O comitê de enfrentamento à desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) formalizou uma parceria com o Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para monitoramento do conteúdo político que circula em grupos no Telegram. A plataforma é das poucas que não responde aos acenos de diálogo da autoridade eleitoral brasileira.
O trabalho capitaneado pelo professor do Departamento de Ciência da Computação, Fabrício Benevenuto, segue o modelo do monitor do WhatsApp, criado em 2018. A equipe de pesquisadores coletou dados em grupos políticos do serviço de mensageria, removendo a identificação dos usuários, e criou um sistema com os conteúdos mais populares em determinado período, colocando a base de dados à disposição de jornalistas e pesquisadores.
Os dados serviram de base para importantes investigações jornalísticas relacionadas às eleições e também durante a pandemia. Um exemplo foi a identificação de áudios falsos que viralizaram no Whatsapp afirmando que havia caixões vazios em São Paulo e Amazonas para provocar pânico na população. O conteúdo foi checado por agências e também desmentido por veículos de comunicação.
Benevenuto espera que o trabalho dê transparência ao que circula no Telegram, especialmente no ano eleitoral de 2022, e a parceria com a UFMG possa apoiar o TSE na tomada de medidas caso haja uma campanha de desinformação massiva.
O monitor de conteúdo político no Telegram está em desenvolvimento pelo departamento de Ciência da Computação e está previsto para janeiro.
Telegram tem duas faces
O professor avalia o Telegram como um aplicativo de duas faces: se parece com o Twitter no desenho dos canais (audiência ilimitada) e quando se olha para os grupos fica mais próximo do Whatsapp, com a diferença que seus grupos comportam até 200 mil pessoas. Um ponto destacado por Benevenuto é que o encaminhamento de mensagens no Telegram aponta o autor original, enquanto no Whatsapp não é possível identificar a primeira mensagem.
Como a plataforma não tem uma política de exclusão de contas, grupos mais radicais e polarizados que, porventura tenham sido removidos de outras redes, podem encontrar ali um espaço de permanência e ativismo.
Matéria publicada pelo jornal New York Times, aponta que o aplicativo tem crescido de maneira sistêmica no Brasil e pode estar se transformando no novo reduto para grupos extremistas de direita. O temor é que possa se transformar no novo instrumento de propagação de fake news durante as eleições presidenciais do ano que vem.