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Indonésia vai às urnas após campanha repleta de IA e dancinhas de TikTok

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O megaciclo de eleições deste ano ganha um novo capítulo amanhã, 14 de fevereiro. A Indonésia, terceira maior democracia do mundo, vai às urnas para escolher o próximo presidente do país. A campanha é pautada, entre outros tópicos, pela disputa do eleitorado jovem, pela ocupação das redes sociais – em especial o TikTok -, e pelo uso da Inteligência Artificial.

A eleição presidencial no país do sudeste asiático conta com três chapas encabeçadas por Ganjar Pranowo, Prabowo Subianto e Anies Baswedan. As pesquisas eleitorais indicam que Subianto é o favorito e mantém uma liderança consistente. Boa parte desse sucesso vem da estratégia digital da sua campanha.

Subianto é o atual ministro da Defesa do país e ex-comandante das forças especiais. Sobre ele pesam acusações de crimes contra a humanidade, incluindo raptos e desaparecimentos forçados de ativistas durante protestos em massa no final dos anos 90. Um passado que ele nega e que está sendo paulatinamente esquecido – ou sequer conhecido pelo público jovem – com a imagem que ele propaga de si mesmo nas redes sociais, especialmente no TikTok. 

De acordo com o The Economist, mais da metade dos 204 milhões de eleitores da Indonésia são millennials ou mais jovens e esse é o segundo país com mais usuários do TikTok, perdendo apenas para os Estados Unidos. A média de uso do aplicativo por lá é de 29 horas por mês. Para alcançar esse amplo público, Subianto apostou em – acredite se quiser – dançar.

Com um jeito atrapalhado e um gingado duvidoso, o presidenciável de 72 anos conquistou o público que o acha “fofo”, “bonitinho” ou um “avô inofensivo”. “Prabowo é legal” é um dos comentários em um vídeo do candidato dançando que é o mais popular de seu perfil e possui mais de 50 milhões de visualizações no Tiktok. Em uma entrevista, Subianto, que está pela terceira vez se candidatando à presidência, explicou que “sua dança é inspirada no avô, que fazia o mesmo quando estava feliz”.

O uso estratégico do TikTok para atingir o público jovem também foi visto na campanha argentina que colocou Javier Milei na presidência. Com o uso massivo do aplicativo, Milei alcançou pelo menos sete vezes mais seguidores na rede que a sua rival, Patricia Bullrich, e 34 vezes mais que Sérgio Massa, com quem foi para o segundo turno. No entanto, a lógica de seguidores não segue a mesma na Indonésia. Os adversários de Subianto possuem muito mais seguidores que o ex-comandante, apesar de estarem atrás nas pesquisas eleitorais. 

Gibran Rakabuming, que compõe a chapa de Prabowo Subianto como vice-presidente, não fica para trás no uso da rede e nas dancinhas. Em seu perfil, o candidato tem mais de 20 milhões de visualizações em um vídeo que coloca seu rosto em um outro corpo dançando tipicamente como um tiktoker em uma trend e fazendo um coração com os dedos – gesto muito comum entre os fãs de Kpop.

O candidato a vice-presidente, no entanto, quase não compôs a chapa que está à frente nas pesquisas. Isso porque Rakabuming tem 36 anos e, em tese, a idade mínima legal para concorrer à presidência ou vice-presidência na Indonésia é de 40 anos. Porém, o tribunal do país mudou a interpretação para que ele pudesse concorrer. O detalhe é que Gibran Rakabuming é filho de Joko Widodo, atual presidente da Indonésia, e o presidente do tribunal que decidiu é Anwar Usman, cunhado de Widodo.

Em entrevista ao CIVICUS, Muhammad Isnur, presidente da Fundação Indonésia de Assistência Jurídica (YLBHI) e Secretário do Conselho do Grupo de Trabalho de Direitos Humanos, condenou esse subterfúgio. “Se a elite dominante conseguir alargar arbitrariamente o seu poder, existe o risco de um ressurgimento do tipo de governo autoritário e oligárquico que vimos durante a ditadura de 1966 a 1998”, disse o especialista.

Mas não é só a chapa que está à frente nas pesquisas que aposta na irreverência nas redes sociais, o presidenciável Anies Baswedan também investiu em um tática pouco convencional para atrair a simpatia do público: seus gatos. No Instagram, o presidenciável exibe alguns vídeos dos seus gatos – são quatro no total e possuem uma conta de instagram – fazendo campanha para ele ou fazendo massagens no candidato. Este último acumula mais de 10 milhões de visualizações.

Uso intensivo de Inteligência Artificial fez parte da campanha

As estratégias de redes sociais também foram impulsionadas pelo uso da Inteligência Artificial nas campanhas. A Reuters mostrou que, inclusive com as proibições do uso de determinadas funções pelas próprias empresas de IA – como a OpenAI -, a apropriação da tecnologia foi intensa, principalmente para a produção de peças de propaganda eleitoral.

Um dos principais usos e que teve mais apelo até agora é a versão de desenho animado de Prabowo Subianto e Gibran Rakabuming gerada por IA generativa, especificamente pelo Midjourney. O cartoon que faz com que Subianto seja considerado “gemoy”, uma gíria indonésia para fofo, estampa peças publicitárias, moletons, adesivos e outdoors. Vídeos nas redes sociais colocam os avatares em movimento ocupando ruas e atraindo a atenção do público. 

Reprodução redes sociais

A campanha de Probowo também criou um aplicativo em que é possível que seus eleitores se coloquem em cenas geradas por IA, como, por exemplo, caminhar na selva ao lado do político ou escalar montanhas com o seu candidato a vice, Gibran Rakabuming.

Reprodução redes sociais

A Reuters também destacou o serviço de Yose Rizal, um consultor político que disse ter usado o software GPT-4 e 3.5 da OpenAI para criar estratégias de campanha e discursos hiperlocais, e que já vendeu o serviço para 700 candidatos do legislativo. O consultor disse que vê as eleições da Indonésia como um aquecimento e planeja também levar o seu aplicativo para outras eleições, como a Índia em maio e os Estados Unidos em novembro.

Para a Reuters, a OpenAI, que proibiu o uso do ChatGPT para campanhas eleitorais, disse que está investigando os chatbots identificados. O veículo de comunicação também identificou o uso de IA nas outras duas campanhas. A campanha de Anies Baswedan criou um chatbot para responder perguntas sobre suas propostas no WhatsApp e a de Ganjar Pranowo implementou um painel que usa tecnologia da OpenAI para rastrear dados, prever pontos de discussão e oferecer alertas de mídia social em tempo real.

Assim como é usada pelas campanhas, a IA generativa também foi utilizada para desinformar na campanha eleitoral, conforme noticiou o Channel News Asia. O veículo indicou pelo menos duas peças desinformativas que alteravam a voz do candidato Anies e do atual presidente Joko Widodo para incluírem falas que os comprometem. 

Ao CNA, Khoirunnisa Nur Agustyati, diretor executivo da Associação para Eleições e Democracia (Perludem), disse que mesmo sem o uso de IA, a desinformação foi galopante durante as eleições de 2019 e que com novas ferramentas a situação pode ser muito pior. No entanto, o país não possui uma legislação específica para esses casos, se aplicam apenas regras sobre calúnia e difamação. 

Outros vídeos com o uso de IA para promoção dos candidatos também foram detectados pelo CNA, além do mencionado acima para a dança do TikTok. Em novembro do ano passado, dois vídeos de Prabowo e Aines circularam nas redes com os dois falando árabe fluente, o que foi usado para enaltecer habilidades dos candidatos. 

Em entrevista ao veículo, Titi Anggraeni, especialista em legislação eleitoral da Universidade da Indonésia, disse que as leis são vagas quando se trata desses tipos de desinformação. “As leis apenas proíbem materiais que difamem outro candidato, provoquem agitação civil, (ou que) contenham ameaças de violência e assim por diante. Esses conteúdos são de fato desinformação. Mas eles não estão difamando ou atacando ninguém. Devemos admitir que as leis ainda não estão equipadas para lidar com eles”, disse à CNA.

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