Com uma equipe de repórteres locais monitorando o discurso dos candidatos a governador nos nove estados da Amazônia Legal, durante o horário eleitoral gratuito em Rádio e TV, o projeto “Mentira tem preço” lançou em setembro seu especial “Eleições”, formando uma base de dados com os indícios de desinformação socioambiental propagandeada pelos candidatos.
O tema socioambiental é um dos mais importantes no atual contexto eleitoral, e também mote de muita desinformação, como já apontado pela reportagem “Amazônia inventada: 70 milhões de visualizações no Youtube, cliques e dinheiro em vídeos que desinformam sobre a floresta e os povos indígenas”. A região da Amazônia Legal também é caracterizada como um “deserto de notícias”, já que a região Norte é a que possui o maior território (63,1% dos municípios) descoberto por veículos de comunicação local.
Nesse cenário, as reportagens publicadas pelo “Mentira tem preço – eleições” apontam que os principais candidatos omitem de suas campanhas os impactos ambientais das suas propostas, como também ignoram estudos científicos sobre a degradação socioambiental da região.
Além do horário eleitoral, são monitoradas algumas palavras-chave em grupos públicos no Telegram e no WhatsApp e analisados vídeos em canais de extrema direita no YouTube, sempre com foco na desinformação socioambiental relativa à Amazônia, produzida dentro e fora da região.
O “Mentira Tem Preço – Especial Eleições” é uma continuação do “Amazonas: mentira tem preço”, projeto iniciado pelo InfoAmazonia e pela FALA em 2021, com o apoio da Open Society Foundations. O conteúdo é distribuído também via newsletter semanal e disponibilizado para a publicação na íntegra. Além da produção do InfoAmazonia e da FALA, serão distribuídos materiais de outros integrantes do Consórcio de Organizações da Sociedade Civil, Agências de Checagem e de Jornalismo Independente para o Combate à Desinformação Socioambiental, como o Observatório do Clima (Fakebook), O Eco, Aos Fatos e o Repórter Brasil.
“O projeto Mentira Tem Preço mostrou que desinformação e fake news socioambiental circulam livremente nas plataformas digitais. Não se trata de um problema nacional, mas mundial. As plataformas precisam adotar políticas contra o negacionismo climático” afirma Thais Lazzeri, coordenadora do projeto, que questiona: “faz sentido uma plataforma não permitir anúncios que neguem a crise do clima, mas deixar que vídeos negacionistas sejam monetizados e canais impulsionados?”.
Perguntada sobre o que as plataformas poderiam fazer para ajudar no combate à desinformação socioambiental, Thais acredita que“primeiro é preciso dar transparência ao processo. No Brasil, não temos dados de anúncios (de temas sensíveis ou políticos) relacionados à crise do clima e ao meio ambiente reunidos e disponíveis no repositório da biblioteca de anúncios. Não se trata de fazer algo novo, mas de colocar em prática o que já funciona em outros países”.
“A base de dados gerada pelo projeto é uma ferramenta importante para compreender o uso da desinformação socioambiental e como elas entram nas narrativas construídas pelos candidatos. Atestar a qualidade e veracidade das informações é crucial neste momento em que notícias enganosas podem decidir o resultado das eleições”, afirma Juliana Mori, diretora editorial do InfoAmazonia. O documento “O papel das plataformas digitais na proteção da integridade eleitoral de 2022”, assinado por mais de 100 organizações da sociedade civil e endereçado às principais plataformas digitais e aos órgão do Judiciário brasileiro, possui um capítulo específico com “políticas para combater a desinformação que afeta a Amazônia, a agenda climática, do meio ambiente, e dos povos originários e tradicionais”. O documento pode ser encontrado aqui.