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dez 22, 2023 | destaques, notícias

Memes extremistas encontram no WhatsApp um terreno fértil e protegido

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Como as estruturas das plataformas podem impactar na prática dos usuários? Essa foi uma das questões que norteou o estudo “Memesferas de extrema direita e affordances de plataforma: os efeitos da opacidade ambiental na disseminação de memes extremistas no Twitter e no WhatsApp” do pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF), Viktor Chagas. Os resultados mostram que o WhatsApp possui memes mais persuasivos, com mais propaganda política e mais extremistas que o Twitter.

O pesquisador explica que é praticamente impossível falar de política sem falar em memes porque essa expressão atravessa o universo das campanhas eleitorais e das manifestações políticas e, mesmo tendo seu conceito elaborado ainda da década de 70, o meme tem profunda relação com o digital, onde possui uma certa circulação autônoma. “Essa tem sido uma estratégia empregada por muitos atores políticos durante o ciclo eleitoral, mas também durante o que a gente vem chamando de campanha permanente. O meme se transforma mais do que em uma estratégia de campanha, ele se transforma numa estratégia de comunicação”, coloca Viktor Chagas.

A pesquisa comparou 897 memes que circularam em 120 grupos públicos bolsonaristas no WhatsApp com outros 897 memes de um universo de 260.430 imagens coletadas no Twitter a partir de hashtags com apoio a Bolsonaro. A coleta foi realizada entre os dias 18 de maio a 19 de junho de 2020 e demonstrou que no aplicativo de mensagens circulam mais memes extremistas, negacionistas e conspiratórios do que na rede social de Elon Musk.

Para fazer essa comparação, Viktor Chagas analisou a frequência de memes conspiratórios e desinformativos. No Twitter, esses memes representaram 7,73% da amostra, já no WhatsApp a frequência foi significativamente maior, 40,02%. O aplicativo de mensagens também teve uma frequência maior de memes categorizados como campanha negativa (32,22%) em comparação ao Twitter (16,83%).

O estudo também mostra como o WhatsApp é uma rede mais fechada e propensa a controvérsias que o Twitter. A rede possui um grau maior de memes em apoio ao governo (na época da pesquisa era o governo Bolsonaro), enquanto no Twitter existe uma frequência maior de memes contrários, o que mostra como o site é mais permeável.

“O modo como a plataforma do WhatsApp se estrutura, ou seja, a sua arquitetura influencia definitivamente nesse resultado porque está baseada na estrutura de grupos fechados, aquela opacidade ambiental. Ou seja, na essência da plataforma existe uma opacidade em que você não consegue reconhecer por onde que circula determinados conteúdos,quem segue quem, em que grupos determinados usuários estão, todas essas informações que tradicionalmente no ambiente das chamadas redes sociais online são são apresentadas com um pouco mais de transparência”, explica Viktor Chagas. 

Opacidade do WhatsApp resulta em câmaras de eco

Para o pesquisador, essa opacidade é que o vai resultar no que se denominou chamar de câmaras de eco, ou seja, grupos em que os usuários enxergam apenas a si mesmo e suas próprias atividades, criando um ambiente homofílico, em que só os iguais conversam entre si. “O WhatsApp forma essas bolhas com muito mais eficácia do que o Twitter. Isso não significa que no Twitter não circule o conteúdo de extrema direita, que haja narrativa conspiratória ou desinformação. Muito pelo contrário. Mas a verdade é que o ambiente do Twitter por se tratar predominantemente de uma arquitetura tradicional de rede social online está muito mais propenso à controvérsia”, complementa Chagas.

Sobre essa permeabilidade, a pesquisa acrescenta um dado de que os memes do Twitter precisam muito mais de uma contextualização externa do que os memes que circulam no WhatsApp, que já possuem, na grande maioria das vezes (90,52%) todas as informações para que o usuário entenda o conteúdo. No Twitter, esse número cai para 62,21%.

A análise dos dados também permitiu que o pesquisador chegasse à conclusão que o WhatsApp apresenta uma maior frequência de propaganda política e memes persuasivos em comparação ao Twitter. No WhatsApp, essa frequência foi de 55,85%, já no Twitter chegou a 42.92%.

Por outro lado, o Twitter apresenta maior frequência de memes caracterizados mais claramente como mensagens humorísticas ou memes de discussão pública, em comparação com o WhatsApp. Para os memes categorizados como de discussão pública, foram encontrados 15,83% no WhatsApp e o dobro (30,66%) no Twitter.

A investigação também encontrou uma autonomia entre as “memesferas”, ou seja, não existe uma correlação clara entre o compartilhamento dos memes no WhatsApp e no Twitter. “Isso significa que não são as mesmas pautas, mas que esses ciclos de incidência têm uma relativa autonomia, de maneira que um tema às vezes ganha bastante proeminência no Twitter, mas não tanto no WhatsApp. Isso demonstra mais uma vez que se trata de culturas de plataforma muito diferentes  e que a gente deve observar, essas plataformas individualmente, mas também no seu conjunto porque elas também formam um ecossistema próprio e muitas vezes complementar”, destaca Chagas.

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