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dez 16, 2021 | destaques, notícias

Telegram é usado para espalhar links com desinformação do Youtube

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Muito tem se falado sobre o Telegram e o papel que ele  pode desempenhar nas eleições brasileiras de 2022. O fato é que, no entanto, ainda temos muito poucos dados sobre o efetivo uso dessa rede no contexto brasileiro. Neste sentido, é pioneiro o estudo feito pelos pesquisadores Leonardo Nascimento (LABHD/UFBA), Letícia Cesarino (UFSC) e Paulo Fonseca (LABHD/UFBA) que acompanhou 150 chats de extrema-direita no Telegram e coletou quatro milhões de mensagens. A pesquisa ainda está em desenvolvimento, mas os primeiros resultados divulgados apontam um caminho preocupante.

Os dados mostram que os links que mais circulam na amostra analisada do Telegram levam ao Youtube. Foram mais de 440 links coletados que levavam à rede de vídeos. O Youtube é seguido de Instagram, Twitter, Facebook e Gettr, mas é de longe a mais citada. Considerando essas cinco plataformas mais acionadas, o Youtube sozinho representa mais que o dobro de links (68,2% do total) das demais (somadas chegam a 31,8%).

Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/sonar-a-escuta-das-redes/post/rede-bolsonarista-lucra-e-dribla-regras-no-youtube-atraves-de-tabelinha-com-telegram.html

O protagonismo do Youtube como fonte de informação já vinha sendo apontado em estudos sobre o funcionamento de grupos do WhatsApp. Isso gerou inclusive o uso da expressão “WhatsApp-Youtube pipeline”, que seria justamente esse caminho de usar o WhatsApp para levar audiência ao Youtube. Para efeito de comparação direta, recortei dados de uma pesquisa em andamento que analisou os links compartilhados em 40 grupos bolsonaristas no WhatsApp em 2020. Esse estudo, conduzido por mim, pelo pesquisador Viktor Chagas (coLAB/UFF) e Juliana Marinho (INCT.DD/UFBA), analisou um total de 24.675 links compartilhados nos grupos monitorados em 2020. Se pegarmos o mesmo recorte que temos no caso do Telegram, ou seja, as cinco plataformas de mídias sociais que mais têm links compartilhados, o Youtube também aparece em primeiro lugar e bem à frente das outras redes. Nessa amostra, os links para o Youtube representam 73,5%. A segunda plataforma, que é o Facebook, aparece com apenas 15,4%. Evidentemente precisamos considerar diferenças metodológicas entre as duas pesquisas (inclusive em termos de tempo e composição da amostra), mas o fato é que os dois estudos apontam para um centralidade similar do Youtube nos dois aplicativos de mensagens.

Precisamos considerar, no entanto, diferenças cruciais na estrutura de funcionamento dessas duas redes. A primeira delas é de escala. É preciso lembrar que enquanto o WhatsApp limita o número de pessoas em grupos a 256, o Telegram permite grupos com até 200 mil pessoas e canais com número ilimitado de inscritos. Ou seja, por mais que o Telegram tenha menos usuários que o WhatsApp, os conteúdos que circulam ali têm uma capacidade de espalhamento gigante, inclusive a possibilidade de sair do Telegram para o WhatsApp, por exemplo. Isso torna o ecossistema comunicacional ainda mais complexo, misturando canais que podem chegar a centenas de milhares de pessoas e conversas interpessoais em ambientes muito próximos e interligados.

O segundo fenômeno relevante é que esse alto compartilhamento de links do Youtube está levando a uma concentração cada vez maior de fontes de informação – ou seja, os links para outras redes são cada vez menos usados. Importante dizer que, em termos de outras redes, os dados sobre o Telegram também mostram um esforço em popularizar links de redes novas, consideradas como mais alinhadas com a extrema direita, por conta da menor moderação de conteúdos abusivos. O Gettr – rede social digital lançada pela equipe do ex-presidente Donald Trump -, por exemplo, aparece entre uma das cinco redes com links mais compartilhados, o que não acontece na amostra do WhatsApp.

Evidentemente a análise de todas essas dinâmicas precisa de mais aprofundamento e também de longevidade, para que padrões temporais – e suas mudanças – possam ser detectados com precisam. O fato, no entanto, é que parece estar se consolidando um comportamento de grupos de extrema direita de usar o Youtube como repositório de seus conteúdos – inclusive com estratégias de escape à moderação da plataforma – e de acionar e monetizar esses conteúdos a partir da mobilização em aplicativos de mensagens. Esse combo já tem se mostrado preocupante, mas pode atingir níveis ainda mais graves no contexto eleitoral de 2022.

 

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