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jul 8, 2024 | Pontos de Vista

Quem vai pagar a conta (de energia e dados) da IA?

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O crescimento dos investimentos e lucros em Inteligência Artificial é fato consumado. Em 2024, este mercado está avaliado em mais de US$ 50 bilhões, ante praticamente zero em 2022. Até 2027, a receita com a venda desse tipo de produto pode atingir US$400 bilhões, segundo a pesquisa global TMT Predictions 2024”, elaborada pela Deloitt.

Quem ganha e está na corrida já sabemos. As big techs disputam os lançamentos das funcionalidades em uma concorrência acirrada e, muitas vezes, predatória para a Maioria Global.

É o que vimos na última semana, quando a Meta foi interpelada pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados do Brasil porque não havia informado corretamente os brasileiros sobre a coleta de dados que já estava sendo feita para alimentar sua Inteligência Artificial, a Llama.

Um questionamento parecido foi feito pelas autoridades europeias, onde, diga-se, os usuários foram melhor informados sobre o uso dos seus dados, corroborando as práticas distintas para cidadãos do Norte e do Sul Global.

A medida em que assistimos os inúmeros lançamentos, previsões de especialistas e sumiço de algumas funções, sem salvaguardas, precisamos refletir: Quais questionamentos realmente valem a pena para nós, brasileiros, da classe trabalhadora, em relação a Inteligências Artificiais generativas?

Um dado incômodo precisa ser compartilhado aqui – pensando que a curadoria de informações também é fazer jornalismo – e ele veio da palestra do pesquisador da UFABC, Sérgio Amadeu, na Escola de Governança da Internet:  

Consumo de energia do ChatGPT

2,9 Wh é o consumo de energia do ChatGPT para responder a uma pergunta. Isso equivale ao consumo de uma lâmpada de LED de 10W por 17 minutos. Um obrigada a minha colega Liz Nóbrega que hackeou o dado pra este PV.

Me arrependi profundamente de todas as brincadeirinhas, testes e pegadinhas que já tentei fazer no ChatGPT. Afinal, tenho um filho de 9 anos e quero um futuro para ele com água, energia elétrica, floresta de pé e comida limpa. Para ele e toda sua geraçãozinha.

Você já parou pra pensar que uso faz do ChatGPT?

Então é bom parar. Não se trata apenas da enorme pegada ambiental, mas o discurso da produtividade precisa ser melhor digerido. Profundamente conectados sem muitos limites entre trabalho, vida privada, descanso e lazer, a quem vai servir a enorme produtividade prometida pela IA generativa? Todo trabalho merece um fim e este fim está ameaçado pelas múltiplas respostas e abas abertas pela IA, tensionando sobre nós como uma bigorna. Se o ChatGPT vai agilizar cinco funções suas (a partir dos seus comandos), quantas outras seu chefe vai te delegar? Quantos cargos em um salário podemos caber?

Na mesma semana cheia de sinais sobre “quem vai pagar a conta”, o Google divulgou seu relatório de sustentabilidade. Ali podemos saber por exemplo que a empresa aumentou quase em 50% suas emissões de CO2 com os investimentos em IA. Mas, como sempre convém às big techs você precisa ler isso nas entrelinhas do relatório. Do contrário vai achar que o Google é a empresa mais sustentável do Planeta.

E trazendo mais um tópico pra curadoria, você sabia que a Justiça chilena está travando uma luta com o Google sobre a construção de um data center na região de Cerrillos?

Conforme descrito pelo próprio Google, o data center precisaria de 7,6 milhões de litros de água potável por dia. Essa quantidade seria necessária para resfriar os data centers, mas na crise hídrica do Chile, este número foi visto como desproporcional tendo em vista os  15 anos de seca e racionamento de água por parte do governo.

Imagens futuristas: que futuro?

Se as imagens feitas pela IAs generativas sobre IA e cidades prometem um futuro robótico, sociedades hiperconectadas, cidades verdinhas, é preciso lembrar o poder nas narrativas e de onde elas partem. Que tecnologia do futuro é essa que gasta tanta água, energia e dados? Por que se pesquiso eleições aparece de cara um Capitólio se o poder aqui está em Brasília?

Desconfie dos desenhos prateados hightech, da precisão e da rapidez das IAs generativas. O futuro é ancestral.

E, se já estamos mergulhados neste universo sem volta, que nos seja dada a contrapartida pelos nossos dados, como bem lembra neste artigo o pesquisador Diogo Cortiz. Se precisam de uma imensidão de dados para treinamento da IA, o que teremos em troca? Acesso a dados para nossos pesquisadores? Incentivos à produção de conteúdo confiável sobre os riscos de toda e qualquer tecnologia?  

Um maior equilíbrio das desigualdades Sul e Norte Globais pode ter na emergência da IA um momento chave de oportunidades ou podemos simplesmente repetir a velha história colonial. Fornecemos a matéria prima a preço de banana – água, energia e dados – e compramos a tecnologia cara, como eternos usuários.  

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Ana d´Angelo

É editora do *Desinformante.

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