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ago 29, 2023 | Destaques, Notícias

Morozov: futuro digital possível não deve atender ao mercado 

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“Se quisermos construir um mundo diferente, precisamos construir plataformas com outra lógica”, disse o pensador e pesquisador bielorrusso Evgeny Morozov, em palestra realizada na segunda-feira, 28 de agosto, em São Paulo. Crítico ferrenho das big techs, o autor de “Big Tech: A ascensão dos dados e a morte da política”, falou para um amplo público sobre as alternativas de futuros possíveis a partir de seu novo podcast “The Santiago Boys”, que retoma a história de um grupo de engenheiros chilenos na década de 70.

Os garotos de Santiago desenvolveram um projeto de Internet socialista e pública, durante o governo do presidente Salvador Allende, que buscava construir uma rede digital nacional livre do controle das grandes empresas de tecnologia norte-americanas da época. Para Morozov, esse foi, apenas com poucas exceções, o último esforço em grande escala em que um país alinhou sua agenda de desenvolvimento tecnológico à agenda de desenvolvimento econômico. 

“No caso do Chile, o foco não estava apenas na construção de um sistema cibernético inteligente para supervisionar a economia do país, tratava-se também de recuperar a empresa nacional de telefonia e fazer com que ela deixasse de atender ao objetivo de lucro de seus acionistas americanos. Os chilenos procuraram redirecionar essa empresa para entender as necessidades de desenvolvimento do Chile. A tecnologia era vista como um elemento crucial no projeto de desenvolvimento mais amplo”, explica o autor.

Para o bielorrusso, esse é um exemplo que pode ser utilizado para a elaboração de futuros possíveis, em que o governo defenda a inovação tecnológica não-mercadológica. Da forma que está hoje, defende Morozov, as big techs se apropriam do futuro da sociedade, com a narrativa do solucionismo tecnológico (a ideia de que a tecnologia é capaz de solucionar qualquer problema, seja de natureza social, econômica ou política) e do controle da infraestrutura e dos dados.

A saída para o cenário, argumenta o autor, é o Estado garantir sua soberania tecnológica e possibilitar a construção de outros ‘solucionismos’, apostando também em uma política que trate das causas dos problemas e não seja direcionada pelos interesses das grandes corporações estadunidenses. Para ele, a soberania não é apenas um produto de orgulho nacionalista, mas a construção de um outro mundo digital possível. 

O autor defende a visão que é preciso analisar a tecnologia e os desafios impostos por ela sob um olhar multidisciplinar, abarcando a visão econômica e política. Em entrevista ao *desinformante, Morozov destacou como a desinformação se tornou um grande negócio guiado pela necessidade de monetizar o olhar dos usuários. 

“Se você realmente quiser resolver este problema, precisamos criar modelos alternativos para gerar informações online que sejam independentes de publicidade. A solução real é fornecer a conexão entre a produção e a distribuição da informação e os anúncios que sustentam isso. Isso requer recursos públicos, fontes alternativas para apoiar a circulação de informação.  Este é um problema do capitalismo que, de alguma forma, mina os seus próprios alicerces porque o capitalismo também precisa ter fontes justas de informação”, argumenta Evgeny Morozov. “É um problema que o capitalismo criou e que também está tentando resolver”, conclui.

Assista aqui a palestra completa:

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