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Pontos de vista

acervo pessoal

abr 18, 2022 | pontos de vista

Redes de mão dupla, democracia e o primeiro voto da Nina

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Uma das narrativas falsas que ameaça nossa democracia é aquela de que nenhum político presta e que de nada adianta votar porque ´é tudo farinha do mesmo saco´. Esta desinformação que procurou esvaziar e polarizar o debate cívico atingiu em cheio o público jovem, especialmente aqueles entre 16 e 18 anos, que estão aptos, mas não são obrigados a votar. Afinal, com tantos escândalos, fake news rolando solta nas redes, economia em frangalhos impactando as famílias, pandemia e ainda o Enem pela frente, pra que raios tirar o título de eleitor? Qual a prioridade das eleições nas vidas dessas jovens pessoas?

O voto facultativo dos jovens completou 34 anos em 2022 com o pior engajamento da história segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).  No início de março eram 731 mil cidadãos dessa faixa etária aptos a votar. O número representava cerca de 10% dos eleitores dos menores de idade aptos a votarem.

Mas tanto o TSE quanto personalidades públicas brasileiras decidiram reverter esse jogo. O primeiro movimento foi a própria campanha oficial do TSE com a hashtag #roledaseleiçoes.  O tuitaço organizado pelo perfil no Twitter do Tribunal no dia 16 de março contou com a adesão de milhares de usuárias e usuários das redes sociais e atingiu mais de 88 milhões de pessoas num único dia. Depois Anitta, Juliette, Bruna Marquezine, Emicida, entre outros artistas, resolveram por conta própria aderir ao movimento. Quase 100 mil jovens decidiram tirar o título ao final da campanha.

Um levantamento da Diretoria de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP) tentou entender melhor as campanhas de disputa pelo voto jovem nas redes. Entre 1º de março a 6 de abril foram identificadas 287,7 mil postagens no Twitter com hashtags convocando a participação de jovens nas próximas eleições.

Mas, se a primeira ação teve como foco uma chamada, digamos assim, mais neutra, com as hashtags para estimular a correr atrás do título eleitoral, a segunda onda, mais forte e focada, teve endereçamento certo. As hashtags que mais bombaram foram #soujovembolsonaro22, com 146.948 menções e #soujovembolsonaro com 115.812 menções Assim, o momento de maior agitação no Twitter não foi durante a campanha do TSE e das personalidades, mas na reação do núcleo bolsonarista, no dia 26 de março, quando o debate contabilizou 167 mil tuítes.

Segundo Dalby Hubert, pesquisador da FGV DAPP, não foi possível neste levantamento associar conteúdo desinformativo à campanha pelo voto bolsonarista, ainda que a extrema direita concentre a maior parte dos estudos sobre este tipo de conteúdo nas redes. Mas não restaram dúvidas sobre um movimento de reação à convocação inicial que era mais neutra, mas, em alguma medida, convocava para mudança.

Outro candidato que também figurou nas redes atrás do voto jovem foi Lula (PT), com a hashtag #lulapalooza aparecendo em postagens que convidavam jovens a providenciarem o documento. As demais hashtags faziam apelos genéricos, como #roledaseleicoes, do TSE; #tiraotítuloarmy,referente à fanbase do grupo musical Bangtan Boys; e #seuvotoimporta , todas com menos de 3 mil menções.

Enquanto isso, Nina Costa, que faz 17 anos em julho, aguarda ansiosamente seu primeiro voto. “É minha obrigação como cidadã saber o que está acontecendo onde moro e tentar mudar o que acredito que precisa mudar”.

Nina diz que já consumiu muito conteúdo político nas redes sociais – usa instagram, tik tok e whatsapp –  mas acha que o debate está muito polarizado e desinformativo. “Quando vejo uma pessoa próxima repetindo uma fake news eu converso no privado para dar um toque”. Desconfiar do que vê nas redes ela aprendeu com colegas, professores e com a mãe que sempre alertou para o pensamento crítico.

Mesmo estudando em escola particular e convivendo com jovens de classe média, acha que o tempo que eles ficaram em casa nas redes durante a pandemia trouxe uma alienação muito grande e a crença meio cega nos influenciadores digitais.

“Nossa única fonte de comunicação e entretenimento era essa. E ter acesso a tantas redes nessa fase de desenvolvimento é muito perigoso”.

A expectativa para o primeiro voto?

“Esta eleição é muito imprevisível, vivemos numa democracia, mas tem muita manipulação. Sei que vai ser dividida, mas espero que meu voto tenha valor. A escola e as mídias sociais poderiam ter esse papel de conscientizar os jovens para o voto porque nossa escolha de agora afeta a vida de todos no futuro”.

Suspiros e desejo de educação midiática para os jovens navegarem neste mar de mão dupla.

OBS: Para tirar o título de eleitor é muito fácil: tudo pode ser feito em casa, por meio da internet, no Portal do TSE. Basta acessar o Autoatendimento do Eleitor, clicar em “Atendimento ao Eleitor”, selecionar “Tirar o 1º Título Eleitoral” e seguir as instruções da página.

 

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Ana d´Angelo

É jornalista, mãe do Zé e editora do *desinformante.

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