Neste domingo, 2 de junho, o México realizará uma das mais importantes eleições na história do país. Mais de 98 milhões de mexicanos irão às urnas escolher o destino de quase 21 mil cargos públicos, incluindo a presidência, que, pela primeira vez, será disputada por duas candidatas – Claudia Sheinbaum, da coligação governamental “Vamos Continuar a Fazer História”, e Xóchitl Gálvez, da coalizão de oposição “Força e Coração pelo México” . Em uma campanha marcada pelo protagonismo feminino, houve crescimento de violência política, incluindo a de gênero, e desinformação com foco nos discursos polarizados.
De acordo com Observatório de Discurso de Ódio e Desinformação do Verificado, agência de checagem mexicana, houve um aumento de violência de gênero com foco em candidatas mulheres à medida que a campanha eleitoral deste ano foi sendo realizada. O maior foco dos ataques estão na esfera municipal (75,19%), seguido pela estadual (14,04%) e, em seguida, a nacional (10,74%).
Até o dia 13 de maio, cerca de 345 pessoas foram denunciadas por violência de gênero no país, conforme apontou o RNPS (Registo Nacional de Pessoas Sancionadas em Matéria de Violência Política contra a Mulher por Razões de Gênero) do Instituto Nacional Eleitoral (INE). Desse número, a grande maioria eram homens, 274 pessoas, enquanto as mulheres foram 71. Em março, durante uma sessão ordinária do INE, a conselheira Carla Humphrey destacou que a maioria desses ataques ocorrem nas redes sociais.
Os casos mapeados durante este mês pelo Verificado são diversos. No início deste mês, por exemplo, a candidata à prefeitura de Santa Catarina, no estado de Nuevo León, Claudia Garza, do Partido do Trabalho (PT), denunciou ter recebido ameaças para que renunciasse à candidatura com ataques diretos aos próprios filhos.
Um dia antes, no mesmo estado, a candidata Linda Padilla, do Partido Vida, para a prefeitura de Guadalupe, chegou a ser baleada. Padilla retirou sua candidatura e se aliou ao oponente Hector Garcia do Movimento Cidadão, sendo substituído também por um candidato homem, Luis Angel Benavides.
No dia 11 de maio, Alessandra Rojo de la Vega, concorrendo à prefeitura de Cuauhtémoc, na Cidade do México, sofreu um atentado ao seu automóvel com arma de fogo. No seu perfil do X (antigo Twitter), a ativista feminina denunciou os questionamentos que recebeu de homens sobre a veracidade da violência sofrida: “Culpar a vítima pela sua incompetência em não encontrar o agressor é sempre a saída mais fácil”.
No âmbito nacional, um mapeamento da agência France-Press mostrou que ataques desinformativos buscam atingir ambas as candidatas à presidência com discursos carregados de preconceito. “Estas declarações e ataques apresentam as candidatas como fracas, incompetentes ou incapazes de liderar”, disse Friné Salguero, diretora executiva do Instituto de Liderança Simone de Beauvoir.
O México também enfrenta uma crise de violência generalizada, fazendo com que as eleições deste ano estejam sendo consideradas a mais letal da história do país. Entre 4 de junho de 2023 a 23 de maio de 2024, 82 pessoas foram assassinadas, de acordo com o mapeamento de violência eleitoral do Laboratorio Electoral. Desse número, 63% foram homens e 37% mulheres.
TikTok ganha destaque na corrida eleitoral mexicana
Com o avanço da corrida eleitoral, os políticos mexicanos estão preocupados em ganhar espaço nas redes sociais, com o TikTok sendo um dos principais palcos de disputas de atenção do eleitorado – como aconteceu na Indonésia e na Argentina em suas últimas eleições. Uma matéria do Rest of World mostrou como os políticos locais estão apelando para danças e coreografias com o intuito de ganhar o os jovens, que representa um terço do eleitorado do país, cerca de 26,2 milhões de pessoas.
“Os candidatos estão muito presos à necessidade de estar presente nas redes sociais, de serem tendências”, disse Alejandra López, cientista política da Universidade Anáhuac. “Ninguém fala de habitação acessível, dos empregos precários que [os jovens] têm de aceitar, da falta de oportunidades para constituir família.”
De acordo com a matéria, os eleitores também estão recorrendo cada vez mais à plataforma chinesa para verificação de fatos e breves resumos de debates televisionados, mostrando a importância que esse ambiente tem ganhado no contexto político do país.
Plataformas anunciam ações, mas regulação do país está desatualizada
As empresas de plataformas digitais como Meta, TikTok e Google publicaram comunicados afirmando que estão reforçando suas atividades para o período eleitoral mexicano. Apenas a Meta prevê ações considerando violência de gênero. Sobre isso, a empresa afirmou que irá reforçar ações contra abusos diversos, como linguagens que incitem o ódio, bullying e assédio, além da difusão de imagens íntimas não consentidas.
Mayra Osório, integrante da Direitos Digitales, lembrou que, apesar das plataformas anunciarem projetos e iniciativas para as eleições deste ano, o México possui um marco regulatório desatualizado em relação à publicidade digital e à sua relação com as plataformas digitais. “É necessário que as autoridades do México construam uma estratégia clara sobre transparência e desinformação nas eleições, sejam claras sobre as diretrizes e normas regionais”, afirmou Osório em texto publicado no site da organização.