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@thiagoilustrado

mar 9, 2022 | destaques, notícias

A desinformação está por toda parte

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O médico americano Joseph Mercola ficou conhecido por ser um dos criadores da fake news que dizia que as vacinas alteram o código genético, segundo The New York Times (NYT). Depois de ser deplataformizado das principais plataformas de mídias sociais, o defensor do movimento antivacina mostrou que existem mais formas de divulgar reivindicações falsas. No Substack, a plataforma de assinatura de boletins informativos (as famosas newsletters), ele encontrou um terreno fértil para compartilhar perspectivas controversas e muitas vezes enganosas sobre o coronavírus, além de conseguir apoio financeiro dos seus seguidores.

O Substack foi fundado em 2017 por três profissionais – Christis Best, Hamish McKenzie e Jairaj Sethi–  interessados em “media tech”, ou seja, combinação de conteúdo de mídia e tecnologia digital. A plataforma de newsletter foi criada para permitir que os escritores distribuíssem seus trabalhos a leitores através de diferentes níveis de assinatura. Nos últimos três anos, o Substack já atraiu mais de 250 mil assinantes pagos. O problema está em quem está fazendo “grana” na plataforma. Segundo análise do Columbia Journalism Review, as 25 newsletters com mais assinantes, pagos e gratuitos, são feitas por uma maioria branca e masculina, sendo que vários são conservadores.

De acordo com uma investigação do Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH), o Substack gerou ao menos US$ 2,5 milhões no último ano a partir de cinco newsletters antivacinas. Duas dessas newsletters mais populares, que contam com dezenas de milhares de assinantes pagos, pertencem a Mercola e Alex Berenson, ex-escritor do New York Times. Ambos recebem mais de US$ 2,2 milhões de receita anual, o que representa um ganho mensal de US$ 183 mil. Segundo a política da plataforma, 10% vão para a própria empresa e 90% para os criadores, o que garante um bom “patrocínio” para desinformação. 

Em um post no blog do Substack, os co-fundadores defenderam que suportar “a presença de escritores com os quais discordamos fortemente” era uma “condição prévia necessária para criar mais confiança no ecossistema de informação como um todo”. Joan Donovan, diretora do Projeto de Tecnologia e Mudança Social no Centro Shorenstein sobre Mídia, Política e Políticas Públicas da Universidade de Harvard, disse ao Washington Post que a atitude de empresas como a Substack só iria incentivar um escrutínio maior de pesquisadores e jornalistas. Para ela, a falta de política de controle de desinformação pode causar danos à reputação de uma empresa, assim que houver um grande escândalo. “A marca Substack será ligada a seus criadores mais controversos”, disse Donovan.

 

Desinformação em áudio e efêmera

Figuras conhecidas que espalham informações falsas ou enganosas, como Mercola, se juntaram não apenas ao Substack, mas também a plataformas de podcast e áudio durante o último ano, após terem sido removidos de outras plataformas. Após a polêmica no último mês com o Spotify, a desinformação por áudio tem se tornado muito comum em outras plataformas. O Clubhouse foi associado à desinformação sobre a Covid-19, promoção de discurso de ódio e outras formas de informações tóxicas online. As salas do Twitter Spaces, um espaço dedicado a conversas de áudio ao vivo, também virou espaço para debates antivacina, como apontou investigação do Núcleo. Sem moderação da plataforma, cabe ao anfitrião decidir se o conteúdo é relevante ou não. Em nota ao Núcleo, o Twitter informou que tem se dedicado a garantir que o recurso não seja usado para amplificar conteúdo que viole as regras da plataforma, porém as medidas não parecem ser suficientes. 

Além da promoção de desinformação em outros formatos, existe um movimento dedicado a criação de espaços para discursos polarizados e desinformativos. O Gab ficou conhecido como uma rede social marginal dedicada à desinformação e conteúdo tóxico online. O ex-presidente Donald Trump, que também foi banido do Twitter, decidiu criar sua própria rede social, a Truth Social

O que difere estas plataformas alternativas das newsletters e podcasts é a forma de difusão de informação. “Nas redes sociais tradicionais, o algoritmo é usado para difundir conteúdo para usuários que não querem vê-lo. No caso das newsletters e podcasts, isso funciona diferente. São pessoas interessadas ou que acreditam no tema”, explica o pesquisador Wilson Ceron, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em outras palavras, essas plataformas atendem a assinantes que buscam conteúdos específicos que acomodam seus pontos de vista, alguns prejudiciais à sociedade, como o movimento antivacina. Outro ponto preocupante é a efemeridade desses conteúdos. Como o Instagram Stories, o Twitter Spaces não pode ser gravado, permitindo que o usuário seja exposto a esse conteúdo desinformativo, sem ter como rastreá-lo depois. Isso impossibilita, por exemplo, uma checagem desse conteúdo, já que ele não existe mais, e a responsabilização em caso de dano.  

“Apesar do conteúdo não estar nas plataformas tradicionais, como Facebook ou Twitter, esses conteúdos acabam navegando entre elas. Hoje não temos como investigar o fluxo de informações nessas plataformas como fazemos com o Twitter e em alguma medida com o Facebook e Instagram, o que limita nossa pesquisa”, detalha Ceron. Para o pesquisador, isso pode potencialmente levar as pessoas a se engajarem em comportamentos que colocam em perigo a si mesmas e aos outros.

 

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