A partir da revisão de 588 trabalhos, o Painel Internacional sobre o Ambiente Informacional (IPIE, na sigla em inglês) identificou as quatro medidas contra a desinformação mais endossadas por acadêmicos de todo o mundo. São elas: materiais com informações precisas para resolver dúvidas ou corrigir determinado tema, conteúdo de alfabetização informacional e midiática, moderação de conteúdo e rotulagem de conteúdo.
O IPIE se propôs a investigar que medidas contra desinformação podem ser mais eficazes, de acordo com as pesquisas científicas mais recentes.
A revisão de literatura realizada pelos autores identificou pelo menos 11 medidas estudadas nas 588 pesquisas acadêmicas. Veja quais são:
- Política de publicidade: inserir o rótulo de conteúdo pago, por exemplo.
- Rotulagem de conteúdo: rotular postagens, contas e histórias com tags sobre verificação de fatos, financiamento ou publicidade, ou qualquer outra forma de marcação ou sinalização, por exemplo.
- Moderação de conteúdo ou conta: retirar ou marcar conteúdo usando moderação humana ou algorítmica.
- Denúncia de conteúdo: incluir a possibilidade de os usuários relatarem possíveis desinformações em uma plataforma.
- Compartilhamento de conteúdo pelo usuário: limitar o número de compartilhamentos como o WhatsApp fez, por exemplo.
- Informações corretivas: organização, plataforma ou indivíduo fornecer informações precisas sobre determinado conteúdo.
- Divulgação: informar um usuário de que ele entrou em contato, compartilhou ou interagiu com informações incorretas.
- Alfabetização informacional e midiática: educar os usuários a identificar informações incorretas, dando-lhes dicas ou treinando-os.
- Redirecionamento: redirecionar os usuários para informações, contas ou postagens adicionais sobre o tópico.
- Segurança ou verificação: aumentar ou diminuir os requisitos de segurança ou verificação em uma plataforma.
- Autoverificação de fatos: fornecer aos usuários a oportunidade de verificar informações por si mesmos.
Dessa lista, o estudo verificou que quatro medidas foram recomendadas por mais especialistas. A distribuição de “informação corretiva” foi a medida que esteve presente em mais estudos (129), seguido de sugestões para educação midiática (97). A moderação de conteúdo (67) e o rótulo de informações falsas (51) também foram ações endossadas com mais ênfase para o combate à desinformação nas plataformas.
“No entanto, isso não significa que essas contramedidas sejam as mais eficazes. São as soluções mais oferecidas, mas não necessariamente as mais testadas. Algumas publicações medem a eficácia das contramedidas que recomendam, mas a maioria das publicações propõe contramedidas sem fornecer evidências generalizáveis para validação”, destaca o relatório. Essa é uma das lacunas apontadas no estudo.
De acordo com os pesquisadores, poucas publicações testam contramedidas específicas com “dados do mundo real”. “Enquanto 52% das publicações recomendam uma contramedida vinculada à pesquisa empírica, apenas 18% delas relatam a eficácia de uma contramedida. Essa baixa porcentagem pode ser devido a barreiras como considerações éticas, limitações metodológicas, financiamento de pesquisas ou disponibilidade de dados da plataforma”, explica o relatório.
Outro ponto de atenção trazido pela revisão é que algumas das soluções oferecidas são muito amplas para serem testadas e que os métodos com maior probabilidade de trazer perspectivas críticas (entrevistas, grupos focais e análise de discurso) são usados com menos frequência do que métodos quantitativos nos estudos relacionados.
A pesquisa também revela que algumas medidas apresentadas são muito amplas para serem encaixadas em alguma categoria e indica que algumas contramedidas parecem ser pouco estudadas em certos contextos. Por exemplo, a alfabetização midiática é amplamente discutida nas ciências humanas e sociais, mas não nas ciências da saúde e nas ciências físicas.
Por fim, a revisão sistemática evidencia a importância de uma abordagem mais estratégica para entender a eficácia das contramedidas na mitigação da desinformação, além de destacar a necessidade de mais foco, maior consciência dos estudos atuais e passados, métodos mais experimentais para aprimorar as investigações.
O Painel Internacional sobre o Ambiente Informacional foi lançado durante a Cúpula do Prêmio Nobel, realizada em maio deste ano. Trata-se de um consórcio independente e global de cientistas que busca fornecer conhecimento sobre ameaças ao ambiente internacional de informações.
O projeto conta com mais de 200 pesquisadores de 55 países que contribuem com pesquisas e produções em áreas de conhecimento distintas. Nesse estudo específico contribuíram pesquisadores do Reino Unido, Canadá, França, Chile, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, Hungria e França.