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Após pressão da sociedade civil,  YouTube remove vídeo com discurso de ódio na Índia

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Dez dias após organizações da sociedade civil divulgarem um relatório denunciando a disseminação de discurso de ódio na Índia pelo canal no Youtube do Sudarshan News – veículo de extrema direita com 1,65 milhão de inscritos – a plataforma removeu um vídeo do canal e bloqueou anúncios de vários outros por violarem as diretrizes de publicidade. A ação veio após o fim das eleições no país. 

De acordo com a investigação – conduzida pelo Dalit Solidarity Forum, Indian American Muslim Council, India Civil Watch International, Hindus for Human Rights e Tech Justice Law Project -, 26 vídeos publicados foram denunciados por violar as políticas do YouTube sobre discurso de ódio, desinformação e monetização, durante e após as recentes eleições indianas. Até a publicação do relatório os vídeos não haviam sido removidos, apenas um foi removido 10 dias após a divulgação. 

Desses 26 vídeos mapeados, seis vídeos foram do período pré-eleitoral, três da preparação para as eleições, e mais 17 durante as eleições, “quando o YouTube afirma ter dedicado esforços acrescidos para abordar a questão do discurso de ódio e da desinformação na Índia”, afirma o relatório. Juntos, esses conteúdos tiveram uma audiência de pelo menos 3,5 milhões de visualizações. 

Estima-se também que a plataforma esteja lucrando com o conteúdo do canal Sudarshan através do programa de compartilhamento de receita, mas não há divulgação sobre essa parceria e os montantes envolvidos. “Estimativas sugerem que Sudarshan News provavelmente está ganhando entre $7,600 e $22,900 por mês através de seu canal no YouTube”, indica o relatório.

Alguns dos conteúdos elencados pelo relatório estavam “repletos de desinformação” contra os partidos de oposição da Índia. Seus alvos recorrentes são Asaduddin Owaisi, um líder muçulmano popular e chefe do All India Majlis-E-Ittehadul Muslimeen (AIMIM), Digvijay Singh, ex-Secretário Geral do Congresso Nacional da Índia (INC), e outros membros do INC. 

Por exemplo, um vídeo de 13 de abril demoniza Owaisi modificando sua imagem com características como chifres, dentes salientes, sangue escorrendo da boca e uma língua de cobra. A legenda diz: “morra ou seja morto— Owaisi, ameaçando abertamente os Qafirs (infiéis)”, distorcendo uma declaração do político sobre as ameaças de morte que ele estava recebendo nas redes sociais.

Outro vídeo elencado amplifica uma falsa alegação que o Primeiro-Ministro Modi fez sobre o manifesto eleitoral do Congresso em um comício eleitoral. “Modi mentiu ao afirmar que o manifesto eleitoral do INC incluía uma proposta de política para confiscar os mangalsutras (um ornamento de ouro) das mulheres hindus e distribuí-los entre os muçulmanos”, indica o relatório.

A narrativa de intolerância religiosa também permeou diversos outros conteúdos denunciados pela pesquisa das entidades. O canal “jornalístico” repetiu teorias da conspiração antigas como “Love Jihad” e “UPSC Jihad” e criou uma nova sobre “Vote Jihad” e “Namaz Kurbani.” O “Love Jihad”, explica o site de checagens BOOM, conecta crimes misóginos cometidos por homens muçulmanos contra mulheres hindus em todo o país, e falsamente alega ser uma tentativa organizada por muçulmanos de dominar os hindus. 

“A cobertura desses eventos pelo Sudarshan apresentou uma linguagem odiosa e abusiva contra os muçulmanos. Painelistas no programa se referiram a todos os muçulmanos como “Jihadis” e descreveram toda a área de Jahangirpuri como um ‘mini-Paquistão’— um termo pejorativo para guetos muçulmanos. Além disso, a programação do Sudarshan sobre esses assassinatos incitou os espectadores hindus a se levantarem contra ‘esses homens Jihadis muçulmanos’ que estão atrás de suas ‘filhas hindus’”, coloca o relatório. 

Dcoumento revela conteúdos islamofóbicos

O documento revela também outros conteúdos islamofóbicos e analisa como eles se contrapõem às próprias políticas de discurso de ódio do YouTube, que diz proibir “ódio ou violência contra grupos com base em atributos protegidos, como idade, gênero, raça, casta, religião, orientação sexual”, além de proibir vídeos que buscam “desumanizar membros desses grupos e caracterizá-los como inerentemente inferiores ou doentes”.

O relatório também aponta que os achados dialogam com outras investigações realizadas tanto no YouTube como na Meta, que revela a aprovação de conteúdos e anúncios com desinformação eleitoral e conteúdo odioso. “Grupos da sociedade civil, com acesso a recursos limitados, têm repetidamente apontado, por meio de investigações empíricas, essa lacuna entre o que o YouTube afirma fazer para regular discurso de ódio e desinformação e a realidade de sua plataforma – sem sucesso”, reforçam as organizações responsáveis pela pesquisa.

“Durante o período eleitoral, o Sudarshan News deveria ter sido um alvo óbvio para o YouTube, pois é um infrator reincidente pronto para espalhar propaganda. Se o YouTube não pode lidar com esse conhecido agente de ódio de alto perfil, há pouca esperança de que ele tome qualquer medida para combater o discurso de ódio e a desinformação em nível de plataforma – não apenas na Índia, mas globalmente”, complementam no relatório.

Além das duras críticas à plataforma, os pesquisadores fizeram dez recomendações para o YouTube:

  1. Aplique suas próprias políticas de discurso de ódio e desinformação nos vídeos do canal Sudarshan.
  2. Remova imediatamente o canal Sudarshan do Programa de Parcerias do YouTube, já que os vídeos claramente violam as diretrizes da comunidade e as políticas de monetização.
  3. Divulgue todos os seus acordos de compartilhamento de receita publicitária através do Programa de Parcerias do YouTube, incluindo o Sudarshan News.
  4. Inicie relatórios de divulgação significativos sobre o Programa de Parcerias do YouTube, incluindo relatórios sobre contas monetizadas, receita redistribuída e entidades desmonetizadas.
  5. Assegure a divulgação completa de anúncios e entidades anunciantes, incluindo informações detalhadas sobre estratégias de micro-segmentação e fontes de financiamento.
  6. Melhore os dados de anúncios fornecendo detalhes extensivos sobre o conteúdo do anúncio, duração do anúncio, estratégias de segmentação, métricas de audiência e divulgações de anunciantes.
  7. Invista em fornecer mais contexto e desmentidos, em vez de excluir vídeos.
  8. Tome medidas contra todos os infratores reincidentes, como o Sudarshan News.
  9. Realize uma auditoria independente de terceiros sobre a aplicação das políticas de desinformação eleitoral do YouTube e os remédios fornecidos àqueles expostos ao discurso de ódio, notícias falsas e desinformação.
  10. Consulte membros da sociedade civil, jornalistas, verificadores de fatos e outras partes interessadas de maneira contínua para incorporar de forma significativa o feedback nas políticas e na sua aplicação.
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