Desinformação e fake news são termos que, definitivamente, entraram no vocabulário nos últimos anos. Com a ascensão de campanhas de disseminação de informações falsas e disputas políticas, as palavras estão em cada conversa ou debate, seja pessoalmente ou nas redes digitais. Mas afinal, o que quer dizer cada uma? Há um certo e errado quando a gente vai falar sobre o fenômeno?
O primeiro ponto que precisamos estabelecer é que a mentira sempre existiu, mas os contornos que moldam o fenômeno que vemos são bem atuais e compostos por diversos fatores. O termo fake news também já era usado anteriormente. De acordo com Alex Gelfert, existem registros da nomenclatura ainda no século XIX. Tandoc e outros autores fazem uma retrospectiva de pesquisas acadêmicas já neste século, mas destacam que, até 2015, o termo era usado para se referir a sátiras e paródias.
O que nós entendemos hoje por desinformação ou fake news surge com mais intensidade a partir de 2016. As eleições presidenciais americanas e a campanha do Brexit são marcos nessa história, eventos que foram profundamente marcados pelo envio e compartilhamento de informações falsas.
A partir disso, explodem os estudos acadêmicos sobre a temática e as tentativas de conceituação de um fenômeno que é complexo e multifacetado. Apesar do volume de estudos e proposições, ou apesar do volume, não há necessariamente um consenso acadêmico, mas existem posições bem delimitadas sobre o uso de desinformação ou fake news.
Fake news
Sem dúvidas o termo fake news é o mais utilizado quando pensamos no cenário. A nomenclatura em inglês popularizou-se após o intenso uso do termo pelo ex-presidente americano Donald Trump a partir de 2016, mas que logo foi apropriado por outros atores políticos e pela população em geral.
Para o professor da Universidade Federal da Bahia, Wilson Gomes, o termo é:
(…) uma expressão que se restringe a um tipo específico de informação falsificada para manipular e enganar as pessoas, aquela que só poderia existir em sociedades que se informam, se relacionam e praticamente vivem em extrema conexão digital.
Ou seja, o termo já englobaria essa característica das fake news como fenômeno eminentemente digital. Existe, porém, uma multiplicidade de conceituações. O termo, que até 2015 era mais utilizado em artigos acadêmicos para nomear sátiras e paródias, passa a nomear também conteúdos fabricados que imitam notícias e buscam manipular.
Apesar da quantidade de trabalhos que tentam limitar as definições de fake news, a maioria, de acordo com o pesquisador Alex Gelfert, converge em certo sentido e busca delimitar a nomenclatura destacando três fatores:
- o papel da internet para a sua existência como fenômeno;
- a desconexão com o mundo real;
- a intenção de enganar deliberadamente.
Há pesquisadores, no entanto, que não utilizam (e até são contra) o termo. Geralmente são esse os argumentos utilizados por essa linha de pensamento:
- O termo é simplista e não abrange o fenômeno totalmente;
- Fake news é uma nomenclatura apropriada politicamente e utilizada para atacar a imprensa;
- Não tem como notícias serem falsas, são duas palavras contraditórias.
Desinformação
Existe, portanto, um outro termo também bastante difundido que busca nomear o cenário. ‘Desinformação’ tem sido uma escolha de muitos pesquisadores e veículos de mídia. Alguns compreendem fake news como uma forma de desinformação, colocando esta como um fenômeno mais amplo.
Um dos estudos que defende o termo mais citado é o dos pesquisadores Claire Wardle e Hossein Derakhshan. Eles adotam a ideia de que existe uma desordem da informação formada por informações erradas (misinformation), desinformação (disinformation) e má-informação (mal-information). Neste caso, a desinformação compreende justamente o conceito de informações falsas que são compartilhadas conscientemente. Ou seja, o diferencial estaria na existência ou não de uma intenção de quem compartilha esse tipo de informação. A desinformação se caracterizaria quando a pessoa sabe que está compartilhando uma informação falsa, faz isso conscientemente.
O ecossistema criado pelos autores ainda possui uma multiplicidade de formatos que a informação falsa pode apresentar, como mostra a imagem abaixo traduzida pelo Projeto Credibilidade.
Essa conceituação não é também um consenso. Existe uma outra compreensão de que desinformação significa ‘sem informação’, ou seja, desinformado é aquele que não tem informação. Há, portanto, uma confusão entre a associação do termo ‘desinformação’ com um fenômeno de disseminação de informações falsas ou da completa inexistência de informação.
Há um certo e errado?
Como destacado anteriormente, essa discussão etimológica não é um consenso entre pesquisadores. As duas expressões buscam delimitar um fenômeno multifacetado e atual, ou seja, que vai ganhando novos contornos a cada momento. Portanto, não há uma nomenclatura certa ou errada, mas elas designam coisas diferentes.
Aqui no *desinformante utilizamos mais comumente o termo desinformação, justamente por compreender a complexidade e amplitude do fenômeno, mas não nos furtamos de também utilizar fake news em situações mais específicas ou ao relacionar alguma pesquisa científica.