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abr 26, 2022 | destaques, notícias

O Twitter de Elon Musk: o que muda na plataforma?

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O empresário sul-africano, Elon Musk, fechou um acordo de US$ 44 bilhões (mais de R$ 210 bilhões) para a compra do Twitter. Essa decisão vem logo após uma semana de negociação, em que o Twitter chegou a usar a “poison pill” à oferta inicial de Musk em 14 de abril. Essa manobra disponibilizou mais ações da empresa no mercado e permitiu que investidores pudessem comprá-las, o que dificultou, mas não impediu, a tomada de controle da companhia pelo empresário. A decisão dos acionistas vai transformar o Twitter em uma empresa de capital privado e deixar o poder de decisão nas mãos de uma só pessoa: Elon Musk.

O CEO da Tesla e da SpaceX tem indicado que as plataformas devem interferir menos na moderação de conteúdo de seus usuários. Musk é mais um expoente dos fundamentalistas da liberdade de expressão e defende que é muito importante que haja uma arena inclusiva para as pessoas se expressarem. A jornalista e secretária geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Renata Mielli, lembra que para ele não deve haver qualquer moderação sobre o que se diz nas redes sociais, tese também compartilhada pelo presidente Jair Bolsonaro.  

 

A economia das plataformas é dinamizada pelo modelo de negócios que usa o discurso e a desinformação como mobilizador da atenção. Na visão da pesquisadora Joan Donovan , do centro Shorenstein da Universidade de Harvard, a plataforma se tornará ainda mais um terreno de polarização e guerras culturais, tornando o ambiente ainda mais hostil para os usuários e com muito mais potencial para disseminar desinformação. 

Os executivos já aprenderam que defender a liberdade de expressão não é uma tarefa  simples como propõe Musk. Em um mundo globalizado, o “direito” de uma pessoa se manifestar pode semear o caos ou silenciar minorias, é difícil definir liberdade de expressão de uma pessoa ou de um governo e apresentar suas nuances. A jornalista Shira Ovide, do jornal The New York Times (NYT), propõe uma reflexão para o bilionário: se o discurso viola a lei alemã ou turca, mas não a norte-americana, como fica? A professora assistente de direito da Universidade de St. John, Kate Klonick, defende que “um ambiente de fala bem regulado e previsível é o melhor para a liberdade de expressão”. 

Pesquisadores avaliam que o novo dono da plataforma deve estar considerando apenas algumas das leis internacionais em locais onde o Twitter opera. “Ele está falando da lei norte-americana quando fala da liberdade de expressão”, aponta a jornalista Kate Conger do NYT em um Twitter Spaces organizado logo após o anúncio da compra. O docente sênior da Universidade Tecnológica de Queensland, Tim Graham, lembrou que Musk, como usuário, usou seu discurso livre durante o início da pandemia do novo coronavírus e compartilhou desinformação relacionada às vacinas de Covid-19 e a contaminação de crianças pelo vírus, por exemplo.

 

Os robôs nas plataformas digitais também têm sido uma questão persistente que Elon Musk tem levantado ao longo dos anos no Twitter. A jornalista e escritora do NYT, Sheera Frenkel, recorda que Musk já mostrou preocupação pelo número alto de tuítes com golpes de Bitcoin respondendo às suas mensagens postadas na rede social. Na visão do empresário, uma das formas de combater essas campanhas coordenadas seria com medidas como a abertura do código-fonte do Twitter. Dessa forma, ao tornar os mecanismos conhecidos, os programadores poderiam explorar e contribuir com soluções para redução desses robôs.  O professor Deen Freelon, da Universidade da Carolina do Norte, lembra como a transparência pode ter um efeito contrário se não for implementada cuidadosamente.

 

A abertura de código ou transparência do algoritmo não é muito comum para as empresas de tecnologia, já que é parte do segredo de negócio delas. O bilionário é famoso por entrar em negócios para ganhar dinheiro, o que fica mais improvável de ver a medida adotada. O Twitter é globalmente influente, mas tem cerca de um décimo dos usuários do Facebook e obtém muito menos receitas anuais do que outras plataformas. Joshua Tucker, professor da Universidade de Nova Iorque, lembra o quão imprevisível Musk pode ser. “Ele pode comprar o Twitter, perceber que sua visão é irrealista e vendê-lo (ou simplesmente deixar de se importar com ele)”, analisa.

Para a diretora do Shorenstein, é “uma forma interessante de fazer política por outros meios”. A jornalista Ovide destaca que a situação lembra a Era Dourada quando “os barões dos jornais do século XIX, como William Randolph Hearst, Joseph Pulitzer e o fictício Charles Foster Kane usavam seus jornais para perseguir suas agendas pessoais, fazer sensacionalismo e assediar seus inimigos”.

Regular ou não regular

Por outro lado, a plataforma deve seguir regulações locais. A União Europeia já sinalizou que a compra não muda nada em relação ao projeto de lei em aprovação no continente, o Digital Services Act (DSA) . Renata Mielli defende que ao “aprovarmos uma lei no Brasil, Musk será obrigado a cumprir as regras estabelecidas se quiser manter sua atividade no país”, o que, para ela, torna ainda mais importante o PL 2630, também conhecido como Lei das Fake News.

Também é esperado que o empresário sul-africano impulsione uma maior integração com criptomoedas e inteligência artificial. Segundo Joan Donovan, isso pode transformar a plataforma potencialmente em um mercado financeiro não regulamentado. Apesar de muitos pesquisadores indicarem que Musk é imprevisível, o consenso é que a plataforma vai mudar. “O Twitter que conhecemos deixará de existir”, defende Donovan. A criação de conteúdo divisório, o medo de ser moderado e o desejo de manter a arrecadação de fundos estão muito interligados, o que mudará a reputação e valor do produto.

 

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