A experiência brasileira nas eleições de 2018 fez com que órgãos e plataformas digitais se articulassem para evitar a disseminação de desinformação nas eleições gerais deste ano. A Meta, empresa detentora do Facebook e do Instagram, adotou novas medidas, enquanto o Tribunal Superior Eleitoral fez parcerias com as redes sociais e instalou um sistema online em que o eleitor pode denunciar conteúdos falsos sobre o pleito, além de outros tipos de conteúdo, como discursos de ódio, violência e disparos em massa. No entanto, mesmo com a parceria, um relatório do Netlab da UFRJ mostra que 39% das postagens denunciadas e identificadas como desinformação continuam na rede sem nenhum rótulo.
O TSE recebeu, até o dia 12 de setembro, 14.998 alertas e os encaminhou para as plataformas em que os conteúdos foram publicados. Do total, havia 185 disparos em massa e 12.976 publicações de perfis com indícios de comportamento inautêntico. O Netlab, laboratório de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, investigou 2.029 links de ‘publicações problemáticas’ com origem nas redes da Meta, mas também no YouTube – campeão de denúncias -, Twitter, TikTok e outras plataformas.
Dos 126 links da Meta, 95 não estavam duplicados e constaram na amostra utilizada pelos pesquisadores do Netlab. São links denunciados por disseminarem conteúdo de potencial ameaça à integridade eleitoral. O relatório produzido pelo Netlab indicou que, das 95 publicações, 19 já estavam indisponíveis, ou por exclusão da Meta ou do próprio autor do post.
Entre as outras 76, de acordo com o Netlab, 14 já foram checadas pelos parceiros da Meta (Agência Lupa, AFP, Aos Fatos, Estadão Verifica, Reuters Fact Check e UOL Confere) e estão no ar com um selo de desinformação. Outras 25 estão no ar e ainda não foram checadas até a divulgação do relatório. A maioria (37) é composta por conteúdos com informações que já foram checadas como desinformação, mas permanecem no ar sem qualquer rótulo ou ação da plataforma, o que corresponde a 38,95% do total das 95 publicações.
A Meta respondeu por nota: “O relatório é baseado em uma amostra pequena de conteúdos e pouco representativo da escala do nosso trabalho para proteger a integridade dos aplicativos da Meta na eleição brasileira. Em 2022 até o dia do primeiro turno, cerca de 30 milhões de pessoas clicaram em rótulos adicionados a posts sobre eleições no Facebook no Brasil e foram direcionadas para o site da Justiça Eleitoral onde encontram informações oficiais sobre as eleições. Nesse período, exibimos rótulos em mais de 74 milhões de conteúdos no Facebook. Os rótulos são adicionados a quaisquer publicações no Facebook e no Instagram sobre eleições. Também trabalhamos com agências independentes de verificação de fatos. Nesse caso, rotulamos especificamente os conteúdos que foram marcados como falsos por esses parceiros.” – porta-voz da Meta.
As publicações já verificadas possuem um alcance reduzido na plataforma, mas não são removidas dela, como já noticiou o *desinformante. “Dessa forma, a Meta se omite no combate efetivo à desinformação. O conteúdo não removido pode servir como munição para narrativas que descredibilizam o sistema eleitoral e as checagens de fatos”, destaca o relatório do Netlab.
Das publicações denunciadas ao TSE e encaminhadas à Meta, 51 permaneciam ativas (53,6%), das quais 37 reproduzem informações que já foram checadas como desinformação, de acordo com o relatório. Entre elas, publicações que colocam em xeque a segurança das urnas eletrônicas e do processo eleitoral. Com essa argumentação, o conteúdo ataca as instituições que estariam interessadas em ocultar erros nas urnas.
Em um dos posts identificados, Alex Brasil, candidato a deputado estadual pelo PL de Santa Catarina, divulgou uma imagem afirmando problemas na apuração eleitoral de 2018. Tal conteúdo se apoiava em uma publicação do candidato Oswaldo Eustáquio (União/SC), que já teve as suas redes suspensas. “O conteúdo foi considerado falso pelo Estadão Verifica. Mas a Meta não removeu a publicação nem a indicou como desinformação aos usuários”, apontou o relatório.
Perfis
Além das narrativas mais comuns nesses links, como a suposta perseguição que Bolsonaro sofre pelo sistema, o relatório também apurou quais são os perfis que publicaram estes conteúdos denunciados ao TSE e repassados à Meta. Os usuários foram agrupados em quatro categorias, todos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro:
Alto escalão bolsonarista – Políticos apoiadores do presidente, conhecidos em todo o território nacional e que têm grande audiência em perfis de redes sociais
Políticos conservadores – Políticos bolsonaristas com cargos regionais e menor audiência nas redes sociais. Constituem um grupo expressivo de compartilhadores de conteúdo que atenta contra a democracia.
Páginas conservadoras – Páginas de conteúdo conservador que apoiam e difundem narrativas antidemocráticas e contra o sistema eleitoral.
Apoiadores – Parcela da sociedade civil que divulga desinformação sobre a democracia, conclama as Forças Armadas, ofende opositores e pede “intervenção militar”.