Os ataques de Roberto Jefferson à Polícia Federal (PF) durante sua prisão no último domingo (23), que também acarretou um episódio de violência contra um repórter cinematográfico, impulsionou nas redes sociais debates sobre segurança e motivou críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Este é um dos destaques trazidos pelo monitoramento “Política nas redes” desenvolvido pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (FGV ECMI) que buscou acompanhar a repercussão do acontecimento no Facebook, Twitter e Telegram entre domingo e segunda-feira.
No Facebook, o levantamento identificou um debate marcado pela predomínio de perfis considerados de esquerda (38,71%) em relação aos de direita (22,85%). Também foram identificados grupos e páginas de compra e venda (2,88%) e perfis de notícias locais (1,48%) participando das discussões sobre a prisão. O restante foram perfis que não se alinhavam a nenhum dos dois principais campos.
Os grupos e contas de esquerda se reuniram em torno de uma forte oposição a Bolsonaro, segundo o relatório, compartilhando links e notícias que vinculavam o presidente ao ex-deputado. As ações buscaram ironizar as declarações de Bolsonaro sobre não possuir fotos com Jefferson e impulsionar a teoria de que os ataques a PF foram planejados com a participação do candidato à reeleição.
A base bolsonarista, por sua vez, também compartilhou links de matérias jornalísticas, mas com o intuito de evidenciar a resistência do ex-deputado contra a suposta “tirania” da Justiça. Também foram identificadas tentativas de vincular Jefferson ao ex-presidente Lula (PT), relembrando sua participação no mensalão.
Os grupos e páginas de compra e venda, apesar da pouca atuação, apresentaram atuação dispersa, ora próxima aos dos perfis de esquerda, buscando evidenciar a ligação entre Bolsonaro e Jefferson, ora se aproximando da base governista. As páginas de notícias locais participaram do debate compartilhando matérias com atualizações do caso.
Já no Twitter, a FGV ECMI identificou mais de 1,4 milhão de menções ao tema segurança entre 0h de 23 de outubro a 12h de 24 de outubro. Também foram levantados 572 mil tweets que faziam menção ao presidente Bolsonaro, associando-o ao episódio.
Ainda na rede social de micromensagens, o monitoramento registrou forte atuação da oposição ao presidente e um certo silêncio da base governista, com prevalência do entendimento de que os tiros proferidos por Jefferson contra agentes da PF foram atos injustificáveis e ligados ao comportamento violento dos apoiadores do bolsonarismo.
Além disso, Bolsonaro também foi vinculado ao próprio ex-deputado, como ocorreu no Facebook. Mensagens como “Roberto Jefferson é Bolsonaro” foram compartilhadas intensamente, apesar das tentativas da base governista em desvincular a relação entre os dois políticos.
Telegram registra desalinhamento da base governista
No aplicativo de mensagens Telegram, conhecido por abrigar conteúdos antidemocráticos de extrema direita, a base governista, em alguns momentos, preferiu focar a discussão numa suposta instrumentalização do caso pelo que chamou de “milícia digital petista” para prejudicar Bolsonaro nas eleições. Porém, quando se tratou de julgar a prisão em si, não houve consenso.
Parte das mensagens, por exemplo, comemoraram a detenção de Roberto Jefferson, buscando relacioná-lo ao candidato à presidência do Partido dos Trabalhadores, identificando-os como “companheiros de mensalão”. Porém, outros usuários afirmaram que comemorar a prisão seria “estar ao lado de Alexandre de Moraes”, ministro e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).