A maior provedora de moderação de conteúdo para o Facebook na África, a Sama, anunciou que irá interromper suas atividades para a gigante de tecnologia a partir de março. A companhia também prevê cortes de 3% no quadro de funcionários, principalmente em Nairobi, no Quênia. Meta nega que o encerramento das atividades prejudique a revisão de conteúdo na região.
A empresa prestadora do serviço justificou tal medida pelo “clima econômico atual” e por uma reorientação de negócios em tecnologias e plataformas adjacentes. “Isso significa que descontinuaremos nosso trabalho que não esteja alinhado a essa visão”, trouxe no informe.
Sediada em São Francisco, Califórnia, a companhia é ré junto com a Meta no processo movido em maio de 2022 pelo ex-moderador de conteúdo Daniel Motaung, que culpabiliza as duas organizações por diversas violações da legislação no Quênia, como trabalho forçado e tráfico humano. Motaung trabalhou na corporação e afirma ter passado por um cotidiano traumático, com baixos salários e exposição a conteúdos violentos e perturbadores.
Cori Crider, co-diretora da Foxglove, organização não governamental que apoia o processo do ex-moderador queniano e a luta dos profissionais no país, disse à Time que o encerramento da parceria entre as duas companhias pode indicar uma manobra da gigante de tecnologia para burlar melhorias nas condições trabalhistas.
“No momento em que parece que a Meta está em apuros legais por causa de suas péssimas condições de trabalho, a empresa passa a se esconder atrás de uma firma diferente”, afirmou Crider.
Em resposta, a Meta afirma que a paralisação dos serviços da companhia não prejudicará a moderação de conteúdos prejudiciais na região.
A Sama se apresenta formalmente como uma companhia de processamento de dados com foco em Inteligência Artificial. Seus centros operacionais estão no Quênia, Uganda e Etiópia.
Neste último, país marcado por uma guerra civil, o Facebook também enfrenta um processo por promover o ódio viral e a violência por meio da moderação de conteúdo ineficiente em comparação a outras localidades, principalmente os Estados Unidos.
A discrepância dos esforços da empresa em analisar o conteúdo no país sede e em outras regiões, principalmente no sul global, foi pontuado pela ex-funcionária da gigante de tecnologia, Frances Haugen, quando ela esteve no Brasil. Haugen afirmou que há ausência de investimentos por parte do Facebook em outros idiomas além do inglês.
A dianteira do norte global na moderação, inclusive, foi evidenciada em dezembro por pesquisadores brasileiros que mapearam o mercado global. Das vagas encontradas, apenas 5,5% das vagas para profissionais moderadores estavam na África.