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Jornalistas brasileiros sofreram 44 mil ataques no 1º turno das eleições

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Pelo menos 44.200 ataques contra a imprensa aconteceram durante o primeiro turno das eleições municipais de 2024. Os dados da Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) revelam que, entre 15 de agosto e 6 de outubro, postagens ofensivas se proliferaram em redes como X, Instagram e TikTok. Em parceria com o Laboratório de Internet e Ciência de Dados (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), a CDJor monitorou mais de 450 contas de jornalistas, meios de comunicação e candidatos às prefeituras nesse período. 

De acordo com Bia Barbosa, coordenadora de incidência para a América Latina na Repórteres Sem Fronteiras (RSF) – organização que integra a Coalizão em Defesa do Jornalismo – os ataques a jornalistas são disparados em função de episódios específicos. “É muito raro você ter ataques permanentes a jornalistas específicos ao longo de toda a campanha. Os jornalistas específicos viram alvo quando eles falam alguma coisa, publicam alguma coisa, quando comentam algum episódio específico que aconteceu na campanha, seja no momento de debate entre os candidatos ou no dia a dia da cobertura da campanha eleitoral”, explica Barbosa.

Um dos exemplos que corroboram a análise, comenta a integrante da CDJor, é o caso do laudo falso divulgado pelo candidato à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal contra o candidato Guilherme Boulos às vésperas do 1º turno. “A imprensa rapidamente revelou que não se tratava de um laudo verdadeiro e isso gerou uma onda de ataques a todos os jornalistas e meios de comunicação que tinham feito uma cobertura sobre isso”, destaca.

Além disso, os relatórios revelam que existe uma naturalização de um ataque difuso contra a imprensa e contra o jornalismo. O monitoramento aponta que expressões como “mídia podre”, “jornalismo tendencioso”, “extrema imprensa”, “imprensa militante”, “jornalismo imparcial” e “imprensa vendida” foram frequentemente usadas para descredibilizar profissionais e veículos.

“Uma coisa curiosa que a gente encontrou é que a própria hashtag ‘#GloboLixo’ se consolidou quase como uma hashtag de ataque à imprensa mesmo quando não é uma cobertura de algum veículo do grupo Globo. Você pode estar falando de coberturas do UOL, da Folha de São Paulo, do estado de São Paulo, da Veja e o usuário coloca uma hashtag #GloboLixo”, revelou Bia Barbosa. 

X e TikTok concentram maior parte dos ataques

Além dos termos mais comentados, a pesquisa apontou também as diferenças entre as plataformas analisadas. A coalizão iniciou o monitoramento pelo X e Instagram e publicou seis relatórios parciais, um a cada semana. Durante as três primeiras semanas, o X liderou como a plataforma com mais ataques. Mais de 34.700 publicações, comentários ou menções que remetiam a algum tipo de violência ou discurso estigmatizante contra jornalistas ou meios de comunicação foram publicadas na plataforma.

Após a plataforma ser bloqueada no Brasil no fim de agosto, a CDJor passou também a monitorar o TikTok, que terminou assumindo a dianteira e registrando cerca de 4.400 ataques em 20 dias. Em comparação, 4.800 ataques foram registrados no Instagram, mas durante as sete semanas de monitoramento. “Nos próximos dias devemos receber os primeiros dados após o desbloqueio do X e vamos saber se o número já voltou a subir. Essa é uma tendência, a gente imagina que isso vai acontecer porque, antes do X ser bloqueado, ele monopolizava em termos de quantidade o número de ataques considerando as outras redes sociais que estavam sendo monitoradas no período”, comenta Bia Barbosa. 

Foram analisadas tanto contas de veículos com abrangência nacional, como de jornalistas de nove capitais do Brasil – abarcando todas as regiões e os dados revelam que São Paulo foi a capital que mais concentrou ataques à imprensa. Esse número mais expressivo, revela Barbosa, se deu pela mobilização de apoiadores em torno do candidato à prefeitura Pablo Marçal. “Muitos apoiadores nas suas redes acabaram se manifestando em defesa do candidato e atacando jornalistas e meios de comunicação. Então numericamente os ataques relacionados à campanha de São Paulo foram mais significativos que os ataques praticados contra a imprensa vinculados à cobertura da campanha de outras capitais”, complementa a integrante da Coalizão.

Dialogando com esses achados, o estudo indica que um dos jornalistas mais atacados nas redes sociais durante este primeiro turno foi Carlos Tramontina, que mediou o debate no Flow entre os candidatos à prefeitura de São Paulo e viralizou ao advertir e expulsar Pablo Marçal do debate após repetidas infrações às regras. Além dele, Josias de Souza (UOL), Pedro Duran Meletti (CNN Brasil), Andréia Sadi (GloboNews), Vera Magalhães (O Globo/ CBN), Diego Sarza (UOL), André Trigueiro (GloboNews), Leonardo Sakamoto (UOL), José Roberto de Toledo (UOL) e Daniela Lima (GloboNews) também figuram entre os mais atacados.

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que também integra a CDJor, exemplificou alguns dos ataques mapeados pela Coalizão. Um dos usuários comenta no X: “Não apoio e não voto em Marçal meu norte é Bolsonaro. Mas Intercept é jornalismo CANALHA de militância sem caráter. Foram até lá e não entrevistaram NINGUÉM? Não perguntaram a ninguém sobre o projeto ou sobre Marçal? Não mostraram nenhuma das casas construídas p dentro ou fora?”. Já outro se expressa no Instagram: “Vc é muito infantil prá ser jornalista e logo fazer perguntas pro Pablo Marçal, vc passou vergonha cara é inteligente enquanto vc é meia comunista só levou taca”.

O relatório do primeiro turno também compilou os ataques offline à imprensa em todo o país. Ao todo, foram registradas 14 denúncias entre agressões físicas, verbais, interpelações policiais, processos judiciais abusivos e campanhas de estigmatização. 

A Coalizão em Defesa do Jornalismo é uma articulação de 11 organizações da sociedade civil em defesa da liberdade de imprensa, tendo como principais temas de atuação: proteção e segurança de comunicadores e jornalistas, sustentabilidade do jornalismo e integridade do espaço informacional. Compõem a Coalizão: Artigo 19, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Instituto Tornavoz, Instituto Palavra Aberta, Instituto Vladimir Herzog, Jeduca – Associação de jornalistas de educação e Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

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