Em uma análise das mais de 3,3 milhões de postagens no Twitter sobre Covid-19, de janeiro a maio de 2021, foi identificado que links para páginas com reivindicação científica do tratamento precoce tem tempo de vida médio 1,5 vez maior em grupo defensor do que nos demais. Esse é o resultado revelador do estudo “(Pseudo)ciência e esfera pública: reivindicações científicas sobre Covid-19 no Twitter” da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP).
Para fazer essa análise, o grupo da FGV identificou quatro grupos que angariaram engajamento sobre o tratamento precoce no Twitter. Desses conjuntos, o mais populoso é composto por profissionais de saúde, cientistas e autoridades sanitárias que rebatem a discussão do tratamento precoce compartilhando notícias publicadas pela imprensa tradicional. Porém, o grupo é o terceiro em número de interações, com tempo de vida médio dos links compartilhados sobre o assunto de 100 horas. Isto é, o tempo entre o compartilhamento do primeiro tuíte com o link até a última postagem encontrada pelos pesquisadores.
A situação é preocupante no agrupamento de defensores do tratamento precoce. Nesse grupo, a duração dos links em circulação sobre o assunto sobe para 250 horas, o que aumenta a exposição a esse conteúdo desinformativo. “Este resultado sugere que o grupo de usuários que mobiliza a defesa pelo tratamento precoce usa repetidamente as mesmas URLs”, aponta Tatiana Dourado, pesquisadora que fez parte da equipe do estudo. Das páginas compartilhadas por esse conjunto de perfis negacionistas, a FGV DAPP observou que links controversos estavam presentes entre as dez páginas que permaneceram por mais tempo na rede social. Esses sites são alvos recorrentes de verificação de fatos e invalidados pela comunidade científica.
Por exemplo, o link mais compartilhado nesse grupo, e que circulou por mais de cinco meses no Twitter, era sobre defesa do tratamento precoce para Covid-19. Esse conteúdo foi verificado por agências de checagens, como a Lupa, que classificou que o texto se baseia em dados falsos e em análises não reconhecidas pela comunidade científica.
“Isso pode se dar por diversas razões, e uma delas é o fato de que esta rede está empenhada em provar a eficácia de protocolos de tratamento precoce para a Covid-19,” explica a pesquisadora. O grupo de defensores do tratamento precoce também atraiu o maior volume de interações (41,5%) durante esse período, apesar de ser o terceiro conjunto em número de perfis. Isso mostra que esse grupo funciona isoladamente como vetor de circulação de mensagens que promovem a eficácia do tratamento precoce.
“O estudo não foi orientado por um tema, mas, curiosamente, identificamos que pautas como o isolamento social e a vacina, por exemplo, não se destacam entre os links mais difundidos, [como é o caso do tratamento precoce]”, recorda Dourado. A pesquisa mostra que alguns domínios, como a Revista Oeste e o Terça Livre, que investem em um noticiário conspiratório, estão entre os canais informativos preferenciais deste público. Isso acaba caracterizando uma disputa discursiva sobre a pandemia, em vez de medidas sanitárias de efeito. Para ler o estudo completo acesse aqui.