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maio 15, 2024 | Destaques, Notícias

Meta permite (e ganha com) anúncios que desinformam sobre o Rio Grande do Sul

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O grupo de pesquisa NetLab, laboratório da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO – UFRJ), rastreou como a desinformação sobre as enchentes no Rio Grande do Sul vem sendo articulada e impulsionada nas redes sociais. A pesquisa identificou 381 anúncios fraudulentos e 51 anúncios com desinformação sobre o tema circulando nas plataformas da Meta.

Um dos anúncios encontrados pelo grupo de pesquisa mostra a narrativa falsa de que Neymar alugou dez helicópteros para ajudar as vítimas das enchentes. O conteúdo foi checado como falso pela Boatos.org. Outro conteúdo anunciado tira de contexto uma imagem de uma coletiva de imprensa com Eduardo Leite e Lula, afirmando que o presidente “riu diante do assunto da tragédia”. 

Já outros anúncios, além da desinformação, traziam elementos de intolerância religiosa, como o conteúdo impulsionado no Facebook e Instagram que atribui o desastre no RS a uma “punição divina devido ao show da Madonna no Brasil”, que o anunciante afirma ter sido “um ritual satânico”. Outro anúncio afirma que os evangélicos deveriam pedir perdão a Deus por “não terem evangelizado a população atingida pelas enchentes”, dando a entender “que a tragédia é um castigo divino contra o povo”.

Além dos conteúdos desinformativos, foram encontrados anúncios com conteúdos que promovem produtos ou informações falsas com o objetivo de obter lucro, ou seja, anúncios com fraudes. O impulsionamento continha informações para campanhas de doações falsas com links que emulam o conhecido site vakinha.com.br. 

“O maior número de links dos anúncios fraudulentos redirecionam para o site Vakinha. No entanto, alguns desses links são modificados para que se passem pelo site, seja com a URL semelhante e/ou com layouts parecidos. O anúncio da página Ajude o Sul pede doações por meio do link www-vakinha.com/oficial/ajude-o-rs/, que modifica a URL e pode induzir o usuário ao erro. A página foi criada em maio de 2024 e tem a logo da Vakinha em sua foto de perfil”, registra o relatório.

Exemplo de anúncio fraudulento mapeado pelo NetLab

“Fraudes similares ocorreram em outras tragédias e o ponto chave é a falta de regras para o ambiente online. Plataformas são co-responsáveis pela falta de transparência, já que quando solicitadas a remover anúncios suspeitos, o fazem sem revelar às autoridades os dados dos responsáveis pela veiculação”, analisam os pesquisadores do NetLab UFRJ. Procurada, a Meta se posicionou sobre o tema:

“Lamentamos a crise que está afetando o povo do Rio Grande do Sul e nos solidarizamos com todos os afetados pela tragédia das enchentes. Não permitimos atividades fraudulentas em nossos serviços e estamos removendo conteúdos violadores assim que identificados por meio do uso de tecnologia, denúncias de usuários e revisão humana. Investimos, ainda, em campanhas educativas para compartilhar dicas sobre como as pessoas podem se proteger e evitar tentativas de golpes online. Também reforçamos nossa contínua colaboração com as autoridades do Rio Grande do Sul”, disse a empresa por meio de nota.

Narrativas de desinformação sobre as enchentes no Sul

As narrativas desinformativas que circulam em várias plataformas em torno das enchentes também foram tema do relatório publicado pelo grupo de pesquisa. Em geral, elas têm os seguintes objetivos: 

  • afirmar que a resposta governamental tem sido insuficiente; 
  • negar a relação entre os eventos e as mudanças climáticas;
  •  inserir a tragédia nas pautas morais e em teorias da conspiração;
  •  inflar o papel de seus aliados na resposta à crise; 
  • e se beneficiar da tragédia através de autopromoção, pedidos de doação e fraudes.

Ao todo, foram identificadas oito narrativas consolidadas. A primeira delas afirma que “Lula não está comprometido com as vítimas das enchentes”. Nessa linha, circulam informações falsas de que o presidente não enviou os recursos para tragédias que prometeu ao Rio Grande do Sul em 2023. Veja as outras mapeadas pelo NetLab UFRJ:

  • “Marina Silva [ministra do Meio Ambiente] insiste em culpar Bolsonaro pela tragédia”.
  • “Starlink [empresa de Elon Musk] é a única internet que está ajudando nos resgates”
  • “Show da Madonna recebeu recursos que deveriam ir pro RS”
  • “Governo está impedindo que doações cheguem às vítimas”
  • “As chuvas são um castigo de Deus”
  • “A tragédia foi planejada por globalistas”
  • “Figuras de direita estão ajudando mais que o governo”

“Tais conteúdos atrapalham trabalhos de assistência à população atingida pelas enchentes e são utilizados por personalidades que buscam lucrar com a tragédia, bem como obter engajamento ou apoio político. Ao influenciar a política nacional por meio da disseminação online, a desinformação climática se tornou um dos principais motores da tragédia”, conclui o grupo.

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