Por meio da exposição de documentos e dados internos da empresa, o novo dono do Twitter, Elon Musk, sugere ter havido um suposto favorecimento partidário e ideológico da antiga gestão a políticos e usuários de esquerda nos Estados Unidos. Segundo ele, no Brasil, algo parecido também poderia ter ocorrido nas eleições de 2022. Este novo capítulo da controversa gestão de Musk está sendo chamado de Twitter Files.
Antes disso, o empresário demitiu funcionários responsáveis pelas políticas internas do Twitter e prometeu anistia geral a contas banidas, uma cruzada a favor da “liberdade de expressão” e contra as políticas de moderação da rede social.
O nome “Twitter Files” (Documentos do Twitter, em português) foi dado pelo empresário e teve sua “parte dois” liberada na noite de ontem (8) por meio da jornalista conservadora Bari Weiss, reforçada com um retweet do próprio Musk.
Utilizando fotos do sistema interno da plataforma, Weiss afirma que os profissionais do Twitter criaram uma “lista negra” de classificação de perfis com o objetivo de desfavorecer tweets, limitando a visibilidade de contas ou tópicos.
Um dos exemplos desses usuários “desfavorecidos” pela rede social que a jornalista traz é o radialista Dan Bongino, banido em janeiro deste ano no Youtube após publicar insistentemente vídeos com desinformação sobre a pandemia de Covid-19, e do conservador ativista Charlie Kirk, apoiador do ex-presidente Donald Trump e propagador de desinformação e teorias da conspiração.
A política de diminuição de alcance, porém, já era pública e explicada pelo próprio Twitter desde 2018. Em uma postagem no blog oficial, a empresa deixou claro que há classificação de tweets e resultados de busca com o objetivo de organizar as discussões realizadas na plataforma, com possibilidade de diminuição de alcance dos tweets compartilhados por “atores de má-fé que pretendem manipular ou dividir a conversa”.
Na época, como lembra o Yahoo News, houve críticas que diziam que o Twitter estaria realizando shadowban, prática negada pela empresa. “Não fazemos shadow ban. Você sempre pode ver os tweets das contas que segue (embora possa ter que trabalhar mais para encontrá-los, como ir diretamente ao perfil deles). E certamente não banimos com base em pontos de vista políticos ou ideológicos”, afirmou o Twitter no seu blog.
Logo após dar retweet do fio da jornalista Bari Weiss, Musk escreveu em seu perfil pessoal que a plataforma está trabalhando em uma atualização de sistema que mostrará o “verdadeiro status” das contas. “Assim, você saberá claramente se você foi alvo de shadowban”, reforçou a narrativa.
Musk levanta suspeitas de privilégio também no Brasil
O Brasil também não ficou fora de especulações parecidas vindas do bilionário. No dia 2 de dezembro, ao ser questionado por um seguidor que outras eleições teriam sido “manipuladas” pela gestão antiga do Twitter, Musk respondeu que viu tweets preocupantes sobre as eleições brasileiras.
“Se esses tweets forem precisos, é possível que o pessoal do Twitter tenha dado preferência a candidatos de esquerda”, escreveu o empresário sem elencar nenhuma prova ou documento que reforçasse a afirmativa.
Em seguida, respostas de usuários de extrema-direita pipocaram questionando a validade do pleito brasileiro e a existência de uma suposta censura do Twitter a usuários desse espectro ideológico.
O que são os Twitter Files?
No dia 2 de dezembro, Elon Musk veio a público afirmar que detinha documentos que mostravam suposto favorecimento partidário e ideológico da antiga gestão a políticos e usuários de esquerda nos Estados Unidos.
No que é considerada a primeira parte do Twitter Files, o novo dono da rede social expôs a tentativa da empresa de impedir, a pedido da equipe do presidente Joe Biden, a circulação em 2020 de uma notícia do New York Post afirmando que Hunter Biden, um dos filhos do então candidato democrata, havia se envolvido com corrupção no exterior.
À época, o Twitter justificou tal medida por considerar a matéria propagação de fake news e violação das diretrizes da plataforma no que diz respeito a conteúdos vazados por hackers.
Carlos Affonso de Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), apontou em sua coluna no UOL que a matéria do Post continha falhas e parecia ter sido plantada dias antes das eleições.
Diante disso, Souza avaliou como positiva a escolha da antiga gestão do Twitter em tentar impedir que uma possível desinformação fosse replicada aos montes perto do pleito norte-americano.
“O Twitter Files, por fim, alimenta as teorias de que as redes sociais são empresas dominadas por funcionários politicamente alinhados com a esquerda. O que foi revelado até aqui não suporta em nada essa conclusão”, escreveu Carlos. A movimentação de Musk, inclusive, já serviu de substrato para Trump reforçar as narrativas conspiracionistas de fraude nas eleições norte-americanas de 2020.
Migração de usuários e desinformação climática também marcam a semana do Twitter
A saída de usuários do Twitter para outras redes sociais, como a Mastodon e o Tumblr, continua consistente, sem indícios de desaceleração. É o que aponta o levantamento publicado no início deste mês pelo Dewey Square Group.
O documento mostrou que, após a compra do Twitter por Musk, mais de 90 mil usuários adicionaram o link do perfil do Mastodon em suas próprias biografias, numa tentativa de indicar seus respectivos espaços em plataformas alternativas.
Além disso, o número de tweets mencionando o termo “fraude climática” (“climate scam”, em inglês) aumentou após a aquisição de Elon Musk, em outubro deste ano, segundo relatório desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Londres para o jornal britânico The Times.
O estudo também evidenciou que 2022 foi o pior ano para conteúdo cético em relação às mudanças climáticas desde a criação da rede social. A nível de comparação, foram identificados 850.000 tweets questionando questões climáticas em comparação aos 650.000 registrados em 2021 e 220.000 em 2020.
Na semana, a transformação do escritório da empresa, localizado na Califórnia, em quartos para os funcionários dormirem e o fim para a maior parte dos usuários da ferramenta Moments, que reunia em um feed especial os principais tweets publicados na plataforma, também foram noticiadas pela mídia internacional.