Início 9 destaques 9 Na Maré, Haugen ouve sobre danos das redes sociais sobre a população periférica e negra

Últimas notícias

Ana d´Angelo

jul 7, 2022 | destaques, notícias

Na Maré, Haugen ouve sobre danos das redes sociais sobre a população periférica e negra

Ana d´Angelo
COMPARTILHAR:

Dos encontros com autoridades brasileiras em Brasília e organizações da sociedade civil em São Paulo, a engenheira Frances Haugen passou a tarde de hoje na favela da Maré, no Rio de Janeiro, ouvindo lideranças locais de organizações de direitos humanos, de mídia e tecnologia contarem sobre a internet que sonham para o futuro. E também sobre a potencialização dos danos que desinformação e discursos de ódio nas plataformas provocam em populações periféricas e negras, especialmente mulheres negras.

O encontro organizado pelo Instituto Marielle Franco, que acionou seus parceiros (Data_Labe, LabJaca, Instituto da Hora, Observatório das Favelas, entre outros) no território para este diálogo, foi aberto pela diretora executiva Anielle Franco. “No mesmo dia em que minha irmã foi morta com cinco tiros na cabeça, recebi no grupo de WhatsApp do bairro a primeira fake News sobre ela”, contou a irmã da vereadora Marielle Franco, brutalmente assassinada há 4 anos, um crime ainda sem solução.

“Nos dias posteriores a sua morte segui recebendo uma onda forte de fake news, minhas redes foram tomadas de fake news pesadas. A partir daí a família decidiu criar um instituto para combater injustiças e combater a desinformação”.

Franco falou ainda sobre a violência política, que também se manifesta nas redes sociais, e acaba encurtando o mandato de muitas parlamentares negras e inibindo novas candidaturas. “A violência política de gênero e raça, embora ocorram no mundo digital, está intimamente ligada ao mundo real”.

A cientista da computação e coordenadora do Instituto Da Hora, Nina da Hora, lembrou que a população negra ainda não protagoniza o espaço da internet, objetivo do seu instituto, mas é vítima dos discursos e narrativas distorcidas que circulam nas redes . “Estamos interessados em criar uma contranarrativa tecnológica, um lugar de escuta para se começar a pensar a emancipação dos direitos digitais”.

Kátia Brasil, da Agência Amazônia Real, relatou os ataques que recebeu via Facebook durante a pandemia porque sua agência fez uma cobertura crítica sobre a política do governo brasileiro na situação de emergência na saúde. “Sofremos um ataque misógino, nossas fotos circularam nas redes e chegou-se ao cúmulo de dizerem que estavam enterrando caixões vazios em Manaus”, relatou Kátia um episódio que se tornou conhecido durante a pandemia e que foi desmentido pela Agência Lupa .

Frances Haugen reconheceu que a violência contra mulheres é um fenômeno mundial e reforçou que os impactos e as narrativas das pessoas do Brasil e outros lugares do Sul Global são importantes para “mover as estruturas” das plataformas. “O Facebook dificultou muito o crescimento da internet livre no Brasil. Eles dizem: ´Pagamos o seu uso se usarem nossos produtos´. Isso não é feito por caridade”, sinalizou a engenheira de dados. Ela tem dito em entrevistas que a empresa expandiu sua base de usuários no Brasil graças ao esquema zero rating, em parceria com as empresas de telecomunicações, mas não devolveu em responsabilidade para com os seus clientes.

Haugen respondeu aos questionamentos sobre as falhas das plataformas, especialmente Facebook, com danos para pessoas periféricas, especialmente mulheres negras e população LGBTQIA+. “Para detectar a linguagem que ataca mulheres, Facebook não tem as ferramentas apropriadas para identificar em português. Mesmo no inglês temos problemas.”

Clara Sacco, do Data_labe, afirmou que a briga das grandes empresas de tecnologia do Vale do Silício não vale a pena ser comprada por nós brasileiros. E que devemos gastar nossa energia em construir uma internet livre e segura do jeito que sonhamos.

Marcelle Decothé, do Instituto Marielle Franco, enfatizou a importância da visita de Frances à favela da Maré, como resultado de diálogos e urgências que começaram há muito tempo, caminham devagar, mas caminham. “Somos resistência da colonização brasileira e você estar aqui neste ambiente já é um processo de transformação. O debate sobre o futuro precisa nos incluir”.

Ao final, Frances Haugen disse estar agradecida por ouvir as experiências ali contadas e reforçou a importância de uso das redes sociais para estas narrativas contribuam para as mudanças que todos desejamos.

 

 

COMPARTILHAR:
0
Would love your thoughts, please comment.x