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jul 6, 2023 | destaques, notícias

Meta amplia monopólio sobre redes sociais com a Threads

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A Meta aproveitou o declínio do Twitter e lançou nesta semana um aplicativo para concorrer diretamente com a rede do passarinho azul. O Threads foi inaugurado na noite desta quarta-feira (5) e em menos de 24 horas já alcançava 26 miilhões de usuários nos mais de 100 países em que está disponível. Nesta quinta-feira (6), o app já figurava em primeiro lugar dos apps gratuitos da Apple Store. Para Renata Mielli, coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), a empresa percebeu a dificuldade de outros microblogs, como Mastodon e Koo, se estabelecerem de forma relevante no mercado e investiu nessa brecha. Tudo bem se o lançamento de mais uma rede do grupo Meta não representasse a consolidação de um monopólio econômico e do debate público no espaço digital. 

“A Meta compreendeu os entraves para que uma nova rede social se estabeleça. Eu destacaria dois. O primeiro é a interface gráfica, as pessoas desenvolvem hábitos de navegação e as interfaces e as funcionalidades do Koo e do Mastodon são muito diferentes das do Twitter e as pessoas têm dificuldade de se adaptar. O outro elemento é que você entrar em uma nova rede social e começar a construir a sua rede do zero é muito custoso, muito desestimulante”, explicou Mielli.

No Threads, a rede de contatos é importada do próprio Instagram, onde o app é conectado. Ou seja, o usuário não precisa buscar todos os seus contatos novamente. A coordenadora do CGI ressalta que esse “efeito de rede” é crucial para o boom do novo aplicativo, justamente por trazer uma vantagem competitiva em relação às outras empresas. “Porque as pessoas querem ir aonde as outras pessoas já estão”, sintetiza.

No entanto, essa “vantagem” aponta para uma outra questão: a concentração das grandes plataformas. “Como os monopólios já concentram um número imenso de usuários, essas empresas têm facilidade de esmagar a concorrência e oferecer novas plataformas impedindo a inovação, impedindo o ingresso de novos players”, argumenta Renata Mielli.

Essa concentração da Meta é evidente. De acordo com o Digital News Report de 2023, dos quatro aplicativos mais usados pelos brasileiros, três são da Meta (WhatsApp, Facebook e Instagram). Nessa lista, o Twitter é o sexto colocado. Caso o Threads ultrapasse a rede de Elon Musk, o monopólio se tornará ainda maior. 

De acordo com a coordenadora do CGI, a concentração é ainda mais grave em se tratando da Meta, uma empresa envolvida em diversas polêmicas e denúncias, como o  Facebook papers. Há riscos em se concentrar o debate digital, mediar diversas trocas de informações, distribuir conteúdos de forma segmentada e coletar dados massivos dos usuários.

“Isso demonstra cada vez mais a necessidade de nós termos no caso do Brasil uma legislação para regular a prestação de serviço e operação dessas empresas para que elas respeitem e estejam em aderência com a legislação nacional”, pontuou Mielli.

Regulação europeia impediu o lançamento do aplicativo no bloco 

Enquanto no Brasil não há previsão sobre alguns desses temas, na Europa o aplicativo não foi lançado por não se adequar ao que o bloco permite. Um levantamento do Núcleo mostrou que o Threads coleta a mesma quantidade de dados que Instagram e Facebook, mas em comparação a outros rivais do Twitter, como Bluesky e Mastodon, a coleta é massiva. Estão incluídos dados de saúde e finanças, por exemplo.

Na União Europeia, informações confidenciais, como dados de saúde, exigem um padrão mais alto de consentimento explícito para serem processadas legalmente. Além disso, o Digital Markets Act, que deve entrar em vigor ano que vem, impede que empresas “gatekeepers” usem dados de usuários para favorecer seus produtos.

O fato de o aplicativo ser configurado como um braço do Instagram também causou certa revolta nos usuários que perceberam que, para excluir seu Threads precisariam excluir sua conta no Instagram. O chefe do Instagram, Adam Misseri, deu uma explicação:  “O Threads é alimentado pelo Instagram, então agora é apenas uma conta, mas estamos procurando uma maneira de excluir sua conta do Threads separadamente”. 

Concorrência com o Twitter

Além de partir da mesma premissa, o Threads também deve implementar outras funções que são encontradas no Twitter. Adam Misseri disse que as ferramentas de buscas e hashtags ainda serão implementadas e novos recursos serão incorporados. “O verdadeiro teste não é se podemos criar muito hype, mas se todos vocês encontrarem valor suficiente no aplicativo para continuar usando-o ao longo do tempo”, disse Misseri.

O lançamento do app foi adiantado em um dia e ocorreu em uma semana em que a experiência do usuário do Twitter piorou e as críticas aumentaram. Apenas nos últimos dias, Musk limitou o número de tweets que cada usuário poderia ver e restringiu o uso do TweetDeck para assinantes, o que inflou a insatisfação com a rede desde que o bilionário assumiu.

Para Renata Mielli, além do timing, uma outra grande jogada da Meta foi possibilitar que o usuário pudesse publicar no Threads e no Twitter ao mesmo tempo, ou seja, a pessoa não precisa necessariamente abandonar sua conta ou escolher para qual se dedicar. “Eles foram muito ousados porque você tem a integração das publicações não só com o Instagram, mas você pode twittar a partir do Threads, então esse é outro elemento, é outra funcionalidade que pode ser chave para que esse aplicativo da Meta supere rapidamente o Twitter”, prevê.

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