A crise sanitária da Covid-19 mostrou que a desinformação é um problema que traz consequências graves para a sociedade. Existe a necessidade de um plano de ação que busque saídas estruturais para o problema. O *desinformante lista e desenvolve uma série de medidas estruturais necessárias para combater as fake news.
Seguindo essa mesma linha, a comissão para a desordem de informação do Instituto Aspen lançou um relatório que identifica um conjunto de ações e metas em três grandes áreas que visam, em curto e longo prazos, ajudar o governo, o setor privado e a sociedade civil a responder a esta crise nos Estados Unidos. Apesar de o enfoque ser na terra do Tio Sam, algumas dessas recomendações podem ser aplicadas no mundo todo. Abaixo detalhamos cada uma delas.
Recomendações para aumentar a transparência
Nessa frente, as ações são divididas em dois grupos: uso de dados públicos e dados privados. O Congresso deve implementar medidas de proteção para pesquisadores e jornalistas que violam os termos de uso das plataformas para conduzir pesquisas de interesse público. Casos recentes mostram como as plataformas vêm tomando medidas contra pesquisas que ferem suas políticas. A equipe de pesquisadores da Universidade de Nova Iorque (NYU) teve suas contas bloqueadas nas plataformas do grupo Meta, a empresa dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, depois da criação de uma extensão para navegadores para coletar anúncios exibidos a usuários voluntários.
Para aumentar as medidas de transparência, esses anúncios devem ser divulgados regularmente de forma padronizada. Isso evitaria que pesquisadores criassem outros mecanismos para coleção desses dados. Da mesma forma, um acervo com os conteúdos que sofreram moderação de conteúdo também deveria ser disponibilizado para pesquisadores autorizados. Lembrando que hoje muitos desses pesquisadores atuando junto às plataformas estão localizados nos Estados Unidos e Europa, limitando as pesquisas a esses centros urbanos.
Além disso, é preciso criar requisitos legais para que as empresas de tecnologia publiquem regularmente conteúdo de alto alcance, permitindo entender o que está sendo entregue organicamente a grandes audiências.
Recomendações para aumentar a confiança
O relatório recomendou esforços para expor como as desigualdades históricas e atuais de poder, acesso e igualdade são fabricadas e propagadas através da desinformação. Para isso, é necessário desenvolver e escalar ferramentas de comunicação, redes e plataformas que criam mais empatia e fortalecem a confiança no público. Isso é possível através da valorização e promoção da diversidade dos colaboradores e da criação de comunidades que estabeleçam um discurso saudável para a sociedade.
Também é necessário que governos e plataformas atuem juntos para criar novas normas de punição para comunidades e redes que violam a confiança do público e utilizam de seus privilégios para causar danos a minorias ou ao público geral.
Para os pesquisadores, o aumento da confiança também está associado com formas de promover conteúdo confiável que fortaleça cidadãos desamparados ou marginalizados. Para os especialistas só com informação de qualidade e pública será possível combater a desinformação. Por isso, o investimento em jornalismo local a longo prazo é essencial para avançar nessa meta.
Outro ponto importante no fortalecimento da confiança do público é a segurança da informação durante as eleições. Além de melhorar e restaurar a confiança do público no processo eleitoral, ajuda no reconhecimento das instituições. Será necessário uma comunicação proativa que inclua conteúdo educacional atualizado, maior transparência e resiliência no entorno das eleições. Também é importante fornecer uma boa infraestrutura eleitoral e promover auditorias como formas de combater as narrativas falsas.
Recomendações para reduzir os danos
Uma estratégia compreensiva com medidas para neutralizar os efeitos das informações falsas ou incorretas deve ser adotada, definindo os papéis e as responsabilidades dos diversos atores envolvidos. Como sugestão, uma organização independente deve ser criada para desenvolver medidas sistemáticas contra a desinformação através de projetos educacionais, de pesquisa e investimento em instituições locais. Da mesma forma, a participação cívica é fundamental. Investir e inovar em educação online e funcionalidades das plataformas que aumentam a consciência dos usuários sobre desinformação online é fundamental para o sucesso.
A responsabilização dos chamados ́super disseminadores ́, aqueles usuários que são capazes de transmitir uma mensagem a um grande número de indivíduos, é importante. Uma política clara, transparente e consistente deve ser aplicada a esses usuários para que mitiguem o impacto das suas mensagens de forma rápida, independente de sua localização, visões políticas ou papel na sociedade.
Outra forma de reduzir os danos da desinformação é incluir emendas na seção 230 na Lei de Decência nas Comunicações de 1996. Entre as mudanças está retirar a imunidade da plataforma pelo conteúdo de anúncios pagos e postagens promovidas e também conteúdo relacionado à implementação de funcionalidades dos produtos, motores de recomendação e concepção.