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Qual o futuro do mercado de trabalho com a IA?

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Com a promessa de automatizar diversas tarefas, as Inteligências Artificiais vêm sendo aplicadas por executivos e testadas cada vez mais por profissionais de nichos diferentes. Esse movimento, apesar de inicial, vem chamando a atenção de pesquisadores, políticos e trabalhadores que buscam entender os efeitos da IA no mercado de trabalho.

De acordo com o último relatório “Perspectiva do Emprego” lançado neste mês pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), por enquanto, os impactos da IA no mercado são sentidos mais na qualidade do trabalho do que na quantidade de empregos gerados ou perdidos.

A pouca evidência dos efeitos negativos significativos, segundo o estudo, é resultado da ainda baixa adesão dessas tecnologias pelas empresas. Mesmo assim, o documento alerta para a necessidade de um mapeamento da distribuição da criação e da perda de empregos para que esse processo seja o mais inclusivo possível.

A substituição dos serviços humanos pelos sistemas automatizados, porém, parece ser uma questão de tempo. A indústria internacional de jogos já prevê uma reconfiguração da sua força de trabalho, com planos de demissão de programadores nos próximos cinco anos e uso massivo de tecnologias automatizadas cada vez mais aperfeiçoadas, com o objetivo de reduzir os custos de produção.

O engenheiro de software, Masaaki Fukuda, que ajudou a construir a Playstation Network, afirmou à Bloomberg que “nada pode reverter, parar ou desacelerar a atual tendência de IA”. Por outro lado, o receio de desemprego pela substituição também é sentida. “Basicamente, todas as semanas, sentimos que seremos eliminados”, disse Jia Xiaodong, CEO da Gala Technology Holding, ao portal de notícias.

O editor de economia do The Guardian, Larry Elliot, afirma que as IAs colocam em ameaça, principalmente, os trabalhadores de classe média e que os empregos criados poderão ser, em sua maioria, de baixa remuneração. “A mudança não acontecerá da noite para o dia, mas, como aconteceu nas revoluções industriais anteriores, será dolorosa para os afetados, como será para milhões de trabalhadores”, escreveu Elliot.

Profissionais testam IA e levantam pontos positivos

Apesar do receio da perda de emprego pelos sistemas automatizados, pesquisadores e estudiosos da tecnologia também levantam os pontos positivos trazidos pelas IAs no cotidiano profissional. Relatos de trabalhadores colhidos pela OCDE mostram que a aplicação das tecnologias podem trazer, por exemplo, maior redução de tarefas tediosas, aumentando o engajamento do profissional.

Algo parecido é vivido pela publicitária potiguar Marília Lins, que recentemente vem utilizando ferramentas de IA generativa para realizar ajustes em peças gráficas, como completar imagens e trocar elementos. “Faz poucas semanas que estou usando e tem me poupado muito tempo”, avalia para o *desinformante.

Em artigo para a edição impressa da revista Wired, Kevin Scott, chefe do setor de tecnologia da Microsoft, diz acreditar que os sistemas automatizados funcionarão como “copilotos” que ajudarão os profissionais nas suas atividades cotidianas “permitindo que trabalhadores do conhecimento gastem seu tempo em tarefas cognitivas de alta ordem”, enquanto dão conta de aspectos repetitivos do trabalho.

Políticas e negociação podem ser saídas para um futuro mais justo

Para tentar conter um cenário futuro bastante negativo para trabalhadores, a OCDE sugere a criação de ações políticas que tentem colher os benefícios da IA para o local de trabalho, mas que, ao mesmo tempo, não deixe de abordar os riscos pelos direitos fundamentais e bem-estar dos trabalhadores.

Além disso, a negociação coletiva e o diálogo social também têm seus papéis importantes para o desenvolvimento do mercado. “A adoção da IA tende a trazer melhores resultados para os trabalhadores quando seus representantes são consultados sobre o assunto”, avalia a organização internacional.

A promoção da voz do trabalhador também foi considerada uma dos dez princípios de uma aplicação justa de IA no mercado de trabalho pelo projeto de pesquisa Fairwork, vinculado à Universidade de Oxford. Dentre outros princípios definidos pelos pesquisadores, estão o direito do trabalhador de entender os impactos das IAs no próprio trabalho e o direito a ambientes de trabalho seguros, saudáveis e protegidos.

Greve dos roteiristas e atores norte-americanos

A busca pela negociação sobre a aplicação da IA no cotidiano é uma das reivindicações levantadas pelo sindicato dos roteiristas dos Estados Unidos que estão em greve desde 2 de maio junto com a organização de atores de cinema e de televisão do país, em uma união das categorias que os Estados Unidos não via desde 1960.

A editora da revista Wired, Angela Watercutter, chegou a relacionar a paralisação dos roteiristas norte-americanos com o movimento trabalhista ludista, liderado por trabalhadores ingleses do ramo de fiação e tecelagem no século 19, perante a revolução industrial. A editora afirma que, como os ingleses, os escritores não são anti tecnologia, mas se preocupam com as formas de automação e os riscos dela tirarem seus empregos.
Ainda segundo a jornalista, os redatores buscam opinar sobre como a tecnologia irá ser utilizada na produção de filmes. “Se as ferramentas de IA pudessem ser usadas para ajudar escritores – para, digamos, angariar novos nomes para algum planeta de ficção científica – elas poderiam servir a um propósito sem ameaçar o sustento de ninguém”, explica Angela.

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