Após registrar uma queda significativa de 13 pontos percentuais de 2022 para 2023, o número de brasileiros que evitam notícias voltou a crescer. De acordo com os dados do Instituto Reuters, houve um aumento de 6 pontos percentuais de 2023 para 2024, com atualmente 47% das pessoas evitando deliberadamente notícias. Divulgada nesta segunda-feira (17), a pesquisa anual “Digital News Report” retrata a relação dos usuários com as mídias em 47 países e destacou o aumento da evasão seletiva de notícias.
Para o pesquisador Rodrigo Carro, autor do capítulo sobre o Brasil no projeto, o cenário político brasileiro, principalmente após os ataques de 8 de janeiro e o julgamento de Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral, pode ter contribuído para o aumento da fuga de notícias no país.
“Desde o início de 2023, as prisões e o inquérito legal em andamento têm dominado as manchetes políticas. Combinado com os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia, a pesada agenda de notícias pode ter sido a causa de um aumento acentuado na evasão de notícias”, argumenta Carro.
A pesquisa aponta que um dos motivos para essa evasão é a “sobrecarga”. O número de pessoas que se sentem sobrecarregadas pela quantidade de notícias aumentou 11 pontos percentuais desde 2019, ano em que os pesquisadores realizaram essa pergunta pela última vez. No Brasil, o número foi maior que a média global, o crescimento foi de 16 pontos percentuais, registrando 46% da população com esse sentimento de sobrecarga – o maior nível entre os países pesquisados, empatado com a França.
“Desde que começamos a acompanhar essas questões, o uso de smartphones aumentou, assim como o número de notificações enviadas por aplicativos de todos os tipos, talvez contribuindo para a sensação de que as notícias se tornaram difíceis de escapar. Plataformas que necessitam de volume de conteúdo para alimentar seus algoritmos são potencialmente outro fator impulsionando esses aumentos”, analisou Nic Newman, diretor do Instituto Reuters.
No entanto, apesar do aumento na evasão, a confiança das notícias entre os brasileiros segue a mesma. Após uma queda desde 2021, o índice se estabeleceu em 43% desde o ano passado. O número é maior que a média global (40%). De acordo com a pesquisa, a Finlândia continua sendo o país com os níveis mais altos de confiança geral (69%), enquanto Grécia (23%) e Hungria (23%) têm os níveis mais baixos.
O Digital News Report deste ano também registra o interesse geral pelas notícias em alguns países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o ano eleitoral fez aumentar o interesse em três pontos percentuais, apesar da tendência mundial ser o declínio. Na Argentina, o interesse caiu de 77% em 2017 para 45% atualmente e, no Reino Unido, se reduziu pela metade desde 2015.
Redes sociais são menos acessadas para consumo de notícias
Como todo ano, o Digital News Report 2024 trouxe dados sobre como a população usa as redes sociais para se informar. No Brasil, houve um declínio significativo no consumo de notícias por meio das redes sociais, em 2023 esse número alcançava 57% da população e em 2021 caiu para 51%. Essa queda, no entanto, não refletiu o aumento do consumo por outras mídias, tanto a mídia impressa, a TV e o consumo online registraram queda.
Entre as redes sociais, a que mais registrou queda do uso para notícias foi o Facebook, com menos 6 pontos percentuais, seguido do WhatsApp (-5pp) e X (-5pp).
Mundialmente, a tendência é diferente. Enquanto o Facebook registrou queda do uso para consumo de notícias, outras redes cresceram, como o YouTube e o TikTok, o que o Instituto Reuters destaca como uma tendência para o acesso a notícias por vídeos.
“Diante da nova concorrência, tanto o Facebook quanto o X têm reformulado suas estratégias, buscando manter os usuários dentro da plataforma, em vez de redirecioná-los para publicadores, como faziam no passado. Isso envolveu a priorização de vídeo e outros formatos proprietários. Dados do setor mostram que o efeito combinado dessas mudanças foi uma redução de 48% nas referências de tráfego do Facebook para os publicadores no ano passado e de 27% do X”, revela o relatório.
Com o aumento do uso do YouTube – e 38% dos brasileiros acessando notícias por esse canal -, a pesquisa também revela qual a atenção em torno do conteúdo de notícias no YouTube. Os dados apontam que fontes alternativas e influenciadores online desempenham um papel maior tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, em comparação com o Reino Unido. No Brasil, a mídia tradicional representa 34%, enquanto jornalistas alternativos cativam 42% da população e as celebridades 45%.
O uso significativo de redes de vídeo para o acesso a notícias se justifica, de acordo com respostas dos entrevistados, por três razões. A primeira delas seria por uma crença de que vídeos são mais difíceis de falsificar, permitindo às pessoas formar suas próprias opiniões.Em segundo lugar, menciona-se a conveniência de se ter notícias em uma plataforma onde já passam tempo e que conhece seus interesses. Por fim, destacam também a variedade de perspectivas além da “mídia tradicional”.