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Desinformação, teorias da conspiração e alegações de fraude marcam as eleições nos EUA

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Nesta terça-feira (5), o mundo observa com atenção as eleições presidenciais dos Estados Unidos que podem colocar novamente no poder a figura mais popular da extrema-direita internacional. Em meio a um pleito polarizado, os problemas relacionados à desinformação e teorias da conspiração voltam à tona no país, com um fator novo: um bilionário, dono de uma plataforma, quebrando a tradicional neutralidade de executivos das big techs e apoiando um dos candidatos à corrida eleitoral com teorias da conspiração.

No último final de semana, uma imagem falsa circulou nas redes sociais apontando Kamala Harris, candidata democrata, à frente de Donald Trump nos primeiros resultados do Texas, estado tradicionalmente republicano. A peça, manipulada para aparentar ser da CNN, tinha o objetivo de reforçar argumentos de fraude eleitoral, narrativa levantada há anos pela extrema-direita no país e que serviu de argumento para a invasão do Capitólio em janeiro de 2021.

“Ei, Texas. Parece que eles estão roubando as suas eleições”, escreveu um usuário no X cuja postagem acumulou 2 milhões de visualizações. A CNN afirmou por meio do perfil na rede que a peça era fabricada e nunca foi ao ar no canal do veículo.

De acordo com o NewsGuard, que vem acompanhando as eleições norte-americanas, 68 desinformações e boatos eleitorais já circularam nas redes de setembro a dia 1° de novembro. Além disso, foram identificados mais de 900 sites sinalizados por publicar notícias falsas e mais de 1.200 sites partidários disfarçados de veículos de notícias locais. Números recentes ainda não foram divulgados pela organização.

No dia 31 de outubro, por exemplo, data de abertura das votações antecipadas no Kentucky, um vídeo foi compartilhado por usuários conservadores mostrando um eleitor no estado tendo dificuldades para votar em Trump na máquina de votação. O clipe serviu para que perfis alegassem a existência de uma conspiração para que votos no republicano não fossem contabilizados. A informação foi negada pelas autoridades regionais, que afirmaram que o cidadão do vídeo não estava selecionando o candidato no local certo da tela.

Em meio a falhas das plataformas em conter desinformação eleitoral, vale lembrar que Trump esteve no centro de teorias da conspiração logo após sofrer um atentado, em julho passado, enquanto Kamala Harris foi alvo de desinformaçãodepois da desistência de Joe Biden como candidato principal dos democratas.

X vira “câmara de eco” trumpista com apoio de Musk

A relação cada vez mais clara de Elon Musk com a política conservadora internacional, que vinha ganhando destaque desde a compra do Twitter (agora X) pelo bilionário, confirmou-se com o apoio a Trump em julho, após o candidato republicado sofrer uma tentativa de atentado. “Apoio totalmente o Presidente Trump e espero sua rápida recuperação”, escreveu Musk na sua conta oficial, a mais seguida na rede com 203 milhões de seguidores.

De lá para cá, o dono do X utilizou o seu espaço na rede para fazer campanha pró-Trump, de tal forma que a imprensa norte-americana firmou a plataforma como “câmara de eco” trumpista. “Musk transformou a plataforma, antes considerada a praça global da cidade, em uma câmara de eco que amplifica causas de direita e, em particular, a campanha eleitoral do ex-presidente Donald Trump”, cravou David Ingram, jornalista da NBC News.

“Musk parece imitar a forma de agir dos gestores da Gettr e outras plataformas digitais que possuem pouca ou nenhuma moderação de conteúdo, que tomam partido e que permitem a expressão de opinião ideologicamente nociva e perigosa como se isso fosse sinônimo de defesa do princípio da liberdade de expressão”, escreveu a pesquisadora Tatiana Dourado, em setembro, para o desinformante.

Um estudo do Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH, na sigla em inglês) mostrou que as postagens políticas de Musk acumularam 17,1 bilhões de visualizações desde que ele apoiou Trump em julho, 2 vezes mais visualizações do que todos os anúncios políticos dos EUA no X. De acordo com o centro, para alcançar tal impacto, uma campanha política precisaria gastar U$ 24 milhões (cerca de R$ 138 milhões).

Além disso, o relatório apontou que pelo 87 postagens do bilionário neste ano promoveram alegações falsas sobre as eleições dos EUA, acumulando 2 bilhões de visualizações. Nenhuma dessas postagens apresentou uma nota contextual da comunidade.

Numa dessas postagens, o dono do X levantou questionamentos sobre a integridade eleitoral no estado de Michigan, por exemplo, além de publicar imagens de Kamala feitas com Inteligência Artificial para afirmar que ela seria uma “ditadora comunista”.

Telegram também é reduto de teorias da conspiração

Mas não é só o X que está no centro dessas eleições. O Telegram também foi um ambiente bastante utilizado pela extrema-direita para questionar o processo eleitoral com teorias da conspiração. “O dia em que não dará mais para ficar em cima do muro está se aproximando rapidamente”, foi uma das mensagens compartilhadas recentemente em um dos grupos trumpistas identificados pela reportagem do The New York Times.

O jornal norte-americano identificou mais de um milhão de mensagens em 50 canais do Telegram. Desse montante, quatro mil postagens chegaram a encorajar os participantes a agirem contra uma suposta fraude eleitoral, incitando que eles participassem de reuniões eleitorais locais, protestando ou fazendo doações. Mensagens pedindo para que os cidadãos se “preparem para violência” após os resultados do pleito também foram identificadas.

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