A desinformação é uma barreira à coesão, à ação e a um futuro habitável para todos, é o que conclui o mais recente relatório da CAAD (Climate Action Against Disinformation), uma coalizão internacional de 50 organizações compromissadas em combater a desinformação climática. Publicado na véspera da 28º edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP28, o relatório apresenta estudos de caso que fornecem uma visão geral sobre narrativas desinformativas online.

De acordo com o estudo, a guerra de informação sobre as mudanças climáticas se encaixa em dois pilares: são esforços ou para atrasar a descarbonização e combater a crise climática em grande escala ou para semear a divisão e enfraquecer a adesão aos sistemas democráticos liberais. 

No primeiro pilar estão descritas ações para criar confusão sobre a ciência climática e perturbar os esforços legislativos e regulamentares nacionais e multilaterais. Já a segunda narrativa busca enquadrar a ação climática como um pretexto para o excesso ou a tirania do Estado, tentar usar agendas como o Acordo de Paris para aprofundar as tensões geopolíticas e se esforçar para erodir a confiança nas instituições.

Essas estratégias foram vistas nos estudos de caso realizados pela coalizão. O primeiro deles investiga a hashtag #ClimateScam (fraude do clima), muito utilizada para promover conteúdo conspiratório, que nega as mudanças climáticas. Em 2022, a hashtag já havia sido bastante utilizada no Twitter, mas se tornou ainda mais intensa neste ano, com pico em julho. “Analisando os picos de engajamento, os meses de verão parecem ser o período mais popular para o conteúdo #ClimateScam, pelo menos no que diz respeito à contagem de compartilhamentos”, destaca o relatório.

Esse alcance significativo, aponta o estudo, está vinculado a um pequeno grupo de contas que usam a hashtag e possuem um alto engajamento em seu conteúdo. Além disso, é destacado que o #ClimateScam é recomendado como resultado principal e é sugerido no preenchimento automático no campo de pesquisa da plataforma do bilionário Elon Musk.

Na segunda seção, o relatório investigou publicidade em sites e veículos que propagaram alguma informação falsa sobre o clima ou que rejeitam a premissa das alterações climáticas causadas pelo homem. De acordo com o CCAD, esses artigos são rentabilizados através de publicidade, garantindo lucro por meio de desinformação. Para a organização, é necessário mais transparência para que as marcas possam controlar como seus anúncios são posicionados para que não sejam vinculados a tópicos que não se alinham com os valores de sua marca.

O relatório Deny, Deceive, Delay (Vol 3): Climate Information Integrity Ahead of COP28 também apresenta uma investigação sobre como meios de comunicação estatais russos não apresentam mensagens consistentes sobre ciência climática e instrumentalizam estes tópicos para fortalecer as suas campanhas de influência. Por fim, o documento registra o alto volume de anúncios realizados no Facebook por 13 empresas de combustíveis fósseis.

De acordo com relatório, existem pelo menos três ecossistemas distintos envolvidos na desinformação climática: o lobby dos combustíveis fósseis; atores afiliados ao Estado; e aqueles que lucram com a “economia da indignação” online. “Em maior ou menor grau, todos participam e amplificam as narrativas acima descritas e servem para beneficiar da sua proliferação”, registra o documento. 

Os interesses e incentivos desses grupos variam, mas o relatório destaca: “Sejam movidos pelo oportunismo ou pela ideologia, pelos lucros ou pelo ego, os atores em todos os níveis estão explorando com sucesso as redes sociais e outras plataformas digitais para atingir os seus objetivos”.