O TikTok confirmou que alguns funcionários da empresa têm a possibilidade de “impulsionar” vídeos de sua escolha para que tenham um maior alcance. A informação foi trazida por uma reportagem da revista Forbes, que noticiou a existência da função “Heating” (aquecedor, em tradução livre) para selecionar conteúdo da guia “Para você” da plataforma.
De acordo com seis funcionários e ex-funcionários do TikTok e de sua controladora, ByteDance, além de documentos e comunicações internas revisadas pela Forbes, essa intervenção por meio do ‘aquecimento’ é utilizada para atingir um certo número de visualizações de vídeo.
A investigação da Forbes dá força aos rumores que circulam há vários anos, e alimenta o debate sobre a transparência no impulsionamento de conteúdo na plataforma de vídeos curtos. Há alguns casos em que as plataformas impulsionam determinados conteúdos para fins específicos, mas há um rótulo de explicação para os usuários. Como, por exemplo, o Google, a Meta e o próprio TikTok impulsionaram informações confiáveis sobre a pandemia da Covid-19, indicando isso por um rótulo. Essa identificação de impulsionamento, no entanto, não ocorre no caso específico do TikTok.
Fontes relataram à Forbes que a plataforma costuma usar o ‘aquecimento’ para cortejar influenciadores e marcas, atraindo-os para parcerias ao aumentar a contagem de visualizações de seus vídeos. Já a plataforma não nega que utiliza o mecanismo, mas informou que a ferramenta disponibilizada para alguns de seus funcionários tem por função “ajudar a promover a diversidade de conteúdos” e “apresentar celebridades e criadores emergentes à comunidade”.
Um documento ao qual à Forbes teve acesso mostra que os funcionários podem usar o ‘aquecimento’ para “atrair influenciadores” e “promover conteúdo diversificado”, mas o mecanismo também pode ser usado para “enviar informações importantes” e “promover vídeos relevantes que foram perdidos pelos algoritmos de recomendação”. Fontes da revista indicaram que não há uma ausência de critérios claros para o uso do recurso e se sentem “deixados por conta própria” para analisar se um vídeo deve ou não ser impulsionado sem o consentimento dos usuários.
Além disso, há relatos de “incidentes”, em que funcionários abusaram dos seus privilégios no uso da ferramenta, impulsionando vídeos de amigos, parceiros e até de perfis pessoais. Em um deles, uma conta chegou a receber mais de três milhões de visualizações após o “aquecimento”.
A porta-voz da empresa, Jamie Favazza, disse que apenas algumas pessoas, com sede nos Estados Unidos, têm a capacidade de aprovar conteúdo para promoção no país. Além disso, ressaltou que “apenas 0,002% dos vídeos no feed ‘Para Você’ são escolhidos pelos funcionários”. Contudo, relatórios internos obtidos pela Forbes indicam que os “conteúdos aquecidos” representam até 2% do total de visualizações diárias de vídeos.
A revelação da revista, confirmada pelo TikTok, põe em xeque a dinâmica de viralização de vídeos pela plataforma, já que pode haver um “empurrãozinho” feito por funcionários. Além disso, de acordo com a Forbes, alimenta a preocupação de que o governo chinês possa coagir o proprietário chinês da plataforma a ampliar ou suprimir certas narrativas.