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Higor Prestes / Unsplash

jul 22, 2022 | Destaques, Notícias

Meio ambiente é alvo de desinformação nas redes sociais

Higor Prestes / Unsplash
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Poderosos interesses econômicos sempre estão presentes quando o assunto é a exploração de recursos naturais, ou a sua preservação. A pauta do Meio Ambiente, portanto, se torna arena de circulação de desinformação que visa desde questionar pesquisas sobre alterações climáticas, índices de desmatamento até difamar atores e organizações que lutam pela preservação ambiental, por exemplo. No caso brasileiro, ganha destaque a questão da Amazônia. Um levantamento realizado pela Amazonas: mentira tem preço, divulgado em abril deste ano, mapeou mais de 400 vídeos no YouTube com informações falsas sobre a região. Eles somavam cerca de 70 milhões de visualizações e 67 milhões de interações.

O volume de desinformação é diretamente proporcional ao aumento de desmatamento da região. Dados do Global Forest Watch indicam que o Brasil liderou a derrubada de florestas primárias nos trópicos em 2021, já o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais aponta que o desmatamento na Amazônia apresentou recorde. Entre agosto de 2020 e julho de 2021 foram desmatados 13 mil km², um aumento de 76% em relação a 2018.

O relatório “O papel das plataformas digitais na proteção da integridade eleitoral de 2022”, assinado por mais de 100 organizações da sociedade civil, traz uma seção específica sobre o tema que pretende construir uma “uma política de combate à desinformação que afeta a Amazônia e as pessoas que defendem a floresta em pé”, com o objetivo de “evitar que as plataformas de redes sociais sejam utilizadas por atores maliciosos como máquinas de amplificação de discursos de ódio e desinformação em períodos de crises políticas e sociais”.

Viviane Tavares, coordenadora-executiva do Intervozes e do Grupo de Trabalho (GT) Combate à desinformação e discurso de ódio na Amazônia Legal, ressalta como exemplo a onda de desinformação relacionada ao assassinato do ambientalista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. “Nesse caso temos desinformação por meio institucionais, vide Polícia Federal e até o Presidente da República. E por meio de movimentos sociais organizados que propagavam versões desencontradas do caso e até mesmo cortinas de fumaça, como a especulação da Ratabaná [hipotética cidade antiga perdida]. Esse exemplo é muito sério porque trouxe consequências drásticas, inclusive, ao rumo das investigações.”

O GT lançará no X Fórum Social Pan-Amazônico, que ocorrerá entre os dias 28 e 31 de julho em Belém, Pará, um relatório que reúne dados a partir de um levantamento realizado em mais de 200 páginas e perfis digitais. “Como uma prévia de nosso levantamento, vimos que Youtube, Facebook, Instagram, WhatsApp e Telegram são os campeões nas propagações de desinformação, com destaque especial aos serviços de mensageria”, adianta Viviane Tavares.

Thais Lazzeri, diretora da FALA e coordenadora do projeto Amazonas: mentira tem preço, realizado pela FALA e pelo InfoAmazonia, menciona que por um outro monitoramento que fizeram em onze grupos públicos de Whatsapp no Amazonas, a maioria com mais de duzentos participantes, descobriram como a desinformação é usada como estratégia para enfraquecer a luta indígena, dividir comunidades e difamar lideranças. “Nossa análise acompanhou o julgamento da tese jurídica do marco temporal do Supremo Tribunal Federal, que defende que os indígenas só têm direito à terra se nela estivessem em 1988”, contextualiza a pesquisadora, apontando que “um vídeo que circulou nos grupos trazia acusações graves, sem provas, contra duas das principais organizações de base indígenas, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e a Coordenação das Organizações. Mapeamos ainda lideranças difamadas durante o julgamento, o que provoca, no mínimo, cisão dentro das comunidades. O jogo é claro: desinformação contra a demarcação de terras indígenas”.

Amazonas: mentira tem preço / Reprodução

“O YouTube, sem dúvida, é o grande protagonista da desinformação e o centro de produção. Em uma analogia com o tráfico de drogas, é como se os aplicativos [de mensageria] fossem os aviõezinhos e o YouTube a boca de fumo”, afirma o pesquisador Leonardo Nascimento, professor da Universidade Federal da Bahia entrevistado para a pesquisa coordenada por Thais Lazzeri. A coordenadora do Amazonas: mentira tem preço informa que encontraram muitos dos vídeos do YouTube circulando nos dois aplicativos que monitoraram, o Telegram e o Whatsapp. “O YouTube nos disse que retirou vídeos do ar e que canais são penalizados, mas não sabemos quais. Então, quem vai assistir não tem como saber se aquele canal ou mesmo aquele vídeo teve alguma punição por espalhar desinformação, o que impacta a avaliação coletiva e individual” observa Lazzeri, para alertar: “na floresta e no campo, desinformação e fake news podem provocar violência física e insegurança.”

Políticas para combater a desinformação que afeta o meio ambiente

Nas eleições, a Amazônia e o desmatamento serão temas centrais na disputa dos candidatos à presidência e demais postos, como governador, senador e deputado. O relatório sobre o papel das plataformas digitais na proteção da integridade eleitoral de 2022 traz cinco propostas que deveriam ser adotadas pelas plataformas digitais visando o combate à desinformação na pauta socioambiental:

  • Criar um conselho socioambiental dentro das plataformas

Criar um conselho dedicado à agenda climática, socioambiental e aos guardiões da floresta, com a inclusão de entidades atuantes na sociedade civil brasileira para consulta de dados, conteúdo valioso e informação responsável. A adoção de um conselho com atores da sociedade civil focado em questões socioambientais pode, de acordo com o documento, fomentar novas estratégias de combate à desinformação socioambiental.

  • Não monetizar conteúdos negacionistas da crise climática e do desmatamento

O Google, proprietário do YouTube, anunciou em 2021 que não monetizaria conteúdos, anunciantes, influenciadores e editores que neguem a crise climática. A Amazônia, maior floresta tropical do planeta, tem um papel fundamental no combate às mudanças climáticas no mundo. Apesar disso, pesquisas mostram que estão disponíveis vídeos que desinformam sobre a proteção e defesa da floresta, e sobre o desmatamento. O documento solicita que todas as empresas adotem políticas que impeçam a monetização de conteúdos negacionistas sobre crise climática e desmatamento em suas plataformas e que todas elas garantam a efetiva aplicação dessas políticas.

  • Não permitir impulsionamento de canais que desinformam sobre a Amazônia e questões socioambientais

Uma das maneiras de reduzir o alcance de informações falsas sobre o meio ambiente é não permitindo que esses canais façam impulsionamento de conteúdos negacionistas da crise climática. Essa exigência realizada pelas organizações cabe também a perfis e páginas no Instagram e Facebook que trazem conteúdo desinformativo com a temática da Amazônia e de seus defensores.

  • Mostrar advertências e punições a canais relacionados a desinformação socioambiental

A política do YouTube, hoje, não permite ao usuário que ele reconheça canais punidos por desinformar sobre o meio ambiente e os povos da floresta. O documento sugere que a plataforma adote uma política de transparência, informando ao usuário quais são os canais punidos por espalhar conteúdo que desinforma sobre questões socioambientais.

  • Dar transparência e reunir dados dos investimentos de campanhas relacionadas ao clima e ao meio ambiente na biblioteca de anúncios

Hoje, esses dados não estão disponíveis no Brasil, mas são realidade em outros países. Para combater a desinformação socioambiental, é necessário enxergar o panorama completo de anúncios dentro dessas categorias, com dados de quem investiu, data, valor e a campanha em questão, defende o documento. As organizações apontam que também é preciso implementar um protocolo de transparência sobre mídia programática sobre clima, políticas de meio ambiente, uso da terra e direitos dos povos indígenas e quilombolas em suas bibliotecas de anúncios.

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