consideração seus corpos e intelectualidade, e tendem a negar que mulheres são capazes de exercer sua profissão. (…) No caso de jornalistas homens, vidas pessoais são menos frequentemente o tópico dos ataques. Ao ofender um jornalista homem da Rede Globo, por exemplo, é comum que se ofenda não só o jornalista, mas também o veículo para o qual ele trabalha. Uma mulher jornalista do mesmo veículo, no entanto, é geralmente ofendida com base em aspectos pessoais, e não diretamente associada ao canal” (p.16).

Levantamento de ataques contra a imprensa brasileira realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) monitora episódios de violência de gênero contra jornalistas no país. O projeto registra agressões, ofensas, ameaças, intimidações e outras formas de ataque que envolvem identidade de gênero, sexualidade, orientação sexual, aparência e estereótipos sexistas contra comunicadores como um todo, bem como casos de agressão contra mulheres jornalistas – cis ou trans – de forma geral.

De jan.2022 a abr.2022, 29 ataques atingiram jornalistas mulheres no Brasil. Foram 7 casos de violência explícita de gênero contra 8 comunicadoras e 1 comunicador, alvo de ataques homofóbicos.

Outros dados sobre pesquisa da Abraji

Como forma de acompanhar a situação da liberdade de imprensa no Brasil, a Abraji tem monitorado os ataques sofridos por jornalistas e meios de comunicação do país. Entre jan.2022 e abr.2022, foram identificados 151 episódios de agressão física e verbal ou outras formas de cercear o trabalho jornalístico, como restrições de acesso à informação, ataques de negação de serviço na internet, doxing (exposição de dados pessoais), processos civis ou penais, assassinato, assédio sexual e uso abusivo do poder estatal. Esse cenário sofreu uma piora em relação a 2021: houve um aumento de 26,9% considerando o mesmo período do ano passado.

Em 2022, o tipo de agressão mais comum continua sendo o discurso estigmatizante – assim como foi em 2019, 2020 e 2021 –, presente em 66,9% dos alertas identificados até abril. Foi registrado um aumento de 12 casos dessa forma de violência verbal em comparação com o mesmo período do ano passado. A categoria de “agressões e ataques”, que envolve violência física, atentados e ameaças explícitas, também aumentou, apresentando um salto de 80%

Os dados do projeto também apontam para uma participação intensa de agentes públicos nos ataques. Entre o total de casos registrados, 70,2% contaram com o envolvimento de atores relacionados ao Estado e 57,6% tiveram a participação de figuras que cumprem mandatos em cargos eletivos. Esses números revelam um contexto sombrio no qual representantes dos poderes constituídos atacam um pilar essencial para a própria democracia, que é a imprensa livre.

Dos 106 ataques perpetrados por atores estatais, 70 (66%) envolveram um ou mais membros da família Bolsonaro, que compreende o presidente da República e seus filhos com mandatos eletivos. Jair Bolsonaro (PL) foi agressor em 32 casos, seguido pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com 23 ataques. Depois, há o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), com 12 casos, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), com 8. Na maioria dos casos, os principais alvos foram a imprensa brasileira de modo geral (77,1%); meios de comunicação (31,4%) como O Globo, Folha de S.Paulo, Estadão, Veja, O Antagonista e Metrópoles; além de vitimarem repórteres e comunicadores (25,7%); e editores ou diretores de empresas de mídia (1,4%)

Os dados de 2021 estão disponíveis em um relatório publicado em portuguêsinglês e espanhol. A plataforma on-line do projeto está em constante atualização e já oferece os resultados parciais de 2022.

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