O mais novo relatório divulgado pela Global Coalition for Tech Justice concluiu que, durante o megaciclo eleitoral de 2024, as plataformas digitais geraram riscos à integridade eleitoral de diferentes países sem conseguir mitigá-los em nenhuma região do globo. O documento também reuniu estudos e monitoramentos de organizações de países como Brasil, Indonésia e Índia.
“Do Paquistão, passando pela África do Sul, Tunísia e Brasil, o algoritmo tóxico das empresas promoveu postagens incitando violência contra minorias, ativistas, pessoas LGBTQ+ e mulheres”, destacou o relatório. Na Índia, por exemplo, mulcumanos foram espancados pela população hindu depois da circulação de teorias da conspiração e desinformação nas redes sociais.
O relatório, disponível em inglês, levantou 10 impactos das Big Techs no megaciclo eleitoral de 2024, são eles:
- Compromissos e recursos regionais deficientes;
- Falhas na prevenção da propagação online de incitamentos à violência e ao assédio, especialmente dirigidos às minorias;
- Facilitando a violência de gênero online;
- Falhas no combate à desinformação coordenada que compromete a integridade eleitoral;
- Algoritmos que promovem o conteúdo mais prejudicial;
- Censura politicamente motivada em Meta;
- Aplicação abismal de regras e transparência inadequada na publicidade política;
- Não conformidade seletiva e não cooperação com leis e instituições estaduais;
- As plataformas obstruíram o escrutínio independente;
- Falta de transparência e resposta em meio aos crescentes riscos da IA generativa.
A iniciativa, desenvolvida pela Digital Action, também pontuou a assimetria de recursos implementados pelas empresas de tecnologia entre o Norte e o Sul Global. Sobre isso, o documento afirma que os investimentos e recursos que as empresas de Big Tech gastaram na Maioria Global para integridade eleitoral representaram uma fração desigual de seus gastos no Norte Global e nos EUA em particular.
“Além disso, além dos EUA e da UE, e com exceção de grandes mercados de mídia social como Índia e Brasil, a maioria dos outros países tem poder de negociação muito limitado para garantir esforços de integridade eleitoral de plataformas em suas regiões”, pontuou o documento.
Ao longo de 2024, mais de 65 países realizaram eleições ao redor do mundo. Como apontou a iniciativa, os processos eleitorais se deram em contextos em que a população se informa principalmente por meio de redes sociais, o que reforça a importância dessas plataformas no contexto democrático e político contemporâneo.
Ainda em 2023, a iniciativa já alertava para a ineficiência das empresas na proteção das eleições internacionais. Há um ano, a coalizão chegou a publicar uma carta aberta aos líderes das plataformas pedindo mais atenção às eleições do Sul Global.
“Os gigantes da tecnologia preferem lucrar com a destruição da democracia, em vez de garantir que os cidadãos do mundo todo tomem decisões informadas e estejam protegidos da violência online e offline”, afirmou na ocasião Mona Shtaya, coordenadora da Coalizão.
No Brasil, deepfakes e ineficiência no combate à desinformação
O relatório da coalizão também trouxe um balanço das eleições brasileiras municipais do ano passado. Um dos destaques levantados pelo documento foram os resultados do Observatório IA nas Eleições, projeto desenvolvido pelo desinformante, Aláfia Lab e Data Privacy Brasil que mapeou o uso de Inteligência Artificial generativa pelos candidatos e pelo eleitorado. As pesquisas desenvolvidas pelo Aláfia Lab, bem como outras organizações da sociedade civil brasileiras, também foram citadas no documento.
“Enquanto muitos esperavam uma onda de manipulação impulsionada por IA, as eleições viram apenas alguns incidentes notáveis. O Observatório de IA em Eleições relatou um punhado de problemas, como jingles gerados por IA em campanhas de baixo orçamento e deepfakes ocasionais”, pontuou o relatório. Os casos de deepnudes envolvendo candidatas também foram destacados pelo documento, classificando-as como “preocupações sérias”.
“Para o Aláfia é muito importante contribuir com organismos internacionais comprometidos com a democracia. Parte crucial do nosso trabalho é fornecer dados e informações de qualidade com o intuito de contribuir para ambientes digitais mais saudáveis”, disse o diretor-executivo e diretor de pesquisa do Aláfia Lab, Rodrigo Carreiro.
Sobre a atuação das plataformas no país, a coalizão concluiu que, apesar dos compromissos e acordos de alto nível realizados com as autoridades eleitorais brasileiras, as empresas mostraram lacunas significativas no combate à desinformação e na contenção de conteúdo gerado por IA.
“À medida que o Brasil se prepara para as eleições presidenciais de 2026, as lições aprendidas nas eleições municipais do ano passado serão cruciais para moldar a democracia do país. Enquanto o governo e a sociedade civil discutem e constroem as interseções de IA, regulamentação de plataforma e integridade eleitoral, os defensores dos direitos digitais em todo o mundo estão mantendo um olhar atento sobre o que acontecerá no Brasil”, concluiu o relatório.