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nov 25, 2021 | destaques, notícias

Facebook e Google bancam desinformação, aponta reportagem

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Em 2017, Mianmar sofreu o genocídio de membros da etnia ruainga, grupo étnico praticante do islamismo, incitado em grande parte pelo Facebook, o que resultou na saída de 650 mil pessoas do país, depois de mortes, agressões e estupros. Nesse mesmo ano, apenas dois dos dez sites com maior engajamento no programa Facebook Instant Articles, programa para monetização de conteúdo jornalístico, eram empresas de mídia legítimas, aponta investigação da revista MIT Technology Review. Segundo a reportagem, esse não é o único país em que artigos de mídias suspeitas apareciam na seção reservada para conteúdo de mídia, já que o Facebook parece não adotar critérios rigorosos para o acesso global ao Instant Articles.

Um ano após a catástrofe em Mianmar, a situação piorou. Todos os dez sites com maior engajamento correspondiam a portais clickbait (os caça-cliques) ou com desinformação. Em um país onde o acesso à internet é limitado a redes sociais, como o Facebook, o conteúdo de baixa qualidade acaba tornando-se a principal fonte de informação da população. 

Além disso, a publicação lembra que em países do hemisfério norte a remuneração dos artigos instantâneos não foi bem aceita, considerada insuficiente para editores europeus e norte-americanos. No Sul Global, o Facebook conseguiu adesão de muitas organizações já que esses poucos doláres faziam a diferença.  Em 2018, a empresa chegou a pagar US$ 1,5 bilhão para veículos de mídia, chegando a bilhões de dólares no ano seguinte.

Em 2019, um documento interno do Facebook confirmou que a empresa estava a par da situação, mas não tomou medidas para melhorar sua fiscalização. Indo na contramão, a empresa adotou novas linhas de crédito que ajudam no financiamento de desinformação, como o Ad Breaks nos vídeos do Facebook e monetização do IGTV para Instagram. 

A situação no Google não é diferente, já que o programa AdSense foi responsável por abastecer as redes de desinformação na Macedônia e no Kosovo durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos de 2016. A investigação do MIT Technology Review indica que o Google AdSense está incentivando novos agentes clickbait a postar conteúdo viral de desinformação na busca de ganhos no YouTube.

Essa falta de controle de qualidade permitiu o pagamento de milhões de dólares a agentes de desinformação, alimentando a deterioração dos ecossistemas de informação em torno do mundo.

 

Camboja e Vietnã: onde a monetização de veículos ilegítimos impera

Essa investigação do MIT Technology Review foi baseada em entrevistas com especialistas, análises de dados e documentos que não estavam incluídos no caso Facebook Papers, iniciado após a divulgação de documentos da empresa pela ex-funcionária Frances Haugen. Para esse estudo, o MIT Technology Review fez parceria com o Instituto de Integridade (que disponibilizou o código-fonte) e focou na investigação de páginas do Camboja e do Vietnã, dois dos países onde as operações clickbait estão lucrando com a situação em Mianmar. 

A reportagem indicou que mais de 2.000 páginas em ambos os países estavam envolvidas em comportamento semelhante ao clickbait. Inclusive mais 20 páginas sediadas no Vietnã estavam em português. Esses números podem ser ainda maiores, já que nem todas as páginas do Facebook são rastreadas pelo CrowdTangle.

Durante seu depoimento no Senado, em outubro deste ano, Haugen destacou as falhas fundamentais do controle baseado em conteúdo, uma prática do Facebook que apresenta falhas graves. A estratégia atual das plataformas, focada no que pode e não pode aparecer em suas redes, é apenas reativa e nunca abrangente, provocando consequências danosas para grupos mais vulneráveis, enquanto as empresas lucram cada vez mais.

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