O Instituto Vladimir Herzog (IVH) é uma organização da sociedade civil criada em junho de 2009 para celebrar a vida e o legado de Herzog, jornalista assassinado pela ditadura militar que assolou o Brasil entre 1964 e 1985. O IVH tem como missão trabalhar com toda a sociedade pela defesa dos valores da Democracia, dos Direitos Humanos e da Liberdade de Expressão. Nossas ações se organizam em três grandes frentes: Educação em Direitos Humanos; Jornalismo e Liberdade de Expressão; Memória, Verdade e Justiça. Dedicamos também nosso trabalho, de forma transversal, às temáticas de gênero, raça e meio ambiente.
O IVH tem em sua origem o desafio de enfrentar a desinformação. Primeiramente, preservando a memória e verdade do que aconteceu com Vladimir Herzog, já que além de assassinar o jornalista, em 1975, o regime ditatorial tentou ocultar o fato construindo uma encenação farsesca de suicídio que seria atestada em um mentiroso laudo pericial. Tal laudo, e correspondente atestado de óbito, só foi retificado em 2012, portanto 37 anos após o seu assassinato. Entretanto, além de preservar a verdade do que aconteceu com Vlado e lutar por Justiça, também nos engajamos em disseminar o outro lado da história: as informações de quem foi Vladimir Herzog em vida e o legado que ele deixou para nosso país. Não apenas lutar pela verdade sobre sua morte, mas preservar e levar adiante o que Vlado foi em vida.
“Ah! Isso é coisa do pessoal dos Direitos Humanos! Direitos Humanos é defesa de bandido!”. Essas e outras frases mostram como o problema da desinformação afeta diversas instâncias do nosso trabalho e das nossas lutas. Isso ocorre, por exemplo, nas disputas de narrativas e valores envolvidos em estigmas como “bandido bom é bandido morto”; também nas dificuldades de se “furar a bolha”, ou seja, de superar a fragmentação e polarização de grupos sociais com orientações políticos-ideológicos que parecem falar apenas para si e entre si mesmos; em equacionar a defesa contundente da liberdade de expressão com o enfrentamento aos discursos de ódio e a propagação sistemática de desinformação; em enfrentar a falta de memória, verdade e justiça em relação à história de nosso país – o que permitiu que tenha sido eleito presidente alguém que defende a ditadura militar brasileira e faz apologia a torturadores.
Enfrentar a desinformação não é uma opção para quem defende o jornalismo e a liberdade de expressão, mas uma necessidade urgente. Também só conseguiremos avançar na disseminação da cultura dos direitos humanos e de seus valores nas escolas, enfrentando grandes peças de desinformação sistemática, como foi o caso do “escola sem partido” ou do “kit gay”. Por fim, o negacionismo com que tem sido atacada a memória e a história do país – e não apenas em relação à ditadura militar – mostra-se não apenas como um arroubo revisionista, mas como um aparelhamento sistemático das instituições. A desinformação é o motor de movimentos e de grupos antidemocráticos que negam os fatos, as instituições, os direitos humanos, a educação, a ciência e a história.
A atuação dos direitos humanos está inserida em um ecossistema de comunicação e tecnologias digitais em que os desafios relativos à desinformação parametrizam o que é possível fazer e quais os avanços que estão sendo alcançados para garantir a efetividade e o respeito aos direitos humanos, tal como ordenado no art. 5 de nossa Constituição. Portanto, a defesa e promoção da democracia, dos direitos humanos e da liberdade de expressão – o cerne de nossa missão – passa necessariamente pelo enfrentamento deste problema sistêmico.