O uso de Internet e de celulares aumentou entre crianças brasileiras abaixo de nove anos de idade desde 2015, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (11) pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.BR) durante o evento Dia da Internet Segura, realizado em São Paulo. Em relação ao uso de Internet, o aumento mais significativo foi identificado entre crianças de 3 a 5 anos, que passou de 26% em 2015 para 71% em 2024, um crescimento de 45%.
Para as crianças de 0 a 2 anos, houve um aumento de 35% nos últimos nove anos, passando de 9% para 44%; e para as crianças de 6 a 8 anos o aumento foi de 41%, pulando de 41% para 82%.
A posse de celular, de acordo com a pesquisa, também cresceu entre crianças de 0 a 8 anos. Esse aumento se deu, principalmente, após a pandemia de Covid-19: entre 2015 e 2019, os patamares de crianças entre 3 a 9 anos que possuíam celular permaneceram estáveis, aumentando em 2021.
Em 2015, 3% das crianças de 0 a 2 anos, 6% das de 3 a 5 anos e 18% das de 6 a 8 anos possuíam um telefone celular próprio. Em 2024, os indicadores alcançaram 5%, 20% e 36%, respectivamente.
A pesquisa também apontou desigualdades no acesso à Internet e aos dispositivos móveis. Sobre o primeiro ponto, entre 3 a 5 anos e 6 a 8 anos o acesso aumenta conforme a classe social da criança (como mostra o gráfico abaixo). A posse de celular, porém, tem resultados diferentes: entre 0 a 2 anos e 3 a 5 anos, a dianteira é ocupada por crianças de classe AB, seguidas pelas de C e de DE, entre 6 a 8 anos são as crianças das classes C que possuem mais dispositivos móveis, seguidas pelas de AB e DE.
“A gente está vendo diversos marcadores sociais impactando a distribuição dos benefícios e dos danos de quem acessa à Internet”, comentou os resultados Nathalie Fragoso, diretora na Secretaria de Direitos Digitais do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Esses números são inéditos, pois a principal pesquisa de hábitos digitais por crianças e adolescentes, a TIC Kids Online, só considera pessoas acima de nove anos. Para se chegar aos dados, houve uma reformulação de metodologia sobre os dados da pesquisa TIC Domicílios, levando em consideração as respostas fornecidas pelo responsável do domicílio sobre os hábitos de acesso à rede por menores de nove anos.
Telegram é principal plataforma de casos de abuso e exploração sexual infantil
Durante o evento desta terça-feira, o SaferNet Brasil também divulgou dados sobre denúncias relacionadas à proteção das crianças e adolescentes no ambiente online. Em 2024, o canal de ajuda da organização, o Helpline, registrou um aumento de 26% no número de atendimentos, chegando a 1.617 registros, 335 a mais que o número de 2023.
Houve um aumento de 79% nos atendimentos de pessoas com algum tipo de problema de saúde mental, incluindo aqueles relacionados ao uso excessivo de telas. De acordo com a organização, sobre o tema, foram realizados 204 atendimentos em 2024, contra 114 no ano anterior. Essa questão, inclusive, foi a terceira no ranking geral de atendimentos, perdendo apenas para problemas com dados pessoais (246 casos) e questões envolvendo exposição de imagens íntimas de nudes (268 casos).
Já a central de denúncias de crimes cibernéticos da organização registrou uma queda de 34% no número de novas denúncias, foram 100.077 ano passado, enquanto em 2023 foram registrados 150.847 denúncias. Houve queda de 26% no número de denúncias de crimes relacionados a imagens de abuso e exploração sexual infantil.
A organização também apontou que o número de denúncias de grupos e canais do Telegram contendo imagens de abuso e exploração sexual infantil aumentou 78% entre o segundo e o primeiro semestre de 2024. Nos dois semestres, a Safernet identificou 2,65 milhões de usuários presentes nesses grupos e canais. “Ao ser notificada, a empresa se limita a apagar as evidências e limpar a cena do crime, comprometendo a investigação e garantindo a impunidade dos criminosos”, afirmou Thiago Tavares, diretor presidente da SaferNet Brasil.
Plataformas lançam recursos para proteção de crianças e adolescentes
No evento, representantes do Google e Meta anunciaram novidades para a proteção de crianças e adolescentes no ambiente online. A gerente de Relações Governamentais e Políticas Públicas do Google Brasil, Flávia Annenberg, disse que a empresa está lançando uma série de educação digital para que os pais consigam acompanhar e gerir as atividades dos filhos.
A série, formada por 10 episódios, fornecerá dicas para criação de e-mails mais seguros, para configurar o YouTube Kids e para melhorar as configurações de privacidade das contas dos menores.
O YouTube também está aperfeiçoando o recurso de hora de dormir e pausa, com os comunicados aparecendo em tela cheia para contas de menores de 18 anos, sem precisar ser ativado. Além disso, os uploads de vídeos feitos por essas contas serão, por padrão, disponibilizados apenas de forma privada. Annenberg adiantou que outros recursos, como a verificação de idade, serão lançados pela plataforma em breve.
Já a Meta, que no começo do ano anunciou mudanças importantes no seu funcionamento, anunciou a disponibilização gradual no país da conta de adolescente, nova funcionalidade que traz restrições para perfis de menores de 18 anos. Ao se inscreverem, os adolescentes terão contas privadas por padrão, fazendo com que novos seguidores precisem pedir autorização para ter acesso aos conteúdos publicados. Além disso, essas contas terão restrições de mensagens de pessoas que não as seguem.
Os adolescentes também vão ser automaticamente colocados na configuração mais restrita de controle de conteúdo sensível do Instagram, limitando a exposição a conteúdo sensível, como representações de lutas ou promoções de procedimentos cosméticos em áreas como o Explorar e nos Reels.