Se você publica fotos e vídeos em contas públicas no Instagram ou Facebook, muito provavelmente, todo o seu conteúdo – até as legendas – está sendo utilizado para treinar a inteligência artificial da Meta, o Llama. A big tech precisa de um volume imenso de dados para alimentar a sua IA e aperfeiçoá-la e, por isso, vem usando as publicações dos usuários para esse fim. Mas, se você estiver no Brasil ou na Europa tem como impedir – veja como ao final da matéria.
“Podemos usar informações que as pessoas compartilham publicamente sobre os produtos e serviços da Meta para alguns de nossos recursos de IA generativa. Essas informações podem incluir postagens ou fotos públicas e suas respectivas legendas. Também podemos utilizar as informações que as pessoas compartilham ao interagir com nossos recursos de IA generativa, como a IA da Meta, ou com uma empresa, para desenvolver e melhorar nossos produtos de inteligência artificial”, admitiu a empresa em uma publicação em seu blog no mês passado.
O anúncio foi diferente do que ocorreu na União Europeia, em que os usuários receberam um aviso com as mudanças nas políticas da empresa, tanto no aplicativo como nos seus próprios e-mails. No comunicado, a empresa fala da mudança na política e que os dados do usuário serão usados para “desenvolver e melhorar a IA” e que eles têm até o dia 26 de junho para se opor a esse uso, se assim o desejarem.
O envio deste comunicado na Europa foi feito para cumprir a legislação europeia, como a própria Meta explicita em uma publicação:
“Estamos em consulta com nosso principal regulador de privacidade na UE, a Comissão de Proteção de Dados da Irlanda, e incorporamos seus comentários até agora para garantir que a forma como treinamos IA na Meta esteja em conformidade com as leis de privacidade da UE”, disse a empresa.
A legislação a qual a Meta se refere é o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR), que traz uma maior proteção para os usuários e seus dados. Por isso, a empresa realizou esse amplo comunicado para que os usuários europeus pudessem se opor ao uso de seus dados. Apesar disso, há críticas de como a empresa dificultou esse processo.
“Estou realmente chocado com o design da nova notificação da Meta nos informando que eles desejam usar o conteúdo que postamos para treinar seus modelos de IA. Ele foi intencionalmente projetado para ser altamente estranho, a fim de minimizar o número de usuários que se oporão a ele”, disse um usuário inglês na rede social X.
Apesar de cumprir os termos, a empresa não deixou de criticar a legislação que a obrigou a ser mais transparente na União Europeia. No comunicado, a Meta disse que “a Europa está em uma encruzilhada”, dizendo que “alguns ativistas estão defendendo abordagens extremas para dados e IA”.
“Como uma das regiões mais influentes do mundo, a Europa tem o potencial de ser um líder competitivo em inovação de IA. Mas ainda restam perguntas: os europeus terão acesso igual à IA revolucionária? As experiências de IA refletirão nossa cultura, humor e história? Ou a Europa quer assistir enquanto o resto do mundo se beneficia de tecnologia verdadeiramente inovadora que constrói comunidade e impulsiona o crescimento?”, questionou a empresa argumentando que sem os dados dos usuários europeus o Llama não seria capaz de entregar uma experiência completa.
Sul Global, outro tratamento
O Brasil também possui uma legislação sobre o tema, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Por isso, os usuários do país também receberam a “oportunidade” de se oporem ao uso de seus dados, mesmo que com uma visibilidade muito menor que os usuários europeus. Não houve comunicados via e-mail nem uma data limite para se opor, o que denuncia que os dados já estão sendo utilizados.
“Com base nas leis locais do Brasil, você poderá se opor ao uso de suas informações de nossos produtos e serviços para desenvolver e melhorar a inteligência artificial da Meta. O formulário de objeção pode ser encontrado na nossa Central de Privacidade. Essa abordagem é consistente com a nossa atuação e com a forma como outras empresas de tecnologia estão desenvolvendo e melhorando as suas experiências de IA”, disse a empresa no comunicado brasileiro.
Apesar de colocar o link da Central de Privacidade, a Meta não explica um passo a passo de como se opor, o que pode tornar o processo difícil e burocrático para quem não sabe o caminho.
Já em outros países, como o próprio Estados Unidos, essa opção é inexistente – o país não possui uma legislação similar à LGPD brasileira ou GDPR europeia. O The News York Times publicou que, para os usuários estadunidenses, a melhor opção é tornar a conta como privada porque não existe outra alternativa para impedir que a Meta use as fotos e vídeos para treinar IA.
“Embora atualmente não tenhamos um recurso de exclusão, construímos ferramentas na plataforma que permitem às pessoas deletar suas informações pessoais de chats com a Meta A.I. em nossos aplicativos”, disse a Meta em um comunicado publicado pelo NYT.
Veja o passo a passo para se opor ao uso dos seus dados
Direto ao ponto
Está sem tempo? Clique nesse link e seja direcionado direto para o formulário de oposição:: https://www.facebook.com/help/contact/6359191084165019
Pelo aplicativo:
- Clique nos três traços no canto superior direito da sua conta
- Clique em “Sobre”
- Selecione “Política de Privacidade”
- Clique novamente nos três traços no canto superior direito
- Selecione “Outras políticas e artigos”
- Selecione “Como a Meta usa informações para recursos e modelos de IA generativa”
- Procure o link “direito de se opor” que estará no meio da seção “Privacidade e IA generativa”
- Preencha o formulário com seu país, e-mail e justifique a sua oposição, por exemplo: “De acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), tenho direito sobre os meus dados e não dou meu consentimento para que a Meta use as imagens, vídeos, textos, áudios ou qualquer outro conteúdo publicado por mim no Facebook ou Instagram para qualquer desenvolvimento de sua Inteligência Artificial”
Pelo computador:
- Acesse a central de privacidade da Meta neste link.
- Clique na IA generativa
- Em “mais recursos”, clique em “Como a Meta usa informações para modelos de IA generativa
- Procure o link “direito de se opor” que estará no meio da seção “Privacidade e IA generativa”
- Preencha o formulário com seu país, e-mail e justifique a sua oposição, por exemplo: “De acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), tenho direito sobre os meus dados e não dou meu consentimento para que a Meta use as imagens, vídeos, textos, áudios ou qualquer outro conteúdo publicado por mim no Facebook ou Instagram para qualquer desenvolvimento de sua Inteligência Artificial”