Fake news entraram de forma tão definitiva na realidade brasileira, nos últimos anos, que nem crianças ficaram imunes ao vocábulo. Nesta Semana da Criança, resolvemos ouvir pequenos e pequenas conhecidos e conhecidas nossas e amadas, entre 5 e 12 anos, sobre suas impressões sobre fake news. Sem uma pretensão pedagógica ou investigativa, mas com atenção e curiosidade sobre os relatos, percebendo o que compreendem sobre o universo das informações falsas e os problemas por elas causados.
Elencamos quatro perguntas de base e as respostas foram surpreendentes, conscientes e divertidas, como acontece quando paramos para ouvir as crianças. Os ataques às vacinas apareceram nas respostas de cinco delas, Joaquim, José, Maithê, João Guilherme e Valentina. Joaquim e José associaram de imediato as mentiras que circulam sobre vacinas ao dano de as pessoas não se vacinarem e se contaminarem (com a chance de contaminar outros também). A realidade da pandemia ainda paira no imaginário das crianças e seus impactos precisam ser apurados e sentidos.
Nossas perguntas de base foram:
1) Você sabe o que é fake news?
2) Você acha que as fake news atrapalham a vida das pessoas? Como?
3) Qual fake news você mais ouviu nos últimos tempos?
4) O que você acha que dá para fazer para combater as fake news?
As irmãs Lira Flor, 6 anos, e Isis Luna, 5 anos, de Imbituba/SC, gravaram juntas e disseram não saber o que é fake news. “A gente não sabe disso e não viu nenhuma fake news” contaram as duas rindo bastante.
Já Manuela Simões, 7 anos, de Belo Horizonte, respondeu: “Eu imagino que uma fake news pode ser tipo assim uma falsa resposta, uma pessoa tá mentindo, uma falsa resposta, é tipo uma mentira.”
E por que atrapalha a vida? “Eu acho elas atrapalham porque tipo assim a gente acha ‘nossa eu não sei se hoje vai ter educação física ou não, não sei’, aí você acha assim ‘vai, vai ter’ e não tem, aí isso pode deixar a gente chateado”, disse Manuela.
Clara Chita, 9 anos, de Brasília/DF, ´deu a letra´ dizendo que as fake news são mentiras espalhadas pela internet e que infelizmente as pessoas acreditam. Clara, que já morou em São Paulo, também deu uma resposta curiosa sobre o problema que a mentira provoca:
“Tipo uma pessoa acreditar que São Paulo tem muito mais árvores que a Amazônia, daí a pessoa quer um lugar com várias árvores e vai morar lá. Ela pagou toda a mudança pra nada e vai ter que se mudar pra outro lugar.”
Na mesma toada, Lara Rebouças, 10 anos, de Salvador, disse que fake news é uma enganação que pode prejudicar muitas pessoas. O exemplo: “Uma fake news é que manga com leite mata”.
A solução é arregaçar as mangas, no entender de Clara: “Eu acho que nós, crianças, a gente pode tentar fazer algum cartaz pra botar na escola e daí num lugar que também os pais passem por lá e daí pra todo mundo que passar por lá ver que não se pode creditar nas fake news porque você pode acabar se dando mal.”
Joaquim Campos, 10 anos, de Belo Horizonte, e José d´Angelo, 9 anos, do Rio de Janeiro, lembraram que muitas pessoas não tomaram vacina por causa das fake news. “Falaram que virava jacaré e que a vacina tinha um chip”, contou José.
João Guilherme, 7 anos, de Jaboatão dos Guararapes, lembrou que “falaram que a vacina não curava a vida das pessoas”.
E Joaquim ainda mencionou fake news políticas e de gênero. “Quando falam mentiras sobre algum candidato ele é prejudicado porque as pessoas acabam não votando nele”. Ele também trouxe uma temática que é alvo frequente das notícias falsas e do discurso de ódio nas redes sociais: as questões de gênero. “Tem menino que fala que quando um menino faz ginástica, eles chamam o menino de menininha”, pontuou Joaquim, indignado.
As crianças acreditam que o melhor pra combater a desinformação é a informação confiável e que é bom desconfiar das coisas que estão na internet. Maithê Mieko, que já tem 12 anos, aconselhou a diferenciar fake news da verdade a partir de fontes seguras de informação.
“Sei o que é fake news. Fake news são coisas que a gente vê nos lugares, mas não são reais.”, sintetizou para nós brilhantemente a Valentina Benzecry Valle, de 7 anos, que mora em Guajará-Mirim/Rondônia.
E a Valentina Vartuli, de 8 anos, brasileira morando na Inglaterra, descreveu pra nós a dinâmica que torna a desinformação tão rápida e tão difícil de ser combatida:
“Você tá olhando alguma coisa no instagram, no facebook e vê um recado falando tal coisa que não é real, sei lá, pode ser até uma coisa boba. Aí você manda para outras pessoas achando ´gente, não sabia disso que estava acontecendo´, aí vai continuando, aí outra pessoa manda para outra pessoa e vai continuando esse círculo sem fim…aí a população fica prejudicada muitas vezes sem nem saber que está sendo prejudicada”.