A Amazônia registra recordes de desmatamento, o povo Yanomami sofre de desnutrição e malária e o garimpo desafia a fiscalização extraindo ouro dos rios. Esse é um pequeno retrato dos inúmeros problemas enfrentados pela floresta e por quem vive nela. Além dessas graves questões, a situação é inflamada, banalizada – e às vezes provocada – por informações falsas. Para mostrar esse cenário e aprofundar o debate sobre o tema, a produtora FALA-histórias para não esquecer e o InfoAmazonia lançaram, nesta quarta-feira (26), o projeto “Amazonas, mentira tem preço”.
“Descobrimos nas investigações que há uma engrenagem muito bem articulada para espalhar notícias distorcidas ou narrativas ilusórias sobre a Amazônia”, destaca Thais Lazzeri, coordenadora geral e diretora da produtora FALA-histórias para não esquecer. O projeto parte da inquietação de descobrir quem produz esses conteúdos e quais os interesses por trás disso, além de entender como isso impacta determinada região.
O “Amazonas, mentira tem preço” foca no Estado que dá nome ao projeto tanto por conter uma grande parte da floresta como por ter a maior concentração de comunidades indígenas no Brasil. A iniciativa busca, além da divulgação das descobertas, conversar com a população jovem do Amazonas sobre os impactos das fake news no dia a dia deles e como isso está relacionado com o futuro deles e da floresta. Para isso, além das reportagens com amplo banco de dados, o projeto vai realizar outras atividades, como a gravação de podcasts com comunicadores indígenas e sobre desinformação para jovens e lideranças da sociedade civil.
Ataques a lideranças indígenas e desinformação governamental
A iniciativa recebeu apoio da Open Society Foundations e é fruto de oito meses de investigação das redes de desinformação no Amazonas. O amplo material coletado pela equipe já começou a ser publicado em quatro matérias exclusivas e vai continuar a ser disponibilizado nas próximas semanas.
Uma das apurações denuncia os ataques a lideranças indígenas a partir de informações falsas por meio de conteúdo viralizado em aplicativos de mensagens. A apuração demonstra também como a desinformação afetou a cobertura vacinal dos povos e prejudicou as reivindicações políticas deles, como também já foi pautado no *desinformante.
A pauta das terras indígenas é abordada ainda na investigação realizada pelo projeto identificando conteúdos do presidente Jair Bolsonaro no YouTube. De acordo com a apuração, há uma narrativa distorcida da “nova Funai” e do “novo índio” que revela uma agenda pró-exploração.
Além de apontar os riscos para os povos, o especial mostra o trabalho de pesquisadores em desinformação no mapeamento de conteúdo enganoso em aplicativos de mensagem. Nesta investigação, a reportagem mostra o sucesso de um filme que utiliza dados falsos sobre a ‘preservação ambiental’ em canais do telegram.
Outro ponto destacado pelo projeto no seu lançamento aborda a desinformação governamental sobre o meio ambiente. Como a agência de checagem Aos Fatos apurou, a temática é recorrente e o presidente Jair Bolsonaro já fez mais de 300 declarações falsas sobre o tema, sendo uma delas a de que o Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente no mundo. Para repercutir a questão e a narrativa da soberania nacional, o “Amazonas, mentira tem preço” entrevistou Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente.