Tudo leva a crer que a aprovação, pelo Parlamento Europeu, de um conjunto de medidas para regulação das plataformas digitais já mostra resultados. A Lei de Serviços Digitais (DSA) ainda não entrou em vigor oficialmente, mas a estimativa é que comece a valer ainda este ano. Junto ao Código de Boas Práticas da União Europeia, a DSA torna a transparência um requisito fundamental para o funcionamento das grandes empresas de tecnologia, com amplo acesso aos pesquisadores ao funcionamento de seus algoritmos. 

No último mês, o YouTube abriu acesso a uma Interface de Programação de Aplicação (as famosas APIs) para pesquisadores. O TikTok segue o mesmo caminho e anunciou que em breve irá disponibilizar acesso aos pesquisadores através de duas APIs.

Segundo o anúncio da empresa chinesa, o TikTok logo permitirá aos pesquisadores acessar dados públicos e anônimos sobre o conteúdo e a atividade na plataforma. Também facilitará o conhecimento de seus sistemas de moderação de conteúdo, através de outra API, com restrições rigorosas sobre as quais pesquisadores poderão acessar as ferramentas. Essa parte do anúncio abre brecha para entender que apenas alguns pesquisadores selecionados terão acesso a essa API de moderação de conteúdo. 

O *desinformante entrou em contato com a assessoria da empresa no Brasil, que respondeu que não tem mais detalhes sobre o anúncio. Também questionamos se a empresa planejava o lançamento para antes das eleições, o que não também não foi respondido pela  assessoria. 

Com esse acesso à API de moderação de conteúdo, pesquisadores poderão entender como a ferramenta “Para Você” do TikTok é alimentada de forma a ficar tão viciante. Também permitirá apurar o tipo de conteúdo com o que os usuários estão se engajando na plataforma, assim como o que as equipes de moderação estão removendo. 

Wilson Ceron, pesquisador do Observatório de Mídias Digitais e Sociedade (DMSO) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), avalia que o anúncio do TikTok pode significar um tratamento privilegiado para pesquisadores de universidades do hemisfério Norte, que possuem mais recursos que as brasileiras. “Em atividades anteriores, plataformas disponibilizaram APIs e acesso a dados primeiramente para universidades que são consideradas “de ponta” antes de liberarem para pesquisadores do chamado Sul Global. Isso ajuda a criar ainda mais esta lacuna nos conhecimentos sobre o resto do mundo”, afirma.  

O anúncio ocorreu poucas horas antes de uma reportagem da Gizmodo divulgar os esforços que o TikTok está fazendo para se distanciar da China, como dois relatórios criados para as equipes de relações públicas, com orientações sobre respostas se questionados sobre a segurança da plataforma e sua relação com a China e pedindo para minimizar a relação do aplicativo com a empresa matriz ByteDance, a China e o uso de inteligência artificial.

Rebekah Tromble, diretora do Instituto de Dados, Democracia e Política da Universidade George Washington, lembrou no Twitter que apesar das ações do TikTok terem caído nas últimas semanas, nos Estados Unidos, a decisão da abertura dos dados tem muito mais relação com “os requisitos de transparência de dados estabelecidos na Lei de Serviços Digitais da UE e seu Código de Prática sobre Desinformação. Ambos priorizam o acesso aos dados para pesquisadores independentes”, afirmou. 

YouTube e Twitter já concedem acesso a pesquisadores

Em meados de julho, o YouTube anunciou a abertura da sua API para pesquisadores. Para ter acesso, os pesquisadores precisam se candidatar através de um formulário disponibilizado na página de suporte do Google. Assim como o Twitter, é preciso estar afiliado a um instituto de pesquisa e ter um projeto de pesquisa para a requisição de acesso. 

A plataforma pede que o pesquisador prove que existe uma API que irá “conversar” com a do Google. Em outras palavras, é preciso provar que tem um website ou aplicativo de software que irá acessar e utilizar os serviços das APIs do YouTube. 

No  caso de plataformas como o Twitter, pesquisadores podem utilizar bibliotecas específicas para certas linguagens de programação como Python e R para acessar esses dados. Os pesquisadores recebem cotas de acesso aos dados e API do YouTube para o período de suas pesquisas. De acordo com o aviso na requisição, o acesso pode ser revogado “após a conclusão da pesquisa ou publicação, o que ocorrer primeiro”. No Twitter, o acesso é dado aos pesquisadores sem uma data limite específica para terminar. 

O que são APIs?

APIs são mecanismos que permitem que dois componentes de software se comuniquem usando um conjunto de definições e protocolos. Por exemplo, o sistema de software do instituto meteorológico contém dados diários. O aplicativo de previsão do tempo no telefone “fala” com este sistema por meio de APIs e mostra atualizações meteorológicas diárias no telefone. API significa Application Programming Interface (Interface de Programação de Aplicação).