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Reprodução Jornal da Cultura

out 5, 2021 | notícias

Estudos científicos mal executados contribuíram para onda de fake news sobre Covid-19

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Um grupo de pesquisadores brasileiros buscou entender como alguns estudos científicos mal executados, e duvidosos do ponto de vista metodológico, podem ter contribuído por uma onda de desinformação no país e para a aposta do governo brasileiro no chamado “tratamento precoce” ou Kit Covid. Esta decisão envolveu vultuoso investimento – a BBC Brasil publicou que o gasto com produção desses medicamentos foi de quase R$ 900 milhões – além de levar à morte um número não calculado de pessoas que foram submetidas a este tratamento considerado ineficaz pela Organização Mundial da Saúde (OMS). . O ensaio How a few poorly designed COVID-19 studies may have contributed to misinformation in Brazil: the case for evidence-based communication of science foi publicado em setembro de 2021 e traça uma análise desde as primeiras comunicações sobre hidroxicloroquina, ivermectina e nitazoxanida e como isso pode ter desencadeado uma onda de desinformação reforçada por outros estudos e pelo próprio governo.

Em fevereiro deste ano a revista Nature já havia publicado uma pesquisa destacando a qualidade dos estudos científicos sobre Covid-19. O resultado dos 686 artigos analisados dentre os 9.895 coletados indicava que os níveis de qualidade metodológica de pesquisas sobre Covid eram inferiores a pesquisas anteriores considerando, por exemplo, o tempo de aceitação e revisão desses papers. 

Já na discussão relativa aos estudos no Brasil,  os autores mencionaram, por exemplo, a repercussão de um dos primeiros estudos sobre hidroxicloroquina e azitromicina. O estudo sequer foi publicado em uma revista científica e sim postado em um arquivo de Dropbox e encaminhado via WhatsApp para cientistas e jornalistas, o que acabou alcançando a comunicação científica nacional e internacional, além da mídia. Esse artigo, porém, além de não ter sido submetido ao escrutínio da academia, não possuía rigor metodológico. 

Os autores indicaram que os pacientes não tinham sido randomizados, ou seja, escolhidos aleatoriamente, além de não terem sido testados para a confirmação da presença do coronavírus. Outros erros científicos foram apontados, como a falta de esclarecimentos sobre as causas das mortes e hospitalizações, além de violações de  aspectos éticos relacionados à pesquisa.

Este estudo relatando, de forma comprometida e enviesada, os efeitos positivos de tratamento precoce para Covid-19 acabou tendo grande repercussão.  Essa leitura errada, além do enviesamento de dados, promoveu outras pesquisas que buscavam reforçar esse resultado, além de criar um imaginário popular sobre a eficácia desses e outros remédios. “Os papers ruins não contribuíram com a desinformação só de profissionais de saúde, mas afetaram governo, leigos, toda a sociedade”, destacou Charles Lucena, doutorando em Epidemiologia na Universidade Federal de Pelotas e autor principal do paper

“Quando os trabalhos deram resultados positivos, o que se viu é que se tratavam de estudos  metodologicamente ruins, falhos, com problemas no tamanho e na seleção de amostras”, acrescentou Lucena.

Prevent Senior

Uma das faces mais dramáticas das consequências que pesquisas apressadas ou sem rigor metodológico podem causar foi vista na última semana  na CPI da Pandemia no Senado Federal.  A advogada Bruna Morato, que representa médicos que trabalharam na Prevent Senior, fez graves denúncias em seu depoimento como, por exemplo, a suposta coação sofrida pelos médicos para que receitassem medicamentos sem comprovação científica e a suposta utilização de pacientes nestes experimentos sem o consentimento deles.

 

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