Com o avanço do debate sobre regulação das plataformas digitais para combate à desinformação, ganha destaque o fortalecimento de uma outra frente de atuação: a da educação midiática. Embora não seja nenhuma novidade, a mudança na forma de consumo de notícias aportou outros desafios à leitura crítica de mídia, já que as novas tecnologias propiciaram o que se denomina de epidemia desinformativa ou infodemia, segundo a Organização Mundial da Saúde. É o caos informacional em que as pessoas estão imersas numa quantidade imensa de notícias e informações e já não conseguem mais discernir o verdadeiro do falso.
Januária Cristina Alves, jornalista e educomunicadora, no ano de 1993, defendeu sua dissertação de mestrado na ECA-USP sobre como usar o jornal em sala de aula, como as crianças viam, liam e também como elas podiam produzir as suas notícias. Para a especialista, no atual contexto de consumo de informação, uma forma fundamental de educação midiática passa por saber como as plataformas digitais funcionam e quais são os interesses econômicos das empresas de tecnologia.
“Além das campanhas informativas, a educação midiática deve ser trabalhada também pelos meios de comunicação, pelas grandes mídias, pelas próprias plataformas, no sentido de serem mais transparentes, de contarem como é que se elabora os conteúdos, de falarem sobre suas ferramentas de busca, seus algoritmos, revelar o que eu chamo de Lado B da notícia, o Lado B da informação”.
Debruçar-se sobre a economia da atenção, fazer com que as pessoas compreendam quais são as finalidades das coletas de dados constituem também aspectos fundamentais na construção de programas de educação midiática que levem em conta a forma contemporânea da produção, circulação e recepção dos conteúdos (des)informativos.
Teresa Brant atua na área de educação midiática desde a década de 90, quando fundou, junto com colegas do curso de Comunicação Social, a ONG Oficina de Imagens – Comunicação e Educação, com foco nos direitos das crianças e dos adolescentes. A especialista informa que a educação midiática possui diferentes vertentes: gestão da comunicação em espaços educativos; mediação tecnológica na educação; expressão educomunicativa por meio da arte; pedagogia da comunicação; produção midiática para educação e reflexão epistemológica sobre o campo da educomunicação.
Das experiências que realizou, Brant ressalta o projeto desenvolvido em parceria com a Rede Minas de Televisão, chamado “Programa Oficina Vídeo Escola”. Depois de conhecer os bastidores, assim como todo o processo de produção audiovisual, os estudantes tinham oficinas de roteiro, produção e edição. O programa, com os vídeos dos estudantes, era veiculado quatro vezes por semana, desenvolvendo as metodologias atualmente conhecidas, como ‘Ativas’ e ‘Sala de aula invertida’.
No contexto do mundo digital e da retomada da educação midiática como central na formação da cidadania, Teresa comemora ao afirmar que “a educação midiática como política pública federal nos permite preparar professores e estudantes para lidar com os novos desafios da mídia”.
Educação midiática já está presente na base curricular nacional
A Base Nacional Curricular Comum (BNCC) é um documento que determina as competências (gerais e específicas), as habilidades e as aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver durante cada etapa da educação básica – Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. A BNCC também determina que essas competências, habilidades e conteúdos devem ser os mesmos, independente de onde as crianças, os adolescentes e os jovens moram ou estudam.
A Base não deve ser vista como um currículo, mas como um conjunto de orientações que irá nortear as equipes pedagógicas na elaboração dos currículos locais. Esse documento deve ser seguido tanto por escolas públicas quanto particulares.
A BNCC define em uma das suas competências gerais, a “Cultura Digital”, que são as aprendizagens relacionadas à Educação Midiática a qual os alunos precisam adquirir ao longo da Educação Básica:
“Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva” (BNCC, 2018).
Além disso, a educação midiática está presente no campo de atuação jornalístico-midiático, que faz parte do componente Língua Portuguesa da BNCC nos Ensinos Fundamental e Médio. Seu objetivo é preparar crianças e jovens para aprender com senso crítico e responsabilidade na Era da Informação, com uma formação focada no protagonismo para fazer escolhas conscientes.
No início de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que instaura a “Política Nacional de Educação Digital” (PNED). A nova política pretende desenvolver competências dos alunos da educação básica para atuação responsável na sociedade conectada e nos ambientes digitais e a promoção de projetos e práticas pedagógicas no domínio da lógica, dos algoritmos, da programação, da ética aplicada ao ambiente digital, do letramento midiático e da cidadania na era digital.
O *desinformante pretende mostrar iniciativas de educação midiática pelo país, de forma a incentivar e inspirar práticas em sala de aula.