O segundo dia do ciclo de debates “Desinformação, Democracia e Plataformas Digitais” trouxe especialistas para tratar de moderação de conteúdo e a gestão da liberdade de expressão, temas que têm sido tomados em oposição, especialmente nas redes sociais ligadas à política. Já na abertura, Estela Aranha, da OAB-RJ, disse que “Moderação é criar regras para garantir o debate público nas redes sociais e garantir pluralidade, assim ela faz parte da liberdade de expressão”.
Os convidados seguiram nesta perspectiva, considerando a centralidade do trabalho da moderação de conteúdo pelas plataformas digitais, mas observando a necessidade de se dar transparência aos processos e incluir a sociedade civil no debate e nas decisões.
O ciclo de debates vai até o dia 19 de outubro e tem transmissão ao vivo no YouTube do Instituto LGPD. O evento também é promovido pelo Instituto Cultura e Democracia e pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital/USP, com o apoio da Avaaz.
Mariana Valente, do Insper e InternetLab, lembrou que a construção do Marco Civil da Internet no Brasil, em 2014, não contemplou a preocupação com moderação de conteúdo, assunto que hoje tem levado a posições extremas. Valente acredita na legitimidade da discussão tendo em vista o poder econômico e político das empresas e também o juízo de valor embutido nas decisões. “É preciso pensar limites e deveres para as plataformas. Por outro lado, diante do volume postado, a moderação é essencial para garantir o cuidado com o usuário”.
“Hoje é muito difícil falar da moderação de conteúdo e não ser acusado de censor e ditador, tamanha a polarização despertada pelo tema”, refletiu Laura Moraes, da Avaaz. Ela acredita que a falta de transparência das plataformas contribui para este acirramento e defendeu que os usuários possam recorrer em tempo hábil e possam questionar e ser informados sobre o que está sendo removido ou verificado.
Thiago Tavares, da SaferNet, trouxe considerações sobre como é feita a moderação hoje em vários setores da economia, como comércio eletrônico e empresas de mídia, entre outros. E esclareceu que já existem várias tecnologias para detecção e redução de desinformação nas redes, que combinam o trabalho de pessoas com inteligência artificial. “É um mercado crescente e acelerado”, afirmou. Juliano Maranhão, do Legal Ground e da USP, trouxe a preocupação sobre o modo como é feita a moderação hoje no mundo, as condições de trabalho e saúde psíquica de moderadores e a automação. “Existe uma dúvida sobre o uso de ferramentas automatizadas que podem ter acurácia pior para grupos menos favorecidos”, alertou.
O primeiro debate do ciclo trouxe como tema o cenário da regulação das fake news, confira aqui.