A Real Academia Sueca de Ciências laureou nesta semana o Nobel de Física e o de Química a cientistas que trabalham com sistemas de IA, evidenciando a importância da tecnologia na vida das pessoas e no futuro da ciência. Alertas sobre riscos trazidos pela tecnologia também foram pontuados tanto pelos ganhadores do prêmio.
O Nobel de Física, anunciado na terça-feira (8), foi destinado a dois pesquisadores, John Hopfield e Geoffrey Hinton, responsáveis pelo desenvolvimento recente da IA. O prêmio de 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 5,8 milhões), que será dividido entre os dois, veio pelas contribuições realizadas por ambos para o desenvolvimento do aprendizado de máquina (machine learning, em inglês) com redes neurais.
Ambos foram pioneiros no treinamento das redes neurais com padrões eficientes, o que permitiu aos sistemas identificar e classificar com maior precisão os dados recebidos. O aperfeiçoamento do aprendizado de máquina, no início dos anos 2000, foi fundamental para o desenvolvimento de IAs generativas, como o ChatGPT e o Gemini.
“O trabalho dos laureados já foi do maior benefício. Na física, usamos redes neurais artificiais em uma vasta gama de áreas, como o desenvolvimento de novos materiais com propriedades específicas”, diz Ellen Moons, presidente do Comitê Nobel de Física.
Já o prêmio de Química, revelado hoje (9), foi concedido a David Baker, da Universidade de Washington, e a Demis Hassabis e John M. Jumper, do Google Deepmind. O trio de pesquisadores criaram um programa com IA, o AlphaFold2, para decifrar a estrutura das proteínas e aminoácidos. Por meio do sistema foi possível mapear e entender melhor a estrutura do DNA humano, o que pode impactar diretamente a área da saúde e do tratamento de doenças, como o câncer.
“Em 2020, Demis Hassabis e John Jumper apresentaram um modelo de IA chamado AlphaFold2. Com sua ajuda, eles conseguiram prever a estrutura de praticamente todas as 200 milhões de proteínas que os pesquisadores identificaram”, disse o comitê em comunicado à imprensa. “Entre uma miríade de aplicações científicas, os pesquisadores agora podem entender melhor a resistência a antibióticos e criar imagens de enzimas que podem decompor o plástico.”
Ganhadores do prêmio alertam sobre perigos da IA
Logo após receber a notícia do prêmio do Nobel de Física, Geoffrey Hinton alertou sobre os riscos de consequências ruins do aprendizado de máquina caso as ameaças previstas saiam do controle. Ao The New York Times, Hinton disse que o aprendizado de máquina terá uma influência “extraordinária” na sociedade, comparável à revolução industrial, e que ganhar o prêmio pode trazer mais atenção às preocupações com o futuro da tecnologia.
“Em vez de exceder as pessoas em força física, [a tecnologia] vai exceder as pessoas em capacidade intelectual”, afirmou o psicólogo cognitivo e cientista da computação ao jornal. “Não temos experiência de como é ter coisas mais inteligentes do que nós.”
Apesar de pontuar ganhos positivos, como avanços na saúde e na produtividade, o pesquisador apontou que “também temos que nos preocupar com uma série de possíveis consequências ruins, particularmente a ameaça de que essas coisas fiquem fora de controle”.
Hinton, que já trabalhou mais de 10 anos no Google e saiu da empresa para ter mais liberdade para falar sobre o impacto da IA, é chamado de “padrinho da IA” e vem sendo uma voz crítica em relação à tecnologia nos últimos anos.
Ainda na terça, John Hopfield, professor emérito da Universidade de Princeton, também disse que considera “muito preocupantes” os recentes avanços tecnológicos da IA, alertando para possíveis catástrofes. “Como físico, estou muito preocupado com algo que não está controlado, algo que não entendo o suficiente para saber quais limites poderiam ser impostos a essa tecnologia”, afirmou o cientista de 91 anos.
Segundo Hopfield, os sistemas modernos de IA parecem “maravilhas absolutas”, mas ainda não se compreende bem como funcionam, o que é “muito, muito preocupante”.