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nov 17, 2021 | Destaques, Notícias

Três pontos para entender o que as denúncias contra o Facebook revelam sobre o Brasil

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A cientista de dados e ex-funcionária do Facebook, Frances Haugen, liberou à imprensa documentos da empresa após deixar seu cargo em maio deste ano. Para analisá-los, um consórcio de 17 veículos de imprensa, que inclui os brasileiros Folha de S. Paulo, Estadão e Núcleo, começou a publicar uma série de reportagens (chamada de Facebook Papers ou Facebook Files) mostrando que a empresa não tinha regras claras nas formas de combater desinformação e discurso de ódio, principalmente no Sul Global, especialmente América Latina e Ásia. O Núcleo criou uma página para agregar todo o conteúdo publicado das denúncias contra o Facebook pelos parceiros brasileiros. Como o Brasil aparece em alguns desses relatórios, apresentamos, abaixo, três pontos cruciais para entender as principais revelações relacionadas ao país:

 

1- A IA do Facebook tem dificuldades com português e idiomas que não sejam o inglês

Para a Folha de S. Paulo, Haugen sugeriu que “o português do Brasil não seja bem amparado pelos sistemas de segurança”. Em outras palavras, as ferramentas baseadas em inteligência artificial (IA) responsáveis por detectar conteúdo nocivo em postagens não são bem treinadas para o idioma.  

Em depoimento ao parlamento britânico, a cientista de dados apontou falhas no discurso da empresa, de que apoiaria 50 idiomas, sendo que grande parte desses não é bem suportada pelo sistema de IA. Até 2020, o grupo não tinha algoritmos capazes de detectar desinformação em birmanês, língua oficial de Mianmar, de acordo com os vazamentos

Isso deve-se ao investimento escasso que a agora chamada Meta faz em países do Sul Global, também confirmados pelos documentos vazados à imprensa por Haugen nas denúncias contra o Facebook. 

 

2- O Brasil não é prioridade, mesmo com violência explícita, desinformação e discurso de ódio evidente nas plataformas do grupo Meta

Segundo a Folha de S. Paulo, em um dos relatórios vazados das denúncias contra o Facebook, recomenda-se que o país seja examinado “seriamente porque a violência explícita continua a ter um alcance maior no Facebook e no WhatsApp no Brasil” do que em plataformas como Instagram, TikTok e Twitter. 

Também foi identificado que a desinformação, bullying, exploração de crianças e discussões políticas com o objetivo de causar polarização são problemas maiores nas plataformas do grupo Meta no Brasil. Há recomendação no documento para buscar entender o motivo do alcance do conteúdo de exploração infantil ser maior do que em outras plataformas no Brasil e na Colômbia. Dessa forma, a investigação do Facebook Papers revelou que conteúdos tóxicos têm maior alcance no Brasil.

Mesmo conhecendo esses problemas, a empresa não adotou nenhuma estratégia capaz de combater rapidamente o mau uso da plataforma, já que os documentos apontam que a rede social vive correndo atrás do prejuízo”. 

3- O Brasil é foco de desinformação de cunho político

Em um relatório intitulado “Dê uma voz a mais pessoas: entendendo alcance e valorando participação no Feed de Notícias”, a empresa de Mark Zuckerberg indica que 3% dos usuários brasileiros são responsáveis por um terço do “conteúdo cívico,” o que o Núcleo entende como publicações de temática política.

No documento com data de julho de 2020, o discurso incendiário político no Brasil é mais encontrado no Facebook do que em outras plataformas, enquanto na Índia está concentrado no TikTok e, nos EUA, no Twitter.  Apesar desse alerta, o relatório pedia que as equipes do grupo Meta continuassem concentradas no conteúdo enganoso relacionado à política que circula em mercados de língua inglesa, como os EUA e Reino Unido, com uma abordagem mais frouxa para os demais países. 

Esse cuidado desproporcional foi visto durante a pandemia. O Facebook chegou a derrubar desinformação publicada em inglês por líderes políticos, como conteúdos do ex-presidente Donald Trump que apontavam que a doença seria menos letal do que uma gripe ou que crianças seriam quase imunes a Covid-19. O presidente Jair Bolsonaro, segundo a Agência Lupa, violou as regras da plataforma ao menos 29 vezes durante o início da crise sanitária e não teve os conteúdos removidos. 

Este é um resumo das revelações iniciais relacionadas ao Brasil. Nas próximas semanas podemos esperar mais notícias sobre o funcionamento das plataformas do grupo Meta. O Núcleo está buscando veículos para expandir essa parceria e ampliar a cobertura. 

Em comunicados enviados à imprensa, a empresa chegou a rebater todos os pontos indicados nos relatórios vazados e apontou medidas que teriam sido tomadas. 

Quer saber mais como o Facebook Papers afetou o mundo? O UOL fez uma lista com outras revelações desses documentos.

 

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