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fev 3, 2022 | destaques, notícias

A peleja Neil Young versus Spotify

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Dois cantores canadenses forçaram o Spotify a fazer o que governos não conseguem. Depois de anunciarem que iriam remover suas músicas da plataforma, a empresa anunciou, no último dia 30 de janeiro, uma série de medidas que serão tomadas para impedir a disseminação de informações enganosas sobre a Covid-19.  A controvérsia começou após um episódio do podcast do comediante Joe Rogan. Ele recebeu como convidado Dr. Robert Malone, médico que se autodenominou “inventor” das vacinas de mRNA e foi banido do Twitter por circular desinformação justamente sobre vacina.  Sendo um podcast exclusivo do Spotify,  Joe Rogan Experience recebe milhões de downloads e ouvintes todos os meses. Esse episódio foi duramente criticado por disseminar desinformação sobre a vacina e sobre a Covid-19, levando o cantor Neil Young a mandar um carta ultimato para a plataforma pedindo a remoção de todas suas músicas.  Segundo a Rolling Stone, a carta de Young, já deletada, pedia a sua equipe e à gravadora que apagassem “imediatamente” suas músicas porque o Spotify estaria “disseminando informações falsas sobre vacina – potencialmente causando mortes daqueles que acreditam na desinformação espalhada pela plataforma”, apontava o cantor. Esse evento chamou a atenção de uma coalizão de 270 cientistas e profissionais médicos, que publicaram uma carta aberta pedindo ao Spotify que tomasse medidas contra “eventos de desinformação em massa”. Na carta, os profissionais defenderam que eventos como esse podcast “prejudicam a confiança do público na pesquisa científica e semeiam dúvidas na credibilidade da orientação baseada em dados”.  Citando solidariedade à comunidade científica e a Young, a cantora Joni Mitchell também decidiu remover suas músicas da plataforma. No título, ela já deixava claro seu apoio: “Eu estou com Neil Young!”, citava o anúncio de Mitchell. Segundo a cantora, ela decidiu remover todas as músicas do Spotify, porque “pessoas irresponsáveis estão espalhando mentiras que estão custando a vida das pessoas”.

Spotify faz mea culpa e anuncia medidas de moderação 

Apesar de serem cantores reconhecidos mundialmente, Mitchell e Young não são artistas de grande relevância para os negócios do Spotify como Rogan. A audiência mensal combinada desses cantores no serviço é irrisória se comparada a de outros artistas internacionais como Justin Bieber e Madonna. O Spotify teria que derrubar ou censurar seu podcast mais popular porque dois artistas estavam chateados. Assim, a empresa esperou que a controvérsia perdesse força, como acontece com a maioria das que envolvem Rogan. Com outros artistas pedindo a remoção de suas músicas, uma cobertura intensa da mídia e as ações caindo mais de 25%, , a empresa se viu obrigada a responder.   Em carta publicada em 30 de janeiro, a empresa fez mea culpa e alegou que se questionou muito sobre “o que é aceitável e o que não é” na plataforma. A empresa também lembrou que já tem regras em vigor há muitos anos, mas que não foram transparentes em relação às políticas adotadas. Como a Bloomberg lembrou, a empresa se viu obrigada a se pronunciar depois de uma semana de ataques da imprensa. Assim a empresa publicou suas diretrizes antes que pudesse traduzi-las para outros idiomas e anunciou que está construindo as ferramentas para detectarem informações sobre a Covid-19 nos podcasts. Esses serão rotulados e incluirão um link para um hub de informações sobre a doença e o vírus. Também foi anunciado que a plataforma vai encontrar maneiras de destacar as regras para criadores e editores e conscientizá-los sobre o que é aceitável e quais são suas responsabilidades.  Com estas declarações, o Spotify está tentando impedir que outros músicos tirem suas músicas sem perder Rogan, uma de suas estrelas. O comediante, por sua vez, pediu desculpas ao Spotify e aos ouvintes e prometeu “equilibrar as coisas”.

Desinformação em áudio

A desinformação em áudio não é algo novo. Só o serviço da empresa sueca hospeda mais de 3 milhões de podcasts, mas não é a única plataforma que hospeda opiniões controversas. Na internet há pessoas espalhando todo tipo de informação duvidosa em vídeo e áudio, inclusive em serviços das rivais Apple, Amazon, Clubhouse e YouTube. Recentemente, as empresas de fact-checking fizeram um lobby para pressionar o Google para que tome medidas com relação ao conteúdo duvidoso e falso presente na plataforma de streaming de vídeo. Uma fonte em anonimato disse que o pedido é legítimo, mas existe também o interesse das organizações de obterem uma nova receita do Google, assim como já fazem com o Twitter e o Facebook. O Clubhouse já foi associado à desinformação desenfreada sobre a Covid-19 e vacinas, discurso de ódio e outras informações tóxicas online. Desinformação em áudio é um tema delicado, o que ajuda a explicar a defensiva do Spotify. Um serviço de música e podcasts oferece dezenas de milhões de conteúdos. Assim como podcasts podem conter desinformação, músicas também podem ser provocativas e controversas.  Essas plataformas de música, como o Spotify, Deezer e Apple Music, estão repletas de conteúdos que defendem a misoginia e a homofobia, além de serem desinformativos. Outro ponto preocupante é a efemeridade da comunicação oral em um ecossistema de comunicação digital altamente fragmentado, o que limita medidas paliativas, como o fact-checking.

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