Após seis meses de reviravoltas, Elon Musk concluiu na noite desta quinta-feira (27) as negociações para a compra do Twitter no valor de US$44 bilhões, tornando a rede social uma empresa privada e de capital fechado.
Já no comando das decisões, o empresário iniciou a dissolução do conselho administrativo da companhia, com a demissão de três executivos, incluindo a diretora responsável por deplataformizar Donald Trump em 2021. Especialistas temem que esforços conquistados para barrar discursos de ódio e desinformação na plataforma sejam prejudicados ou, até mesmo, descontinuados.
De acordo com o jornal The Washington Post, Musk demitiu o presidente executivo (CEO), Parag Agrawal, o diretor financeiro (CFO), Ned Segal, e a chefe de segurança, confiança e políticas, Vijaya Gadde.
Gadde era conhecida como “chefe de moderação” do Twitter e sua função incluía lidar com questões de assédio, desinformação e discurso prejudicial dentro da plataforma. Partiu dela, por exemplo, os esforços para a proibição de anúncios políticos e o banimento do ex-presidente Trump após o ataque ao Capitólio em janeiro de 2021.
Crítico das políticas de moderação de conteúdo desenvolvidas pela empresa, o bilionário já deixava claro seus planos de abrandar as regras de restrição de conteúdo desde abril, quando fez a primeira proposta ao Twitter. Em algumas ocasiões, chegou também a contestar a medida de desplataformização de Trump, chamando-a de “decisão moralmente ruim” e “tola ao extremo”.
Ainda na noite de quinta, após a mídia internacional anunciar a conclusão do contrato e as seguintes demissões, o homem mais rico do mundo compartilhou no perfil pessoal a mensagem “o pássaro está liberto”. Até o fechamento da matéria, o tweet já somava 1,6 milhões de likes e diversas respostas agradecendo Musk pelas iniciativas.
A conta na plataforma, inclusive, também foi utilizada por ele para divulgar uma carta destinada aos anunciantes do Twitter. No texto publicado no último dia 27, o empresário citou o objetivo de administrar a rede social para ser um território de livre expressão, mas determinando limites.
“O Twitter obviamente não pode se tornar um inferno livre para todos, onde qualquer coisa pode ser dita sem consequências. Além de cumprir as leis do país, nossa plataforma deve ser calorosa e acolhedora para todos, onde você pode escolher a experiência desejada de acordo com suas preferências”, escreveu na mensagem.
Ainda no primeiro semestre, os planos de Musk em modificar direcionamentos e tornar o Twitter um território de livre expressão de opinião preocuparam Michael Kleinman, diretor da Anistia Internacional no Vale do Silício e especialista em assédio no Twitter.
Em entrevista para o TWP, Kleinman afirmou que existe a possibilidade da empresa dar menos atenção aos discursos de ódio, abuso e violência – especialmente aqueles direcionados a mulheres, negros e outras comunidades minoriitárias – que ocorrem na plataforma.
A jornalista e secretária geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Renata Mielli, também evidenciou em uma série de tweets os riscos que os novos posicionamentos trazem para as iniciativas já estabelecidas. Segundo ela, “o propósito do bilionário é acabar com o pouco de conquistas que a sociedade obteve no processo recente de pressão para que as Big Techs desenvolvessem algum contrapreso”.
Além disso, funcionários da empresa estão preocupados com a possibilidade de uma demissão em massa, mesmo que isso tenha sido negado pelo próprio empresário em visita à sede da empresa nesta semana.
Como lembra David Pierce, editor do site especializado em tecnologia The Verge, o novo dono do Twitter possui uma personalidade inconstante que pode impactar na forma como ele irá administrar a plataforma.
“Musk costuma dizer coisas que não queria dizer, suas crenças variam com o tempo; as coisas podem mudar quando ele realmente for o dono da empresa, ele pode acabar nem a possuindo por muito tempo, pode simplesmente encerrar tudo por diversão”, avaliou o jornalista no início de outubro.
Ademais todos os desafios que estão à frente sobre moderação e aumento de receita, o fundador da Tesla receberá uma empresa com queda de usuários ativos. Conforme noticiou a Reuters na terça-feira (25), relatórios internos do Twitter indicam que a grande maioria dos usuários que utilizam a rede com frequência estão menos ativos, possivelmente migrando para o Instagram e TikTok.
Histórico
Em janeiro de 2022, Elon Musk iniciou a compra de ações do Twitter em parcelas quase diárias, o que o fez possuir 5% da empresa até meados de março, quando tentou integrar o conselho administrativo da plataforma.
Depois de negociações sem sucesso sobre a entrada do empresário no alto escalão da empresa, Musk e Twitter anunciaram no dia 25 de abril o início do acordo para a compra da rede social pelo bilionário no valor de US$ 44 bilhões. No período, o bilionário anunciou planos para tornar o serviço “melhor do que nunca” com novos recursos, diminuição da moderação de conteúdo e a abertura dos algoritmos para aumentar a confiança do público.
Porém, duas semanas depois, Musk pôs em questão o número de contas robôs e spam presentes na plataforma. Alegando que a empresa não forneceu os dados corretos sobre o assunto, no dia 8 de julho, o empresário anunciou a desistência da compra da rede social.
Em 12 de julho, o Twitter processou Musk numa tentativa de forçá-lo a concluir a aquisição. “Tendo montado um espetáculo público para colocar o Twitter em jogo, e tendo proposto e assinado um acordo de fusão favorável ao vendedor, Musk aparentemente acredita que ele […] é livre para mudar de ideia, jogar fora o empresa, interromper suas operações, destruir o valor do acionista e ir embora”, trouxe o processo.
Três meses depois, enquanto o processo aguardava julgamento, o empresário anuncia a retomada das negociações. No dia 4 de outubro, Musk ofereceu seguir com sua proposta de comprar o Twitter pelo preço estabelecido em abril.
Até o final desta reportagem, o Twitter não se manifestou sobre a conclusão da compra.