A edição 2024 da pesquisa Desigualdades Informativas lança luz sobre como diferentes grupos da sociedade brasileira consomem informação – e revela desigualdades significativas nesse processo. O estudo mostra que, apesar das redes sociais serem a principal fonte de informação para a maioria dos brasileiros, é entre pessoas que se identificam com a extrema-direita que essa preferência se acentua: 78,3% delas afirmam buscar nas redes sua principal fonte informativa.
Os dados revelam padrões distintos de consumo conforme posicionamento político, gênero, classe social e até região do país. Jornais e revistas impressos, por exemplo, têm os menores índices de consumo, com 10,5% e 7,3%, respectivamente. No entanto, veículos tradicionais como G1, O Globo, CNN Brasil, Record e SBT ainda figuram entre os mais acessados dentro das redes sociais, o que evidencia sua permanência como referência informativa, mesmo em ambientes digitais.
Redes sociais predominam
Segundo o levantamento, 51,6% dos brasileiros dizem preferir as redes sociais como canal para se manterem informados. Dividindo a dianteira com as redes sociais, a TV é indicada por metade das pessoas, seguindo com um papel relevante como canal tradicional no qual o público obtém informações.
“Neste ano eleitoral, o acesso direto a sites de notícias também foi significativo em comparação aos sites de buscas e aplicativos de mensagens instantâneas, reforçando a hipótese de que eventos importantes, como o pleito municipal, provocam uma procura maior por veículos jornalísticos”, apontou o estudo.

Entre os espectros políticos, a adesão é mais alta na extrema-direita (78,3%) e decresce em direção à esquerda: direita (60%), centro (54%), esquerda (57,1%) e extrema-esquerda (38,5%) .

Instagram, YouTube e Facebook lideram o ranking das plataformas mais usadas. O Instagram é o destaque, citado por 68,8% dos entrevistados. Já YouTube e Facebook vêm logo depois, com 55,9% e 43,7%, respectivamente.
A pesquisa revela, ainda, que gênero influencia diretamente as preferências informativas. Enquanto 48,2% das mulheres utilizam o Instagram como principal fonte de informação, apenas 34,4% dos homens fazem o mesmo. Já o YouTube é mais procurado por eles: 29% dos homens acessam a plataforma para se informar, ante 18,2% das mulheres.
Além disso, homens tendem a usar mais sites de notícias (40,5% frente a 36,4%) e também demonstram maior interesse por podcasts (13,3% ante 9,1%). Por outro lado, as mulheres recorrem mais aos programas de TV (53,5% delas, contra 45,3% dos homens) e ao WhatsApp (91,6% frente a 88,4%), evidenciando trajetórias de informação distintas entre os gêneros.
Consumo de informação política
Quando o foco é a informação política, o relatório revela uma clara escalada no consumo via redes sociais conforme se caminha da esquerda para a direita no espectro ideológico. A extrema-direita lidera com 67,4% dos seus integrantes usando redes como principal canal para temas políticos, enquanto a extrema-esquerda registra o menor índice, com 35,4%. Centro e esquerda, por sua vez, demonstram preferência por programas de TV – 51,7% e 49,2%, respectivamente.

As fontes informativas também se fragmentam conforme a posição política: direita e extrema-direita priorizam portais como Record, Jovem Pan e SBT; já a extrema-esquerda busca alternativas como Carta Capital, Revista Fórum e Brasil de Fato.
No centro e na esquerda, os nomes mais mencionados são G1, O Globo, CNN Brasil e UOL, com destaque para o R7 entre pessoas que se identificam com o centro político. A segmentação das fontes revela uma polarização não apenas nas opiniões, mas também nos caminhos de acesso à informação.
WhatsApp é ferramenta central da informação
O WhatsApp despontou como a principal plataforma de mensageria para o consumo de notícias, utilizado por 90,1% dos entrevistados. Apesar de o Telegram e o Facebook Messenger registrarem percentuais menores (32,4% e 35,1%, respectivamente), o Telegram apresenta um uso mais intenso para consumo de conteúdos em grupos e canais abertos.
Informação e desigualdade caminham juntas
O estudo parte de uma premissa central: o acesso à informação e a forma como ela circula não são iguais para todos. O consumo informativo sofre influência de fatores sócio-raciais, econômicos e culturais.
Jovens entre 25 e 34 anos, por exemplo, são majoritariamente informados pelas redes sociais (61,3%), enquanto a televisão ainda predomina entre pessoas com mais de 45 anos (55,2%). A escolha das plataformas também varia: o Instagram é mais usado como fonte de informação por negros (45,8%) do que por brancos (37,2%), enquanto o X (ex-Twitter) aparece de forma mais expressiva entre os brancos (9,7%) do que entre os negros (5,8%).
Já o YouTube é mais consumido por pessoas com mais de 45 anos (31%) e tem maior adesão entre quem ganha acima de R$ 28 mil mensais (33,3%) do que entre quem vive com até um salário mínimo (23,6%). O Kwai, por sua vez, se destaca entre as faixas de menor renda.
“Diariamente, esse cenário é alimentado por informações que circulam a partir de fontes tão distintas quanto diversas em termos de linguagem e modos de uso, abrindo espaço para um ecossistema de mídia cada vez mais complexo”, afirma o Aláfia Lab no relatório.
Pesquisa ouviu mais de 1.500 pessoas em todo o país
Realizado pelo Aláfia Lab, o estudo Desigualdades Informativas tem como objetivo investigar como os diferentes hábitos de consumo de informação impactam a vida social e política da população brasileira. Em um cenário cada vez mais mediado por plataformas digitais, a pesquisa busca entender quais caminhos as pessoas percorrem para se informar, as desigualdades de acesso entre diferentes grupos sociais e os incentivos das próprias plataformas na formação desses hábitos.
Nesta edição, foram entrevistadas 1.549 pessoas com 18 anos ou mais, de todas as regiões do país, entre os dias 10 e 13 de outubro de 2024. A coleta foi feita por telefone, por meio de um questionário estruturado. O levantamento ajuda a lançar luz sobre como se estruturam as escolhas informativas no Brasil contemporâneo e o que elas revelam sobre o país.